A Loja das Meias foi uma das primeiras lojas em Portugal a comercializar as grandes marcas de luxo internacionais. Com lojas em Lisboa e em Cascais, estreia-se agora no Porto. Uma necessidade sentida pela marca, já que tinha clientes no Norte que iam propositadamente a Lisboa, justifica Pedro Miguel Costa, director-geral, ao PÚBLICO. Depois de 120 anos de existência, esta continua a ser uma empresa familiar.
“Não é a primeira vez que pensamos abrir uma loja no Porto, mas é a primeira vez que conseguimos tornar este projecto possível”, revela. Foi necessário considerar a localização, tendo a Galleria, a zona premium do Norteshopping, em Matosinhos, cumprido com os “requisitos de ADN” da marca. O responsável avança ainda que, sendo esta uma empresa familiar, agora tem “alguém da família” que pode acompanhar o arranque do projecto no Norte.
Apesar de ter uma identidade marcada pelas raízes lisboetas, a Loja das Meias quis não só criar um espaço que reflectisse a sua filosofia, mas também um em que as pessoas do Porto se sentissem em casa. Assim, com o trabalho do gabinete de arquitectos G4, surge um espaço que procura “criar uma associação muito grande à cidade”. Foram consideradas as formas “dos afluentes do rio Douro” e os socalcos “com a parte toda da vinha e do grande prestígio que isso tem”. No que toca às cores, foi usado o prateado “que é o pôr-do-sol e o reflexo do Sol na água do rio e nas encostas de xisto”, o azul “porque o Porto está banhado junto ao Oceano Atlântico” e, por último, o cor-de-rosa “das camélias” — o director-geral acrescenta que, quando os arquitectos estiveram na cidade a fazer um levantamento dos seus ícones, todas as camélias estavam em flor, o que os deixou “deslumbrados” e decididos a reproduzi-lo no conceito do espaço.
A sustentabilidade não foi esquecida e, actualmente, há uma preocupação em escolher marcas que sejam sustentáveis. Afinal, este é um “novo ciclo da vivência das pessoas”, que a empresa respeita. E, ainda com a perspectiva de inovação, a loja apresenta traços digitais com a inclusão de um painel touchscreen. Pedro Maria Costa, responsável pela vertente digital e a cara da geração mais jovem da família, explica que esta novidade surge para responder ao espírito da era tecnológica, concedendo “acesso directo ao e-commerce” para que “os clientes que estejam na loja consigam não só optar por escolher um produto fisicamente, mas também ver o que há no universo online”.
Sempre “em casa”
Manuela Saldanha, directora de marketing, conta que a digitalização “era um projecto que existia antes” mas que foi impulsionado pela pandemia. A responsável encara o digital como uma “oportunidade única”, não só pela divulgação e distribuição conseguida através do site, mas pela melhoria da comunicação com os clientes.
Na mesma linha, Pedro Maria Costa refere que esta mudança é importante para “transmitir uma identidade de moda e de novidade aos clientes”. O responsável pelo digital defende que “da mesma maneira que a moda evolui artisticamente e de uma forma muito fervorosa, os processos também estão constantemente a evoluir”, por isso, a empresa tem de acompanhar essas mudanças. “A digitalização é bestial, porque efectivamente facilita-nos muito o trabalho”, admite.
Há cinco gerações que a Loja das Meias se mantém na mesma família e que aspira incutir um sentimento de proximidade e de “casa” aos seus clientes. Quando abriu, tal como o nome indica, vendia collants, vindos dos EUA, depois foi alargando o seu leque de produtos e entrando no pronto-a-vestir. Pedro Miguel Costa acredita que com esse tipo de abordagem há um “espírito de entrega completamente diferente”. E explica: “Faz com que a constância, a permanência e a manutenção destes valores e a humanização, o estarmos próximo dos clientes, se mantenha de geração em geração.”
Se quando abriu, a loja multimarcas foi uma novidade no país, com o passar do tempo e a evolução do comércio e da oferta, a Loja das Meias foi conseguindo resistir. Este tem sido um “desafio constante, mas também apaixonante”, diz Manuela Saldanha, irmã de Pedro Miguel Costa. Nesse sentido, diz que o essencial é “estar sempre com muita atenção ao mercado” e à sua evolução. “Olhar para todos os desafios e aproveitá-los”. Na sua perspectiva, as dificuldades motivam a empresa a acompanhar os tempos: “Permite contactar com novas ideias. E muitas vezes bebermos nestas inspirações, nestas novas tendências, é que faz com que uma empresa avance, siga o seu caminho, se renove, se torne mais jovem, seja mais inovadora.”
Sobre o futuro, espera-se poder preservar a identidade da Loja das Meias, que para Pedro Miguel Costa se trata de uma “instituição”. Afinal, “empresas que vão na quinta geração, não há muitas no mundo inteiro”, diz com orgulho. Por isso, espera que a marca se continue a renovar. “Mesmo já tendo, eu e as minhas irmãs, 40 anos de experiência, de história e de trabalho dentro da empresa, temos a consciência de que não sabemos nada. Todos os dias aprendemos. E é esta cultura que permite à Loja das Meias continuar.” Manuela Saldanha conclui: “Mais que uma loja multimarcas, somos uma marca de moda também. [Queremos] que as pessoas identifiquem a Loja das Meias, que venham porque sabem que vão encontrar moda.”
Texto editado por Bárbara Wong