Empresas portuguesas na Ucrânia dão prioridade ao apoio humanitário

Parfois, Fapomed e Logoplaste procuram ajudar portugueses na Ucrânia, ao passo que a Corticeira Amorim acompanha trabalhadores na Rússia.

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A Fapomed tem unidades em Portugal e na Ucrânia. Esta última foi indicada pelo MNE como ponto de concentração para os portugueses que queiram sair pela fronteira terrestre com a Polónia FAPOMED/YouTube

É muito cedo para perceber que impacto terá a invasão da Ucrânia pela Rússia nos interesses económicos de empresas portuguesas, pelo que a urgência está de momento na questão humanitária e menos no aspecto económico. Em síntese, esta é a preocupação de empresas nacionais que têm negócios na Ucrânia, como a Parfois, que tem oito lojas naquele país, nomeadamente na capital Kiev (seis), Odessa e Kharkov.

Em declarações ao PÚBLICO, a equipa de gestão desta empresa portuguesa afirma que “a situação da Parfois no país era totalmente estável até ao momento de explosão da guerra”. “Nestes momentos, mediante um panorama de tal gravidade será prematuro detalhar os próximos passos ao nível da operação, a empresa está atenta ao desenrolar dos acontecimentos e à situação humanitária.”

Apreensão é o sentimento na Corticeira Amorim, que mantém relações comerciais quer com a Ucrânia, quer com a Rússia. Ao PÚBLICO, a administração diz que acompanha “atentamente nesta altura, e com evidente apreensão, o evoluir do cenário naquela zona do globo”. E, embora se tema desde já impactos económicos até pela via da desvalorização do rublo, a prioridade é apoiar quem trabalha para o grupo naqueles países.

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A corticeira Amorim estima impactos no negócio na Rússia mas de momento está focada em ajudar trabalhadores que estão na Rússia Nelson Garrido (Arquivo)

“Neste momento, e mais do que qualquer atenção ao negócio, a nossa preocupação está centrada na segurança das pessoas. Temos acompanhado, o mais de perto quanto possível, a situação de cada colaborador, nomeadamente, no território russo onde temos presença física. Também mantemos estreito contacto com os nossos clientes, nomeadamente, no território ucraniano”, garante a empresa, dando conta de que “as notícias que chegam relatam grandes êxodos das principais cidades da Ucrânia”.

A cortiça é a principal fonte de receita nas exportações portuguesas de bens quer para a Rússia quer para a Ucrânia. “A forte desvalorização do rublo é certamente algo que poderá impactar a nossa actividade num curto prazo”, estima a administração desta corticeira.

Apoio aos que querem sair

Apoio aos portugueses que queiram sair do país é o que envolve a fábrica ucraniana da Fapomed, empresa do sector têxtil de Felgueiras, que tem uma unidade industrial em Hoshcha, a cerca de 300 km da capital ucraniana e que é um dos pontos de concentração organizados pela embaixada de Portugal na Ucrânia.

Esta fábrica abriu em 2010, segundo a história registada no site da Fapomed. Fica a uns 200 km a leste da fronteira ucraniana com a Polónia. No Portal Diplomático, o Ministério dos Negócios Estrangeiros aponta para esta unidade aconselhando “os cidadãos portugueses a que saiam da Ucrânia através das fronteiras terrestres com a União Europeia, preferencialmente na direcção da Polónia e da Roménia”. Por isso, “em caso de necessidade”, estes cidadãos poderão utilizar a fábrica da Fapomed ou o Hotel Tamerlan (no sul, mais perto da fronteira com a Roménia).

A Fapomed produz dispositivos médicos de uso único, como batas cirúrgicas, campos operatórios, pacotes cirúrgicos personalizados e equipamentos de protecção individual – fatos e acessórios de protecção. Nasceu em 1986, sob a batuta de Orlando Lopes da Cunha, tendo mudado a sua especialização de confecção (calças e camisas) para os dispositivos médicos. Tem duas unidades em Portugal (Felgueiras e Baião), clientes em mais de 30 países, produzindo marcas próprias e para outras marcas.

A gestão actual está entregue ao filho do fundador, Miguel Cunha. Emprega 200 pessoas em Portugal e 300 pessoas na Ucrânia, segundo números avançados pelo jornal Eco. De acordo com a AICEP, é uma das quatro empresas portuguesas com investimento na Ucrânia, a par da já citada Parfois, da Martifer e da Voltalia Portugal, uma empresa de origem francesa dedicada às energias renováveis.

Adiantar salários

Em Kiev, há também uma fábrica da portuguesa Logoplaste, cuja preocupação imediata foi a protecção dos seus 16 trabalhadores. Ao Jornal de Negócios, o presidente do conselho de administração, Filipe de Botton, disse que a prioridade é “ajudar os colegas que trabalham há mais de dez anos connosco e que se encontram fechadas em casa numa zona de guerra”.

“A prioridade número 1 foi ver como podíamos fazer com que recebessem três meses de ordenado adiantado para poderem suprir todas as necessidades. Ao mesmo tempo, pusemos a possibilidade de irem para a Polónia, onde também temos fábricas e os poderíamos facilmente acolher. O problema é que, agora, estão impedidos de abandonar quer a cidade, quer o país”, disse o gestor.

Portugal tem 374 empresas exportadoras para a Ucrânia. Papel e cartão que pesam nas receitas. A Navigator, contactada pelo PÚBLICO, prefere manter o silêncio. “Não temos por hábito fazer comentários sobre o que se passa nos 130 mercados para onde exportamos os nossos produtos”, diz a administração, por escrito.

O vinho é a terceiro fonte de receita nas vendas à Ucrânia. Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, que gere a marca Wines of Portugal e promove o vinho português no plano internacional, assume estar “apreensivo”.

Em declarações ao Jornal de Negócios, o mesmo responsável destaca o peso relevante que o mercado russo tem nas exportações portuguesas (35 milhões no ano passado), pelo que a perspectiva de sanções económicas contra a Rússia é motivo de preocupação. Para a Ucrânia, as vendas foram mais baixas (três milhões), mas era um mercado em crescimento. Estavam previstas acções de promoção em Moscovo (Maio) e Kiev (Junho), segundo a mesma fonte.

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