Reitores e sindicatos esperançados com chegada de Elvira Fortunato ao Governo
Profundo conhecimento do sector e sensibilidade para questões relacionadas com a precariedade do emprego científico são alguns dos aspectos que deixam os representantes do ensino superior com algumas expectativas em relação ao desempenho da futura ministra
Uma escolha “surpreendente”, mas também “uma lufada de ar fresco” e depositária de uma “grande expectativa”. É assim que é vista a escolha da cientista Elvira Fortunato para ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, por parte dos reitores e das estruturas sindicais representantes do sector. A independente, uma das mais reconhecidas investigadoras nacionais, já tem à sua espera um conjunto de reivindicações por parte destes organismos.
António de Sousa Pereira, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), manifestou optimismo quanto à prestação da futura ministra (a tomada de posse do novo Governo está agendada para a próxima quarta-feira), classificando a escolha de António Costa como “surpreendente” e “uma lufada de ar fresco”, em declarações à Lusa.
“É uma escolha surpreendente na medida em que não é um político que é escolhido para o lugar, mas acho que é uma lufada de ar fresco. A professora Elvira Fortunato vai constituir uma equipa para assessorar o exercício das funções e nós cá estaremos para ser parte da solução e não do problema”, disse o presidente do CRUP.
Animado por a futura ministra ter “um conhecimento ímpar da situação da ciência em Portugal”, o também reitor da Universidade do Porto disse acreditar que essa circunstância “pode ter um contributo absolutamente decisivo e diferenciador” na forma como esta área será tratada na próxima legislatura. “[Esta escolha] pode representar uma ruptura com aquilo que era o passado recente, e pode ser um ponto muito importante para que se tomem medidas que sejam também de ruptura com o passado e que permitam resolver alguns dos problemas que o sector enfrente desde há muitos anos”, referiu.
Entre eles estão, à cabeça, problemas de financiamento do ensino superior e também a precariedade associada ao emprego científico. António de Sousa Pereira adianta que assim que a equipa de Elvira Fortunato estiver constituída e em funções será convidada pelo CRUP para “uma reunião para ouvir ideias e discutir o futuro”.
Do lado dos sindicatos também há sinais de alguma esperança no futuro. A presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESUP), Mariana Gaio Alves, já disse ter “grande expectativa” em relação ao trabalho que Elvira Fortunato irá desenvolver, sobretudo no que diz respeito a “mudanças de políticas do ministério”.
Par a o SNESUP é essencial que a nova ministra encerre temas que ficaram por concretizar, nomeadamente “a regulamentação para o ensino superior privado, os estatutos das carreiras docentes das universidades e politécnicos”.
Emprego e financiamento no topo das preocupações
Contratações precárias e “subfinanciamento estatal” do sector são também problemas identificados por este sindicato, que alerta: “Há dificuldade em estabilizar os investigadores e por vezes é preciso um tempo longo para haver investigação com resultados”.
Mais comedida no entusiasmo, a presidente da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), Bárbara Carvalho, disse à Lusa que “mais do que a nomeação da professora Elvira Fortunato, o importante é que tipo de políticas públicas serão seguidas”. “A luta da ABIC é o combate à precariedade, a integração dos investigadores nas carreiras, a dignificação das carreiras e o fim da ciência a prazo, que prevalece enquanto cultura”, afirmou.
Bárbara Carvalho admitiu que o programa do novo governo deverá ser de continuidade, mas a ABIC “espera que o novo ministério tenha como prioridade essas reivindicações”, sobretudo “a revogação do estatuto do bolseiro e a substituição das bolsas por contratos de trabalho”.
Mudar políticas na área do emprego e investir são, portanto, as duas grandes áreas com que Elvira Fortunato deverá ser confrontada logo nos primeiros dias de mandato. O presidente do CRUP lembra, nas declarações à Lusa, que o ensino superior “tem hoje níveis de financiamento que são cerca de 25% inferiores aos que tinha em 2009". E deixa um aviso: “Se queremos ser um país competitivo, se queremos ter inovação que nos aproxime da média europeia e que faça com que Portugal produza cada vez mais produtos de valor acrescentado isto implica investir não só em ciência, mas no ensino superior como um todo.”
Sobre o emprego precário na área científica as palavras dirigidas à ministra são também de exigência, mas alguma esperança: “Precisa de ser resolvido de uma vez por todas, porque há pessoas que têm as suas vidas suspensas e precisam de ter as suas situações resolvidas. Estou certo de que a professora Elvira Fortunato terá uma particular sensibilidade para isso”.