Costa e o futuro Governo: diz-me quem escolhes e dir-te-ei o que o futuro nos reserva
António Costa já não tem de viver assombrado pelo peso e poder de Pedro Nuno Santos e pode agora dar a estes representantes da franja mais radical do PS a importância política que o resultado eleitoral do BE mostrou: pouca ou nenhuma.
No rescaldo do resultado eleitoral, pouco ou quase nada se tem dito sobre o impacto da vitória estrondosa de António Costa na gestão política do seu próprio partido, isto é, das várias sensibilidades existentes: os moderados, como Sérgio Sousa Pinto, e os bloquistas (sem aspas), como Pedro Nuno Santos e João Galamba.
No seu comentário às primeiras projeções da noite eleitoral, Sérgio Sousa Pinto “marcou” logo o terreno, afirmando que a vitória do Partido Socialista e a derrocada do PCP e do BE significava que os portugueses tinham escolhido o PS para governar, sem “geringonça”.
Talvez. Mas temos uma forma fácil de o comprovar.
António Costa já não tem de viver assombrado pelo peso e poder de Pedro Nuno Santos e seus seguidores no PS: afastada a necessidade de conviver politicamente com Catarina Martins do Bloco de Esquerda, pode agora relegar estes representantes da franja mais radical do PS e dar-lhes a importância política e eleitoral que o resultado eleitoral do BE mostrou: pouca ou nenhuma.
Se o fizer – afastando-os da composição do próximo governo –, António Costa dirá a quem nos acompanha, “financia” e “subsidia” que o PS se encontrará, de novo, com o legado político de Mário Soares, dando ao País e a todos nós a que, porventura, será a última oportunidade para nos afirmarmos, dando esperança a quem procura um futuro melhor.
Dará razões para que se invista e aposte em Portugal. Dará motivos para os mais qualificados (e, na realidade, todos os que tenham oportunidade para isso) não saírem de Portugal em busca de salários decentes e expectativa de melhoria de vida.
Pessoalmente, estou convencido de que António Costa não dará esse sinal. Faz tempo que estou convicto de que o nosso primeiro-ministro partilha, por razões afectivas e emocionais, algum do pensamento radical de esquerda, comunista e neocomunista, de alguns dos seus colegas de partido e do Bloco de Esquerda. Um comunismo e neocomunismo temperado, porém, por um pragmatismo e uma frieza política que na nossa História só tem paralelo com António de Oliveira Salazar e Álvaro Cunhal.
Um comunismo e neocomunismo que António Costa sabe que só pode permanecer vivo se conviver com um capitalismo de Estado, que o alimente e permita manter alguns dos seus instrumentos e ideais: a reversão da privatização do Metropolitano de Lisboa foi muito mais do que uma medida de natureza económica.
É por essa razão que no Governo anterior conviviam pessoas com travo ideológico tão diferente e oposto como Pedro Siza Vieira (Deus o conserve no Governo) e Pedro Nuno Santos.
Infelizmente, António Costa também não parece querer distanciar-se da malfada herança política que nos legou José Sócrates: se, de facto, Edite Estrela vier a ser apontada como a próxima presidente da Assembleia da República, ficamos elucidados sobre o que aí vem ou pode vir.
Mas a esperança é o sonho dos acordados e, portanto, oxalá, me engane.
Uma palavra final para Francisco Rodrigues dos Santos. Apresentou-se às eleições como democrata cristão e conservador, fiel às suas convicções e ao ideário do CDS/PP.
Para quem, como eu, votou no CDS/PP, fica-me o consolo de nos termos mantido fiéis aos nossos princípios.
E, sim, fica-me o consolo de se ter demitido, com a dignidade institucional tão própria da Direita em que acredito e me revejo: também aqui se compara bem com a posição dos líderes do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista.
Sendo eu de Direita (e não do centro-direita, ou Liberal, sem mais adjetivos), continua a ser um mistério como podem pessoas do mesmo espectro político ter votado no PSD de Rui Rio ou na Iniciativa Liberal. Ou não há Direita (ou espaço para ela) em Portugal?
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico