Palcos da semana
Enquanto Cascais vê fotografias por Kubrick e dança num ID No Limits, as Correntes d’Escritas voltam à Póvoa de Varzim, Lisboa vai ao cinema a medo e Kiko Pereira lança-se aos blues pelo país.
Pela outra lente de Kubrick
Muito antes de ser o consagrado realizador de 2001: Odisseia no Espaço, Laranja Mecânica, Shining ou De Olhos Bem Fechados, Stanley Kubrick (1928-1999) era um apaixonado por fotografia. Entre 1945 e 1950, trabalhou como fotojornalista para a revista Look e é desses tempos de juventude que chegam as imagens que povoam a exposição Through a Different Lens. Essa faceta menos conhecida do cineasta revela-se em 130 fotografias vindas dos arquivos do Museu da Cidade de Nova Iorque, com curadoria de Sean Corcoran e Donald Albrecht. São ladeadas por várias edições da revista e a certeza de que foi nessa altura que aprimorou, como sublinha a folha de sala, “as habilidades, os relacionamentos e o atrevimento criativo que o levariam ao cinema”.
Correntes reforçadas
Depois de um 2021 confinado ao online, o festival Correntes d’Escritas volta a fazer a festa presencial da literatura. Mesmo sendo mais contida do que edições anteriores – porque, como alerta a organização, “o tempo ainda aconselha prudência” –, a 23.ª reúne mais de 60 convidados de vários países. E aproveita a experiência do ano passado para reforçar a sua projecção, ao transmitir online todas as mesas. Nestas, o debate será gerado por “uma canção, música, poema na sua dimensão plural”. Entre a primeira, pautada pelo Samba da Utopia, e a última, em torno da Pedra Filosofal, apresentam-se nomes como Paulina Chiziane, Adolfo Luxúria Canibal, Fernando Ribeiro, Mû Mbana, Tina Vallès, Cláudia Lucas Chéu, Afonso Cruz, José Luís Peixoto, Dany Wambire, Elena Medel, Gonçalo M. Tavares, Ondjaki ou Onésimo Teotónio Almeida. Conversas, lançamentos de livros, exposições, cinema, formações e sessões de poesia completam o programa.
Buzz sem limites
Mr Carmack, Jarreau Vandal, Nenny, Rejjie Snow, Greentea Peng, T-Rex, Branko, Major League DJz, Shygirl, Pedro Mafama e Rita Vian estão entre os mais de 40 artistas chamados à (muito adiada) segunda edição do festival ID No Limits. Com música distribuída por cinco palcos – um deles, a Silent Disco onde são os headphones a marcar o ritmo – e de calendário estendido a três dias de seis horas cada, o festival dá ordem para entrar numa gigantesca pista de dança repleta de sons urbanos e electrónicos – ou, como refere a organização, das “tendências que reflectem o buzz digital e a vibração do público”.
Tenha medo, tenha Cinema Medo
O São Jorge faz 72 anos em Fevereiro e convida a ir ao cinema. Até aqui, nada de novo. Mas, a partir de sábado, a experiência é outra. É teatral, imersiva, labiríntica e desafia para “uma viagem-pesadelo às entranhas” do edifício. Cinema Medo começa por exibir uma curta-metragem de terror. Depois, o público é levado a percorrer todos os espaços (incluindo os que lhe costumam estar vedados), sabendo que a qualquer momento, em qualquer esquina, corredor ou camarim, pode ter encontros imediatos com personagens aterradoras. Os espectadores são também jogadores a disputar, em equipas, o prémio de visitar a sala secreta onde se diz que a censura operava e o próprio Salazar se sentava a ver filmes. Nove actores dão vida à produção do Projecto Casa Assombrada, do Teatro Reflexo (em parceria com a EGEAC) – mais uma saída da mente do director, encenador e actor Michel Simeão.
Novos blues ao bom velho estilo
Há um ano, o cantor e compositor Kiko Pereira e os comparsas António Mão de Ferro, Jorge Filipe Santos, Carl Minnemann e João Cunha lançaram o disco de estreia enquanto Kiko & The Blues Refugees. Se o nome soa familiar, é porque o mentor o foi recuperar ao projecto anterior, Kiko & The Jazz Refugees. Reorientado o estilo, nasceu o disco Threadbare, que agora dá o mote a uma minidigressão de quatro datas. Com a banda vai o veterano guitarrista de pedal steel BJ Cole como convidado. E vão também músicas com notas de actualidade – ouça-se, por exemplo, Fake news.