Quinta de Santiago: Tradição e espírito inquieto
Visitar a Quinta de Santiago sabe a privilégio. O anfitrião é o próprio produtor e o visitante mergulha a sério na sua história. À mesa, na antiga adega, ou percorrendo a quinta, com 7,5 hectares de vinha e 150 árvores de fruto, com o rio Minho por perto.
Joana Santiago lembra-se de andar por ali desde sempre, de ser unha e carne com a avó Maria, que geria sozinha uma quinta auto-suficiente, de passar os verões todos na propriedade e de a dada altura se tornar “o seu braço-direito na adega”.
Formou-se em Direito mas, ao fim de dez anos a trabalhar como advogada, cedeu ao seu lado criativo e decidiu mudar de vida. A avó, viticultora que vendia uvas aos produtores da sub-região de Monção e Melgaço e vinho a granel para as tabernas da vila, foi quem lhe sugeriu o óbvio. Se queria criar, porque não criava um projecto de vinhos na quinta da família? Condição única: deveria carregar o nome dos Santiago. “Pensei: Why not? Sempre fui de espírito inquieto e de desafios.”
Naqueles solos franco-argilosos com calhau rolado, Joana queria “replicar o que a avó fazia, porque era uma boa expressão do terroir”, e fazer vinhos sem maquilhagem. O projecto começou em 2009 e as primeiras experiências de vinificação ainda foram feitas com a matriarca, que viria a morrer em 2012. No primeiro ano, na antiga adega, por debaixo da casa, onde hoje os visitantes almoçam. Depois, fora. E a partir de 2014 na actual adega, construída com materiais comprados a empresas locais, em linha com a filosofia de produção sustentável.
Nesse ano, lançaram o primeiro vinho, o Quinta de Santiago Clássico. Em 2018 começaram a explorar a elasticidade do alvarinho e a estudar “novas perspectivas de vinificação”. Dessa filosofia, nasceram a marca Rascunho (uma experiência por ano) e os vinhos Sou, em parceria com Nuno do Ó, e Santiago na Ânfora do Rocim Alvarinho, com a Herdade do Rocim (Alentejo).
“Adoro isto. Tenho o processo criativo, trabalho com a natureza. Tenho o privilégio de poder proporcionar bons momentos aos outros, de conhecer pessoas novas, países novos, experiências novas”, partilha Joana. Ela também recebe os visitantes, tal como a enóloga residente, Márcia Lourenço, mas quem tem a “pasta” do enoturismo é a sua mãe, uma contadora de histórias nata. Arcelina e o marido, Miguel, reformaram-se e mudaram-se para a quinta em 2015. Ele toma conta das finanças e supervisiona a viticultura.
Da vinha até à mesa
A visita começa junto à adega, depois segue até à vinha passando pelo tanque com água de mina, pelo perfumado Caminho das Gloriosas – com jasmim, glicínias e roseiras – e pelo pomar. Junto à casa, os visitantes podem ver a capela e apreciar as camélias que os Santiago plantam sempre que nasce uma mulher na família. O olhar anda entre a natureza e a arquitectura, também ela típica, presente na casa, no espigueiro e em pormenores como as pastas de granito, “que só se vê no Minho”.
Ao almoço, são servidos pratos da região com produtos da horta e do pomar. Quem quiser pode preparar a entrada, feita em forno a lenha com curgetes da horta, alheira de caça e queijo. A esse prato, acrescente-se o cordeiro à moda de Monção, as roscas de alvarinho da Rosqueira – um parceiro local –, o crumble de maçã com sorvete de alvarinho feito na quinta, os vinhos da casa e temos o Minho à mesa. Esta experiência mais completa exige um mínimo de 15 pessoas e custa 55 euros. Para dois, por exemplo, sugerem-se a vitela assada à minhota, o bacalhau à Monção ou o arroz de polvo da avó, que leva rum (45 euros). Em qualquer dos casos, está incluída a visita à vinha e à adega.
Consoante a época do ano, há outras experiências disponíveis: petiscar, fazer um piquenique nas vinhas, participar nas vindimas, praticar yoga entre as vinhas ou pôr os miúdos a conhecer os aromas e a provar… sumo de fruta.
Quinta de Santiago
Rua D. Fernando, 128, Cortes, Mazedo (Monção)
Tel.: 917557883
Visitas por marcação
Esta reportagem foi publicada no n.º 1 da revista Singular. Download disponível aqui.