Entre Neil Young e o podcast de Joe Rogan, o Spotify prescindiu do primeiro

Para se manter na plataforma de streaming, o cantor e compositor exigia a remoção do programa do humorista, que acusa de ser fonte de desinformação e mentiras sobre a covid-19. The Joe Rogan Experience ficou, o catálogo de canções do músico já começou a sair.

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Nei Young num concerto em Washington em 2015 Reuters/Joshua Roberts

O catálogo de canções de Neil Young começou a ser removido do Spotify na noite de quarta-feira, depois de o cantor e compositor ter exigido que o serviço de streaming escolhesse entre continuar a disponibilizar as suas músicas ou manter o podcast de Joe Rogan. Young acusa o podcast de espalhar informações falsas sobre vacinas e o novo coronavírus.

No início da semana, o músico canadiano que fez a sua carreira nos EUA publicou uma carta aberta no seu site, entretanto retirada, em que pedia à sua editora, a Warner Music, para exigir ao Spotify uma tomada de posição. Segundo a revista Rolling Stone, que viu a carta, a mensagem era esta: “Podem ter Rogan ou Young. Não ambos.”

The Joe Rogan Experience é um podcast gratuito em que o comediante e apresentador de televisão norte-americano tem longas conversas com os seus convidados. Alojado no Spotify desde 2020 ao abrigo de um contrato que valerá cerca de 100 milhões de euros, é o podcast mais seguido nos EUA, no Reino Unido e no Canadá, segundo as métricas do próprio serviço.

“Ao permitir a propagação de afirmações falsas e socialmente prejudiciais, o Spotify possibilita que o meio hospedado prejudique a confiança do público na investigação científica e semeie dúvidas na credibilidade dos dados e das orientações fornecidos pelos profissionais médicos”, dizia a carta.

Segundo a Reuters, o Spotify confirmou as diligências da Warner Music e a remoção da música de Young: “Temos uma política rigorosa em relação aos conteúdos e retirámos cerca de 20 mil episódios relacionados com covid-19 desde o início da pandemia. Lamentamos a decisão de Neil de remover a sua música do Spotify, mas esperamos que regresse em breve.”

O desafio de Neil Young ao Spotify representa um novo e inesperado patamar na batalha sobre a desinformação e a liberdade de expressão online, segundo o New York Times, e que está a ter muita visibilidade mediática.

Num comunicado colocado no seu site na quarta-feira, o compositor afirma que “o Spotify se tornou recentemente uma força muito prejudicial através da sua desinformação e das suas mentiras sobre a covid-19”. No mesmo texto, intitulado “Em Nome da verdade”, Neil Young recordava que soube do “problema” depois de um grupo de mais de duas centenas de cientistas, professores e especialistas em saúde pública ter pedido ao Spotify para retirar um episódio do programa de Rogan datado de 31 de Dezembro. Esse episódio, escreve o New York Times, teve a participação de Robert Malone, um especialista em doenças infecciosas, que propagou “várias falsidades sobre as vacinas covid-19”, acusava o grupo de cientistas.

Neil Young remata no comunicado em que agradece a compreensão da Warner Music: “As mentiras estão a ser vendidas por dinheiro.”

O serviço de streaming, que tem mais de 300 milhões de ouvintes por mês em todo o mundo, defendeu que procura sempre encontrar um equilíbrio: “Queremos que todo a música do mundo e todo o conteúdo áudio esteja disponível para os utilizadores do Spotify. Isso traz uma grande responsabilidade no equilíbrio que fazemos entre a segurança dos nossos ouvintes e a liberdade dos criadores.”

Segundo Neil Young, o Spotify representa 60% do consumo em streaming da sua música.

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