Com o mercado à espera do default, Rússia passa a bola aos EUA
O ministro das Finanças russo adianta que o reembolso de dívida de 117 milhões de dólares já foi feito, mas em rublos. “A bola está no campo das autoridades norte-americanas”, diz.
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A entrada da Rússia em default pode estar iminente. Com as contas de divisas estrangeiras do banco central russo congeladas, o país vê-se obrigado a pagar em rublos uma dívida de 117 milhões de dólares, uma operação que, se não for aceite pelos credores, levará a Rússia a entrar em incumprimento. O pagamento, assegura o Governo russo, está feito; agora, basta que as autoridades norte-americanas o aceitem. Pelo meio, Vladimir Putin acusa o Ocidente de impor propositadamente este default à Rússia e garante que não irá recuar perante as sanções económicas e financeiras a que o país tem sido sujeito.
Em causa está o pagamento de 117 milhões de dólares, relativos aos juros de duas emissões de dívida realizadas pela Rússia em 2013, cujo prazo para amortização termina esta quarta-feira. É um montante pouco relevante, que o governo russo assegura ter condições para pagar. Mas faltam os meios para que possa fazê-lo: esta dívida é denominada em dólares e é nessa moeda que tem de ser reembolsada; contudo, as reservas de moeda estrangeira detidas pela Rússia fora do país estão congeladas devido às sanções financeiras de que foi alvo, pelo que não consegue realizar o pagamento em dólares.
Para contornar esse cenário, a Rússia avançou que o pagamento poderia ter de ser feito em rublos, divisa que se tem desvalorizado a pique desde o início da guerra na Ucrânia. Mas o pagamento em rublos de uma dívida em dólares será, provavelmente, visto como um incumprimento dessa dívida.
Esta quarta-feira, o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, garante mesmo que o pagamento já foi feito em rublos e que, agora, cabe às autoridades norte-americanas decidir se aceitam esta operação. “A capacidade ou incapacidade de cumprir com as nossas obrigações em moeda estrangeira não depende de nós. Temos o dinheiro, fizemos o pagamento e, agora, a bola está no campo das autoridades norte-americanas”, afirmou o governante russo, em entrevista à RT Arabic, citado pela Reuters. O pagamento, acrescentou, já chegou ao banco norte-americano. “Neste momento, está a ser processado e não temos indicação sobre se foi aceite ou não”, detalhou.
Do lado dos detentores desta dívida, existe, para já, a garantia de que o dinheiro não chegou. À Reuters, um dos credores da Rússia, que optou por manter o anonimato, afirmou que ainda não recebeu o pagamento em causa e que não é claro que o mesmo venha a acontecer.
Se a operação falhar, a Rússia tem um período de tolerância de 30 dias, até 15 de Abril, para concluir o reembolso. Só no final desse prazo é que poderá ser declarado, formalmente, o incumprimento de dívida internacional por parte da Rússia, que, a acontecer, será o primeiro desde 1917.
Mas o mercado já parece assumir que esse poderá ser o desfecho desta operação. Esta semana, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, reconheceu que “um default não é um evento improvável”, uma vez que “a Rússia tem dinheiro para pagar a sua dívida, mas não tem acesso ao mesmo”. Esta terça-feira, também a Fitch antecipou o mesmo cenário, mas para o sistema bancário, ao cortar o rating de 31 bancos russos, por considerar ser “provável algum tipo de incumprimento” de dívida internacional por parte destas instituições. Na Europa, como revelou o ministro das Finanças português após a reunião do Ecofin esta semana, também “há a expectativa de que a Rússia possa entrar em default nas próximas semanas”.
Mesmo o presidente russo já dá sinais de admitir o default. Num discurso dirigido ao governo russo, transmitido pela televisão nacional, Vladimir Putin afirmou que “o Ocidente, efectivamente, declarou a Rússia em incumprimento” como parte das sanções devido à guerra na Ucrânia. “O Ocidente nem sequer procura esconder o facto de que o seu objectivo é penalizar toda a economia russa, cada cidadão russo”, disse, citado pela Reuters, garantindo ainda que o banco central russo não precisará de imprimir dinheiro. “A nossa economia e os nossos negócios têm todos os recursos necessários para cumprir as metas”, afirmou.