Museu Hermitage pede devolução de obras de arte emprestadas a museus e galerias europeias
O Hermitage em São Petersburgo, Rússia, quer devolução até ao fim deste mês de Março.
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Depois de o Reino Unido, a Espanha, a França e a Áustria anunciarem que retiravam as obras de arte cedidas ao Museu do Kremlin para a exposição The Duel - From Trial by Combat to a Noble Crime, é a vez do Museu Hermitage de São Petersburgo vir reclamar peças cedidas a museus e galerias de arte de Milão e Roma.
A notícia foi avançada pelo diário The Guardian e dá conta de uma carta escrita pelo director do Hermitage, Mikhail Piotrovsky, às instituições italianas: “Todas as peças devem regressar à Rússia. O Hermitage é um museu estatal e na dependência da tutela do Ministério da Cultura russo”, escreve Angela Giuffrida no diário britânico.
Entre as obras contam-se uma escultura de Antonio Canova; o óleo Retrato de jovem mulher com chapéu de penas do mestre da escola veneziana do Renascimento Ticiano, e Jovem mulher com velho de perfil, de Giovanni Cariani, que estavam emprestados ao Palácio Real de Milão. O Hermitage quer que as peças lhe sejam devolvidas até ao fim deste mês de Março. À Reuters, o director do museu italiano, Domenico Piraina, disse que a obra de Ticiano é sem dúvida muito importante para a exposição Ticiano e a imagem das mulheres no século XVI em Veneza, mas a exposição continuará bem sem ela até 5 de Junho, data marcada para o seu encerramento. “Quando li a carta [do Hermitage] senti amargura porque a cultura deve ser protegida da guerra mas estes são tempos difíceis”, acrescentou à agência Reuters.
Há também um retrato de uma jovem mulher, de Picasso, que está em exibição na Fundação Fendi, em Roma, segundo o jornal La Stampa, e 22 peças na exposição Grande tour: sonhos de Itália, de Veneza a Pompeia, na Gallerie d’Italia, que pertencem a museus russos e irão ser devolvidos.
Na Fundação Fendi, a presidente e o seu director artístico, Raffaele Curi, assinam uma carta ao Presidente Putin que está disponível no site: “Jacques Jaujard, director do Museu do Louvre em 1938, vésperas da Segunda Guerra Mundial, começou a planear a retirada de Mona Lisa e de todo o património artístico de França. Foi nesta imagem que pensámos quando fomos surpreendidos com a notícia do regresso do quadro de Picasso ao Hermitage. Em momentos delicados como estes, onde incertezas, paixões e medos se entrelaçam num simulacro que nunca mais queríamos viver, o poder ancestral e salvador da beleza começa a esgotar-se perante o domínio angustiante de um futuro, que já não futurista porque se tornou real. Ou quase real. Presidente Putin, nunca estamos preparados para o sofrimento, mesmo que não se tenha medo de tempos difíceis.”
À Artnet News, o museu londrino Victoria & Albert, cuja exposição Fabergé em Londres: Do romance à revolução mostra três peças do Hermitage - incluindo o famoso ovo-relógio de Rothschild Fabergé, doado ao Hermitage em 2014 -, disse que ainda não tinham recebido nenhum pedido do ministério da Cultura russo para que as obras emprestadas fossem devolvidas. Mas a National Gallery, também em Londres, já não vai incluir obras da colecção do Hermitage que iam ser cedidas para a exposição que estão a preparar sobre Rafael para Abril.