“Escrevo pelo prazer de desaparecer. É a minha forma de transparência. Todos nós já alguma vez quisemos ser invisíveis”, afirma em Mortal e Rosa, o escritor e cronista espanhol Francisco Umbral (1935- 2007), prémio Cervantes em 2000. “O filho é um relâmpago de futuro que nos deslumbra por um instante. Por ele, pelo meu filho, vi mais além, mais fundo e mais longe, e talvez, aí, isso me baste”.
Este longo monólogo onde evoca a morte do filho (aos seis anos com uma leucemia), foi traduzido em Portugal por Carlos Vaz Marques e teve uma primeira edição em 2003 na Campo das Letras. Está de novo nas livrarias, numa edição da Tinta-da-china, com um posfácio e notas do tradutor que, como jornalista, foi entrevistar Francisco Umbral a sua casa, nos arredores de Madrid, depois da atribuição do Prémio Cervantes.
“Mortal e Rosa é a morte do filho e, mais do que isso, uma mundividência desesperada que decorre dessa tragédia, entendida não apenas como tragédia pessoal, existencial, mas como tragédia universal, cósmica, definitiva. Nada faz sentido depois disto e se nada faz sentido há que inventar sentidos mínimos, funcionais, numa pantomima de esperança que, sendo máscara, disfarce a verdadeira face do esqueleto que todos trazemos por dentro”, lê-se nesse posfácio intitulado O fantasma do Señor Umbral.
Foi no início dos anos 1980, durante uma viagem a Barcelona, que Carlos Vaz Marques comprou por acaso uma das obras do autor espanhol. “Nesse tempo, eu ainda nada sabia acerca do autor. Nunca lhe tinha ouvido o nome, não tinha respeito dele qualquer referência e foi apenas o facto de ter muito pouco dinheiro na algibeira e de me ter deparado com uma edição de bolso em saldo, numa feira do livro de rua, que me fez pegar nela e lê-la na viagem de comboio, de regresso a Lisboa”, conta em O fantasma do Señor Umbral.
Foi também esse o nome que Carlos Vaz Marques deu à sessão de lançamento de Mortal e Rosa, na quarta-feira, que aconteceu no festival literário Correntes d’Escritas na Póvoa de Varzim. A sessão, tal como outras conferências que estão a decorrer naquela cidade até sábado, está disponível no YouTube da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim. Aqui fica o link.
Mortal e Rosa
Autoria: Francisco Umbral
Editora Tinta-da-china
224 págs., 17,90€
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Podem assistir também ao lançamento de A Última Curva do Caminho, de Manuel Jorge Marmelo (Porto Editora) e de O Crespos, de Adolfo Luxúria Canibal (Porto Editora) que decorreu hoje no Correntes d'Escritas. Aqui fica o link.
Outros lançamentos estão agendados para o festival a decorrer esta semana na Póvoa de Varzim.
Na sexta-feira, às 15h30, terá lugar o lançamento de Os beijos, o novo romance do escritor espanhol Manuel Vilas, que estará presente no Correntes d’Escritas. É autor do romance Em tudo havia beleza. Em 2019, o escritor espanhol conversou com o crítico literário José Riço Direitinho sobre este romance que foi considerado em Espanha um dos melhores de 2018 e venceu o Prémio Femina Estrangeiro.
Sexta-feira, às 16h15, acontece o lançamento de Um cão deitado à fossa, de Carla Pais, romance que em 2018 venceu o Prémio Literário Cidade de Almada.
Neste sábado, também no Correntes d'Escritas, na Póvoa, vai ser entregue à escritora Luísa Costa Gomes o Prémio Casino da Póvoa pelo seu livro de contos Afastar-se.
Afastar-se
Autoria: Luísa Costa Gomes
Editora: D. Quixote
224 págs., 15,90 €
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“Fui coleccionando ao longo de mais de cinco anos contos que de uma maneira ou de outra metem água. Ela está sempre presente, doce, clorada, salgada, mais larga ou mais discreta, no oceano aberto onde se experimenta o abandono e a sobrevivência, no duche redentor que muda em narrativa irónica uma experiência de quase morte, na saliva que prepara a cinza, na piscina adorada que é meio de transmutação alquímica. Será esta colecção, talvez, em arco abrangente, uma reconciliação pela água: um livro termal, se quiserdes”, escreve a própria autora a propósito deste Afastar-se, editado pela Dom Quixote. No Leituras podem ler uma crítica a este livro.
“Não há racionalidade para a guerra”, disse o psicólogo, linguista e investigador canadiano Steven Pinker numa entrevista que deu a Ivo Neto, publicada no P2 de domingo, a propósito do seu mais recente livro Racionalidade - O que é, porque parece rara e porque importa. “Por norma leva a mais destruição do que aquela que pode evitar. A teoria dos jogos é uma ferramenta importante para percebermos a racionalidade. Demonstra que duas partes, cada uma perseguindo o que acha ser melhor para si, podem, na verdade, ter um resultado que é trágico para os dois lados."
Racionalidade - O que é, porque parece rara e porque importa
Autoria: Steven Pinker
Tradução: Pedro Elói Duarte
Editora: Presença
328 págs., 17,91€
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Amanhã, no Ípsilon, podem ler também uma entrevista que Teresa de Sousa fez a Kati Marton, a autora de A Chanceler- A Notável Odisseia de Angela Merkel (ed. Desassossego).
Até para a semana. Boas leituras.