O Bloco de Esquerda a perceber o que custa a vida
Basta recuar no tempo e recordaremos como reagia Catarina Martins a vários despedimentos de muitas empresas. Agora, que a desgraça lhe bateu a porta, a direção do Bloco é clara: não fala em público sobre problemas internos do partido
Por vezes é preciso que a desgraça nos bata à porta para percebermos algumas coisas da vida. Foi nada mais nada menos o que aconteceu ao Bloco de Esquerda depois ver substancialmente reduzida a subvenção do Estado pelo fraco resultado obtido nas eleições legislativas. Com graves dificuldades económicas, o Bloco fecha algumas sedes e despede trabalhadores.
Ora, o que o Bloco decidiu fazer é exactamente aquilo que na verdade se chama de contenção de custos e de gestão dos meios financeiros ao dispor. Ou seja, parece que Catarina Martins percebe afinal de economia de mercado, e o que pretende fazer no seu partido é da mais elementar racionalidade económica.
No entanto há outra verdade. É sobre essa mesma verdade que devemos reflectir a fim de aferir a seriedade política do Bloco de Esquerda.
Em plena crise pandémica e com graves problemas financeiros, muitas empresas foram obrigadas a efetuar despedimentos. Depressa, os dirigentes bloquistas vieram a terreiro com um discurso de ódio à classe patronal como se fosse agradável despedir ou como se houvesse outra solução eficaz e razoável do ponto de vista da sustentabilidade e viabilização empresarial, senão aquela que as empresas ainda hoje, infelizmente, são obrigadas a tomar da mesma maneira que o Bloco se prepara para fazer na sua organização partidária.
Basta recuar no tempo, que não é assim tão distante quanto isso, e recordaremos como reagia Catarina Martins a vários despedimentos de muitas empresas que estavam, e ainda estão, a viver momentos de aflição. Agora, que a desgraça lhe bateu a porta, a direção do Bloco é clara: não fala em público sobre problemas internos do partido, no entanto o Bloco encheu páginas de jornais e noticiário a debitar lições de grande moralidade a vários empresários portugueses. Hoje, sabemos o que faz o Bloco com o seu discurso.
Todas as organizações, sejam elas que natureza tiverem, terão um ponto em comum: dinheiro. É preciso dinheiro para fazer face a todos custos e sem ele, pouca coisa haverá a fazer. É com este cenário, real e verdadeiro do dia a dia de todas as micro empresas em Portugal (que são a grande parte do tecido empresarial português) com o qual se vêm confrontados.
O Bloco, infelizmente para os seus trabalhadores, já percebeu que é assim que tudo funciona. Não há volta a dar.
Já fui mediador de muitos despedimentos e como é óbvio não é um papel fácil nem é de todo agradável, mas perante o discurso de várias Catarinas que por aí andam, eu e outros como eu, somos uma malandragem que só se preocupa com o lucro.
A nossa fragilidade económica, como se viu na crise pandémica e como se adivinha no conflito a que todos assistimos, gerará por certo uma recessão económica bastante mais grave que a anterior. A consequência já todos a conhecemos. Socialmente poderá vir aí um dos momentos mais críticos a nível europeu e à qual o nosso país por certo não escapará.
Por várias razões, sejam elas passadas, presentes ou futuras, veremos como se comporta e discursa o Bloco de Esquerda daqui adiante depois da lição de gestão que recebeu. No final desta história, resta saber se o Bloco está arrependido das propostas que fez no âmbito do Orçamento do Estado para 2022 no que concerne ao aumento da compensação por cessação de contratos de trabalho para 24 dias por ano, ou se por outro está aliviado por o Orçamento chumbar.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico