O dia “fofinho” e o rastro das vidas comuns
Tirem uma fotografia trivial à fila, façam uma aposta com os amigos sobre quem vai ganhar e anotem num papelinho, guardem o papelinho, olhem para as paredes à volta da mesa de voto, onde há sempre grafitos, registem num diário as caras fechadas ou abertas por detrás das máscaras...
Como hoje só se pode falar de passarinhos, libelinhas, gatinhos (se calhar não…) e demais coisas “fofinhas” (nem acredito que estou a usar esta palavra…) terminadas em “inho”, vou falar de outras coisas de mais difícil classificação, de interesses bizarros, de presenças e sombras, de esquecimentos e memórias. Vou falar de traços, restos, rastros de vidas reais, ou seja, das coisas menos “fofinhas” que há. Coisas duras, árduas, complexas, cheias de vergonha ou orgulho, mais vergonha do que orgulho, felizes por instantes e infelizes quase toda a vida, agitadas e pacíficas, com alguma curiosidade e algum medo, com muito sexo imaginado (“amor”, dizem elas) e pouco realizado, quase sempre mais de gente pobre e remediada, não tocando sequer na riqueza, que, nalgum momento, uma adolescente, um jogador de futebol amador, um poeta escondido, uma dona de casa que quer ao mesmo tempo ser boa dona de casa e deixar de ser dona de casa, um soldado na guerra, uma madrinha de guerra deixaram.
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