A imagem de Vladimir Putin e de Emmanuel Macron sentados, cada um numa extremidade da uma imensa mesa branca correu mundo. O encontro aconteceu a 7 de Fevereiro, no Kremlin, em Moscovo. Nesta terça-feira foi a vez de o chanceler alemão Olaf Scholz se sentar na ponta da mesa de seis metros de comprimento. O italiano Corriere della Sera descobriu o construtor desta peça de mobiliário. “Eu também mobilei um edifício inteiro no Kremlin”, declara Renato Pologna, dono de uma fábrica em Como, Cantù, na Lombardia.

O dono da fábrica Oak informa que a mesa foi construída em meados da década de 1990, e que hoje custaria cerca de cem mil euros. “Reconheci-a assim que a vi. Tenho orgulho disso, emociono-me sempre que vejo o meu trabalho, mesmo que esteja em segundo plano em algo importante [como o encontro entre Putin e Macron]. Espero que traga boa sorte contra a guerra”, diz Renato Pologna, em entrevista ao Corriere della Sera, fazendo referência à crise na Ucrânia.

Embora as questões diplomáticas que se discutem naquela sala sejam importantes, a mesa tem chamado a atenção e, nas redes sociais, surgiram diversos memes que brincam quer com a distância a que os chefes de Estado se sentam — soube-se entretanto que Macron se recusou a fazer o teste russo à covid-19 —, quer com o tamanho da peça. Renato Pologna tem achado graça, admite. “Vi que alguém transformou a mesa num balancé — brilhante! Alguém pôs varões para pole dance e até fizeram uma pista de curling [um desporto praticado numa pista de gelo]. Neste momento podemos dizer que é uma mesa que permite dar azo à imaginação”, reage.

A mesa de carvalho tem seis metros de comprimento e 2,60 de largura. O tampo é uma peça única e foi lacado a branco com perfis de folha de ouro e decorações feitas à mão no topo. Quando foi construída jamais se imaginaria que, cerca de 25 anos depois, se viveria uma pandemia mundial que exigia o distanciamento entre as pessoas.

Segundo o fabricante italiano — a empresa foi criada pelo seu pai e já celebrou 40 anos de existência —, a mesa “é uma parte muito pequena” do trabalho que a fábrica fez para um dos edifícios do Kremlin, entre 1995 e 1997. “É o edifício que pode ser visto atrás do Mausoléu de Lenine, a actual sede dos gabinetes do presidente e a residência presidencial”, descreve. “Foram 7000 metros quadrados em dois andares. Havia este grande salão da famosa fotografia Putin-Macron e depois muitas outras salas, incluindo o Salão Santa Catarina, onde realizaram uma das reuniões do G8 em 1997. Foi um trabalho completo. Móveis, chãos, boiserie [painéis nas paredes], iluminação, lareiras, tectos de gesso, acabamentos em mármore nas paredes”, enumera.

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Embora Renato Pologna não se lembre do preço da mesa — “alguns milhões de liras”, calcula —, sabe que se fosse hoje a venderia por cerca de cem mil euros. A selecção da sua empresa para mobilar o edifício no tempo em que Boris Ieltsin era o presidente russo aconteceu porque, dez anos antes, lhes foi encomendado mobiliário para um apartamento num dos prédios do Kremlin. Aliás, a Oak trabalha pouco para o público italiano e mais “para xeques e famílias reais”, diz. “Trabalhei para as residências dos sultões na Malásia. Recebi encomendas do Médio Oriente, dos antigos estados russos. Na época, recebi encomendas de Kadafi e da família de Saddam. Mas também tenho clientes que não são políticos, que não me pedem trabalho para residências oficiais, mas para particulares, prédios históricos, em Monte Carlo, na Riviera Francesa, em Londres.”