Palácio da Brejoeira, uma autêntica jóia da coroa
Um palácio do início do século XIX, um bosque desenhado e “construído” um século depois e vinhas de alvarinho nascidas nos anos 1960. Dois séculos de história, mantida viva pela mão de diferentes proprietários, em Monção.
Há quem faça quilómetros para visitar o Palácio da Brejoeira. Mal se atravessa o portão da quinta, à face da estrada que liga Monção a Arcos de Valdevez, percebe-se porquê. Ao fundo, o imponente edifício em granito e em forma de L, com três torreões e desenho típico do início do século XIX, faz-nos viajar no tempo.
A visita ao palácio de estilo neoclássico começa naquele que é hoje o átrio principal, pelo teatro privado que o segundo proprietário, Pedro Araújo, à época presidente da Associação Comercial do Porto, mandou construir no início do século XX.
O Palácio da Brejoeira começou a ser feito em 1806, por Luís Pereira Velho de Moscoso, fidalgo da Casa Real, e “demorou 28 anos” a ser concluído, conta Cláudia Fernandes. A relações públicas explica que a obra “foi condicionada pelas Invasões Francesas” e que “o seu mandatário faleceu antes” de ela terminar. “Quem viria a usufruir do palácio seria o seu filho Simão.” Este faleceu em 1881, sem descendência. O palácio foi herdado por duas famílias de Lisboa e vendido a Pedro Araújo, conselheiro de D. Manuel II.
Por entre salas e salões
Pedro Araújo é o nome que mais vezes se ouve na visita, a par do de Hermínia d’Oliveira Paes, a última proprietária, falecida em 2015. Pedro Araújo electrificou o palácio – “Foi a primeira casa a ter luz na região, seis anos antes de todas as outras” – e fez os mais importantes restauros. Hermínia impulsionou a produção de vinho alvarinho nos anos 1960 e, quando tinha 92 anos, em 2010, abriu o palácio ao enoturismo.
O pai de Hermínia comprou a propriedade a Pedro Araújo para lha oferecer pelo seu 18.º aniversário. Pessoa reservada, Hermínia viveu sempre no palácio, numa ala privada. Não interagia muito com os visitantes e só partilhava histórias do passado com os mais próximos. Algumas dessas histórias foram compiladas no livro Palácio da Brejoeira – Dois séculos de história.
Passado o jardim de Inverno, surgem vários salões decorados com peças únicas e luxuosas, de estilo império e oriental. Na biblioteca, o tecto foi projectado por Marques da Silva. Na sala do rei, um quadro de D. João VI – que autorizou a construção do palácio, mas não chegou conhecê-lo, dada a sua fuga para o Brasil – parece seguir os visitantes com o olhar.
No quarto do rei, oficialmente, só pernoitou o infante D. Afonso. “D. Carlos enviou o irmão para entregar o documento da classificação de monumento nacional. É o único que temos registo de aqui ter dormido”, conta Cláudia Fernandes. No entanto, continua, “era obrigatório”, “as casas grandes tinham de ter um quarto” para o rei.
Vinhos históricos e jardins frondosos
Quem quiser explorar para além do palácio tem de combinar dois programas. O Programa Património corresponde à visita ao palácio. E o Programa Quinta permite passar nas vinhas, na adega e no lago. A quinta tem hoje 28 hectares dentro de muros, 18 dos quais plantados com alvarinho, que é usado em três referências: vinho branco (80 mil garrafas, 19 euros), aguardente vínica velha (mil garrafas numeradas, 99 euros) e aguardente bagaceira (45 euros), feita segundo método ancestral. “O bagaço é destilado húmido em potes de cobre e com fogo.”
O edifício da adega foi construído para ser igreja, mas nunca terá recebido uma celebração religiosa. O palácio tem uma capela, essa sim, lugar de culto religioso, mais ou menos regular até 2010. Aí vemos o símbolo da maçonaria, a que Pedro Araújo pertencia. Será única a sua arquitectura, por causa do varandim, no terceiro anel da torre, onde os criados do palácio podiam assistir à missa.
O Programa Quinta também passa pelas primeiras cepas. Em frente à antiga entrada principal, na ala norte, do outro lado do Jardim das Camélias, fica a Avenida dos Plátanos, que chegou a ter 200 metros, mas ficou mais curta para dar lugar à tal parcela de alvarinho. Três hectares plantados em 1964, que ainda contribuem para o vinho feito pelo enólogo João Garrido. A primeira colheita da marca Palácio da Brejoeira foi 1976.
A visita vale muito a pena pelo frondoso bosque e pelo lago, onde há uma ilha, grutas e uma ponte ao estilo romano, tudo construído artificialmente. No bosque, há plátanos, tílias – que dão origem a infusões várias –, carvalhos, eucaliptos, pinhos, freixos, magnólias e algumas espécies exóticas, como araucárias, cedros-do-atlântico e sequóias.
O Palácio da Brejoeira é hoje gerido por uma sociedade anónima que Hermínia d’Oliveira Paes criou em 1999 com pessoas da sua confiança, entre elas Emílio Magalhães, sócio maioritário e actual administrador. E está à venda. Uma verdadeira jóia da coroa, avaliada em largos milhões de euros.
Palácio da Brejoeira
Pinheiros (Monção)
Tel.: 251666129
Web: palaciodabrejoeira.pt
Todos os dias, das 9h às 12h30 e das 14h às 18h30. Programa Património (7,50 euros) a cada meia hora. E Programa Quinta (5 euros) às 11h e às 16h. Para língua estrangeira, é preciso reservar horário.
Provas a partir de 2,50 euros
Este artigo foi publicado no n.º 4 da revista Singular.