Graham Nash e India.Arie juntam-se a Neil Young e abandonam Spotify

Primeiro foi Neil Young, depois Joni Mitchell e Nils Lofgren. Agora foi a vez de Graham Nash e da cantora R&B India. Arie. Para esta, além do facto de a plataforma permitir discursos anti-vacinação Covid, está em causa o discurso de Joe Rogan sobre “raça” e a baixa remuneração dos músicos na plataforma.

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Graham Nash (primeiro à esq.) quando da edição de Deja Vu, álbum de 1970 dos Crosby, Stills, Nash & Young DR

O debate iniciado com a decisão de Neil Young de retirar a sua música do Spotify, em protesto contra o facto de a plataforma de streaming albergar o podcast de Joe Rogan, que o músico canadiano alega promover mentiras relacionadas com o combate à pandemia, não irá terminar tão cedo. Depois de Joni Mitchell e de o guitarrista Nils Lofgren terem anunciado que iriam retirar a sua música da plataforma, agora foi a vez de Graham Nash, fundador dos Hollies e membro dos Crosby, Stills, Nash (& Young), e de India.Arie, cantora soul e R&B com 25 anos de carreira, anunciarem o abandono da plataforma.

Graham Nash, 79 anos, próximo de Young desde a década de 1960, anunciou a decisão de retirar as suas gravações a solo esta terça-feira num texto publicado no Instagram. “Existe uma diferença entre estar receptivo a diferentes pontos de vista em relação a um tema e difundir conscientemente informações falsas que cerca de 270 médicos profissionais classificaram não apenas como falsas, mas perigosas”, justificou o músico que, considera que, ao difundir as opiniões de Rogan, “tão desonestas” e “sem sustentação em factos sólidos”, o Spotify “torna-se facilitador e de uma forma que custa vidas”.

Quando a India.Arie, cuja carreira recua ao final dos anos 1990 e que foi distinguida com quatro Grammys, a decisão de retirar a sua música e o seu podcast SongVersation da plataforma prende-se com mais do que a desinformação difundida por Joe Rogan ao acolher no seu programa convidados cépticos ou negacionistas da eficácia das vacinas. Na sua conta de Instagram, a cantora escreveu que “Neil Young abriu uma porta que tenho que atravessar”: “Acredito na liberdade de expressão. Contudo, considero Joe Rogan problemático por mais razões, além das suas entrevistas Covid… Para mim, trata-se também do seu discurso em volta da raça”. O Guardian recorda um exemplo. Em Janeiro, quando entrevistou Jordan Peterson, psicólogo clínico canadiano e fenómeno online célebre pelo seu activismo à direita no espectro político e, principalmente, pela sua luta contra o que considera o politicamente correcto em questões de género ou raça, Rogan afirmou, quando ambos discutiam questões étnicas nos Estados Unidos, que “a menos que estejamos a falar de alguém que seja, tipo, 100% africano, do lugar mais obscuro onde não usem roupas o dia todo… o termo Negro é bizarro”.

India.Arie traz à discussão outra questão, para a qual vários músicos têm alertado ao longo dos anos, relacionada com os valores que o Spotify paga a músicos e bandas pelo streaming das suas canções. “Pagar aos músicos uma fracção de centavo? E a ele 100 milhões? [o Spotify pagou a Joe Rogan 100 milhões de dólares para ter o seu podcast] Isto mostra que tipo de empresa são e a companhia de que se rodeiam. Estou cansada”, escreveu a cantora.

O Spotify é líder no mercado das plataformas de streaming e, também, pratica os valores mais baixos de remuneração dos músicos. Segundo um relatório da Tricordist, associação que promove uma relação mais justa entre artistas e empresas tecnológicas, o Spotify paga 0,00348 dólares por cada stream. A Amazon paga 0,00426, a Google 0,00554, a Apple Music 0,00675, o Tidal 0,00876 e o Napster 0,00916 dólares.

Em 2021, uma associação americana de músicos, a Union of Musicians and Allied Workers, organizou várias iniciativas para pressionar o Spotify a alterar as suas práticas remuneratórias. “A empresa triplicou o seu valor durante a pandemia, enquanto, ao mesmo tempo, não aumentava os seus pagamentos aos artistas uma fracção de centavo que fosse”, declarou à Pitchfork, no início deste ano, Mary Regalado, música que integra a associação.

Neil Young, recorde-se, não anunciou simplesmente que iria retirar a sua música do Spotify. Deixou a escolha à plataforma. “Ou eu ou Joe Rogan. Não podem ter os dois”, ameaçou o músico no final de Janeiro. O Spotify escolheu Joe Rogan, decisão expectável tendo em conta os 100 milhões investidos no programa deste e a sua audiência de 11 milhões, bem como o facto de a empresa ter assumido recentemente que o streaming de música é agora apenas uma componente da sua actividade: o seu foco é todo o conteúdo digital, com particular atenção ao universo dos podcasts.

Segundo a Billboard, a decisão de abandonar o Spotify custará 754 mil dólares anuais a Neil Young (cerca de 666,7 mil euros) e 272 mil dólares a Joni Mitchell (cerca de 240,5 mil euros).

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