Oligarcas russos saem de cena no Guggenheim e na Royal Academy
Vladimir Potamin, um dos homens mais ricos da Rússia, abandonou quarta-feira a posição no conselho de administração do Guggenheim, em Nova Iorque. Um dia antes, Petr Aven, dono do mais banco comercial russo, fizera o mesmo na Royal Academy, em Londres.
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No seu discurso sobre o Estado da União de terça-feira, o presidente norte-americano, Joe Biden, disse “basta” aos “oligarcas russos e líderes corruptos” do país de Vladimir Putin e anunciou a criação de uma equipa dedicada a investigar os seus crimes. Um dia depois, Vladimir Potanin, um dos homens mais ricos da Rússia, oligarca que investiu vastos milhões em instituições artísticas americanas, abandonava a sua posição no conselho de administração do Guggenheim, em Nova Iorque. Do outro lado do Atlântico, em Londres, Petr Aven, que dirige o Alfa Bank, o maior banco comercial russo, abandonara 24 horas antes a sua posição na Royal Academy of Arts.
Da noite para o dia, a invasão russa da Ucrânia tornou tóxica qualquer associação aos oligarcas que durante anos e anos investiram quantias milionárias em instituições artísticas no Ocidente. Em 2005, Potanin passeava pelas salas do Guggenheim, orgulhoso do que o seu dinheiro ajudara a concretizar: uma exposição dedicada a 800 anos de arte russa, intitulada Russia!, que teve como orador, na inauguração, o próprio Vladimir Putin. Generoso financiador, não só do Guggenheim como também do Kennedy Center, em Washington — que inscreveu o seu nome numa das paredes como forma de agradecimento e baptizou uma sala, construída com o seu dinheiro, como Russian Lounge —, este mecenas enriqueceu, como a maioria dos oligarcas russos, na vaga de privatizações de empresas estatais que se seguiu à queda da União Soviética.
Próximo de Putin – foi um dos presentes na reunião convocada pelo presidente russo, dias após a invasão da Ucrânia, com os maiores oligarcas do país —, Potanin integra desde 2003 o conselho de administração do Hermitage, em São Petersburgo. Esta quarta-feira, um comunicado do Guggenheim dava conta da sua saída, a seu pedido e “com efeitos imediatos”, pondo fim a uma relação que contava já 20 anos. A exposição actualmente patente no museu, uma retrospectiva de Wassily Kandinsky, foi por ele financiada.
Petr Aven, por sua vez, cessou na terça-feira as funções que desempenhava no conselho de administração da Royal Academy of Arts londrina. Denunciado na lista de cidadãos russos a ser alvo de sanções elaborada pela União Europeia como “um dos oligarcas mais próximos de Putin” e descrito como alguém “que não age com independência das exigências do presidente”, Petr Aven adquiriu ao longo dos anos uma vasta colecção de arte, chegando mesmo a emprestar algumas das suas obras a instituições como o MoMA, em Nova Iorque, ou a Tate, em Londres. Segundo o Arts Newspaper, Aven planeava construir um museu em Riga, capital da Letónia, para acolher a sua colecção, desejo que, tendo em conta a situação actual, parece de difícil concretização. No momento em que anunciou a saída de Aven, a Royal Academy of Arts informou igualmente que procederá à devolução do donativo dado que o oligarca concedera a Francis Bacon: Man and Beast, a exposição actualmente patente na instituição londrina.
Também a Tate Modern começou na semana passada a ser questionada pela sua associação a outro oligarca russo, Viktor F. Vekselberg. Alvo de sanções dos Estados Unidos desde 2018, Vekselberg surge listado como membro da Tate Foundation, em reconhecimento por doações feitas no passado. Em comunicado enviado à Artnet News, a Tate declarou não existir actualmente qualquer ligação da instituição a Vekselberg, explicando que as doações foram feitas entre 2013 e 2015 e que o seu título como membro da Tate Foundation é meramente honorário.