Russos, ucranianos, moldavos, bielorrussos e portugueses gritaram “não à guerra” em Lisboa
Protesto foi convocado por membros da comunidade russa em Portugal e decorreu nos Restauradores, em Lisboa. Os ucranianos choraram pelo seu país.
Natalia não conseguiu segurar as lágrimas quando lembrou os dois filhos que deixou na Ucrânia quando, há quatro anos, veio trabalhar para Portugal. “Choro pelo meu povo e rezo por todos, mas em especial pelos meus filhos que agora estão em risco na Ucrânia”, afirmou. Natalia Rogalevych foi uma das duzentas pessoas que nesta quinta-feira participaram num protesto, na alfacinha Praça dos Restauradores. A cidadã ucraniana não foi a única que chorou no encontro convocado por membros da comunidade russa em Portugal. As lágrimas correram em muitos rostos.
Não foram apenas russos e ucranianos que participaram no protesto. Por lá passaram também cidadãos moldavos, bielorrussos e portugueses que a uma só voz gritaram “parem o Putin” e “não à guerra”.
Uma enorme tarja avisava: “Putin não vai parar na Ucrânia”. Esta foi, aliás, uma das palavras de ordem que marcaram o protesto.
O russo Maxim Pisarenko foi um dos organizadores. “É bom que tenham vindo pessoas de várias nacionalidades. É sinal de que estamos todos unidos contra esta loucura do Putin. Temos todos de dar as mãos para travar esta estúpida guerra”, afirmou ao PÚBLICO.
Pisarenko, 35 anos, um engenheiro de sistemas que há dois anos trabalha em Portugal, tinha casamento marcado para o final do mês de Março. A presença dos seus familiares que vivem na Rússia já estava agendada. Agora, diz, “provavelmente não virão”. Garante, porém, que os problemas do seu casamento “nada interessam” quando comparados com o que está a acontecer na Ucrânia. “Putin é um louco. Isto começou na Ucrânia, mas vai estender-se a outros países. Putin é um louco”, repete.
Irina Ligostova, uma cidadã russa de 38 anos, segura nas mãos uma folha A4 onde está escrito: “Het boñhe” (“não à guerra” em russo). “Temos de responder a Putin. O mundo não pode ficar a olhar. Temos de travar a guerra. Temos de parar Putin”, diz a economista, que apenas chegou a Portugal há quatro meses, mas diz que veio para ficar.
Natalia Rogalevych, a mãe que deixou os dois filhos em Kiev — “Nicole, de 21 anos, Alexeivych, de 14” — diz que o seu país “está a viver dias de terror”. “Não dormia a pensar que isto podia acontecer. Agora as bombas de Putin caem sobre o nosso povo. Como é possível viver um horror destes? Como é possível?”
Ksenia Ashraullina, que ficou conhecida há uns meses por ter sido uma das denunciantes do facto de a Câmara de Lisboa ter cedido informações sobre cidadãos russos que participaram numa manifestação anti-Putin, foi uma das muitas pessoas que pegou no pequeno megafone para se dirigir aos presentes e tinha um alerta especial para lançar. “Há países que já não estão a passar visto de entrada a cidadãos russos. É preciso ter cuidado, porque há muitas pessoas que podem ou serem obrigadas a sair da Rússia por razões válidas. “É necessário impedir os homens e mulheres que apoiam Putin de sair da Rússia, mas tem de se fazer uma selecção”, apelou.
Muitos dos presentes soltaram lágrimas quando, a meio do protesto, uma mulher pegou no megafone para cantar o hino da Ucrânia. Muitas vozes se juntaram. As bandeiras azuis e amarelas trazidas pelos manifestantes foram levantadas ao ar. Com eles levantou-se também uma bandeira portuguesa. Foi transportada por Francisco Albino, um reformado de 70 anos.
“Os portugueses estão com os ucranianos. Estamos todos juntos contra a guerra. O nosso Governo, embora tenha uma voz pequenina, tem de juntar ao de voz grossa para fazer algo que trave já Putin. Não podemos ficar de cócoras a olhar”, diz.