António Manuel Ribeiro: “Finalmente alguém com o peso do Neil Young vem dizer ‘basta!’”

“Podem ter Rogan ou Young. Não ambos”, disse Neil Young ao Spotify.

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António Manuel Ribeiro, UHF Miguel Manso

O cantor e compositor canadiano Neil Young intimou a plataforma de streaming Spotify a remover o podcast do humorista Joe Rogan, acusando-o de ser fonte de difusão de desinformação e mentiras sobre a covid-19. E fê-lo nestes termos: “Podem ter Rogan ou Young. Não ambos.” O Spotify não cedeu e foi o catálogo de Neil Young que saiu. António Manuel Ribeiro, fundador e líder dos UHF, aplaude a atitude de Neil Young, percebendo a reacção do Spotify: “É um mercado de vendas”.

Como vê o ultimato de Neil Young ao Spotify, intimando a plataforma a remover o programa do humorista Joe Rogan na base de: ou ele ou eu?
Adorei. Porque finalmente alguém com o peso do Neil Young teve a capacidade de dizer ‘basta!’ É que nós vivemos num mundo de fake news tão excessivas, tão transbordantes, a todas as horas, que um dia destes não saberemos se estamos a viver numa realidade real ou numa realidade fictícia e estamos a correr para situações e a tomar posições baseadas em mentiras que estão a ser difundidas. Felizmente, o Neil Young teve essa capacidade. E sempre foi assim.

Há uma canção dele, do tempo do George W. Bush, intitulada Let’s impeach the President [vamos impugnar o Presidente]. E nessa altura o disco dele deixou de estar à venda no Starbucks, por exemplo. Mais tarde, processou Donald Trump por usar indevidamente duas canções dele [Rockin’in the free world e Devil’​s sidewalk] na campanha eleitoral. Ele tem o seu universo. Deve ser muito difícil para os patrões das multinacionais aturarem alguém como o Neil Young. Mas, para quem conhece música, ele é um ‘monstro’. E é coerente. Só podia fazer isto.

O Spotify decidiu manter Rogan, deixando sair o catálogo de Neil Young. O que acha dessa decisão?
O Spotify é um mercado de vendas e de receitas. Se o outro sujeito tiver, neste momento, mais mundo comercial do que o Neil Young, em termos de plataforma digital é mais interessante para eles. O Neil Young é um autor que há 50 anos edita canções e pertence a um universo de compradores de música, como eu.

Eu não vou ao Spotify ouvir Neil Young, eu quero é um novo disco do Neil Young! Por isso, é provável que o nível de streaming e de vendas (downloads) dele seja curto em relação àquilo que é um artista da actualidade. O Spotify pesou o que é que dava mais lucro e o que é que dá mais lucro? É o sujeito que continua a difundir mentiras.

Na era das plataformas digitais, é benéfico para os músicos usá-las, estando presentes em todas ou quase todas, ou os ganhos são residuais?
Os ganhos são profundamente residuais. Aliás, há neste momento uma tentativa na própria União Europeia de negociar em pé de igualdade, ou seja, abanar a posição dominante das plataformas digitais, os chamados GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon), porque este é um problema grave. Se estamos lá, ganhamos cêntimos; se não estamos, não existimos.

Dois exemplos com canções dos UHF: com dados da nossa distribuidora digital, que é espanhola, a canção Toca-me, no disco O Melhor de 300 Canções, tem 1145 audições em streaming. Quanto é que isto dá? 1,89 euros. E O vento mudou, com 1306, rendeu 1,20 euros. Não tenho nada contra quem nos vende, mas são empresas multinacionais, cotadas em bolsa e isto [estes valores] é completamente ridículo.

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