Acordo de Virginia Giuffre com Epstein pode anular acusações contra o príncipe André
Assinado em 2009, o acordo prevenia que quaisquer pessoas envolvidas no escândalo de abusos sexuais do magnata norte-americano fossem levadas à justiça.
As acusações de Virginia Giuffre contra o príncipe André estão, uma vez mais, em risco de cair por terra porque, em 2009, a norte-americana chegou a um acordo com o magnata Jeffrey Epstein. Esse poderá restringir a possibilidade de acusar outras pessoas por abusos sexuais. A decisão do tribunal será anunciada, em audiência, nesta terça-feira, 4 de Janeiro. Caso as denúncias sejam validadas, o filho de Isabel II deverá ir a julgamento entre Setembro e Dezembro deste ano.
O acordo com quase 13 anos foi tornado público na segunda-feira, apesar de já vir a ser mencionado desde Outubro de 2021, como parte das acusações de Virginia Roberts Giuffre contra o príncipe André. A agora advogada de 38 anos acusa o britânico de ter mantido relações sexuais com ela em 2001, nos EUA e no Reino Unido, em encontros promovidos por Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell, quando tinha apenas 17 anos. A defesa de André continua a negar as alegações e refutou as acusações com o acordo em que Epstein o protegia de qualquer responsabilização.
De acordo com o tribunal, o acordo estabelecia um pagamento de 500 mil dólares (cerca de 442 mil euros). Cabe agora ao juiz distrital de Nova Iorque, Lewis Kaplan, determinar se esta cláusula no acordo de Epstein impede que a acusação contra o príncipe André avance. O processo de contencioso ainda está numa fase inicial e há possibilidade de o filho de Isabel II nem chegar a julgamento, caso Virginia Giuffre aceite um acordo.
Em 2009, Giuffre acusou o magnata norte-americano Jeffrey Epstein de abusar sexualmente dela, em 1998, quando tinha 15 anos. A advogada recorda que lhe foi “pedido para ser sexualmente explorada pelos amigos [de Epstein], incluindo membros da realeza, políticos e académicos”. O processo foi arquivado em Dezembro desse ano.
A defesa do príncipe André tem argumentado que este se enquadra na categoria de “realeza”, que por isso está protegido de “todas e quaisquer acusações”. Em comunicado, explicam que o acordo se destinava a proteger “todas e quaisquer pessoas que Giuffre identificava com possíveis abusadores em processos judiciais no futuro”. No acordo divulgado no tribunal de Manhattan pode ler-se que “qualquer pessoa ou entidade que possa ser incluída como potencial réu em todos os processos de Virginia Roberts” é libertado de responsabilização.
Os advogados do príncipe não teceram quaisquer comentários desde que o acordo foi tornado público. Já o advogado de Virginia Giuffre, David Boies, disse que a sua divulgação era “irrelevante” para o caso. “O acordo não menciona o príncipe André. E ele nem sabia da sua existência”, afirmou em comunicado. “A razão por que procuramos que o acordo fosse tornado público foi para refutar as alegações que a equipa de advogados do príncipe André tem feito sobre este tema.”
Os abusos que Giuffre relata terão sido levados a cabo nas casas de Epstein em Nova Iorque e nas Ilhas Virgens Americanas, bem como na casa londrina de Ghislaine Maxwell. Na semana passada, a socialite britânica foi declarada culpada de tráfico sexual, e aguarda a leitura da sentença. Já o destino do magnata foi outro: Jeffrey Epstein foi encontrado morto na sua cela em Agosto de 2019, enquanto aguardava julgamento por abusos sexuais de menores.
Até agora, o príncipe André tem negado tudo veemente, acusando a mulher de tentar lucrar com as acusações contra Epstein. Certo é que, em Novembro de 2019, o filho de Isabel II abdicou dos deveres reais, justificando a decisão com o facto de a sua associação a Epstein ser “uma perturbação para o trabalho da família”.
Numa polémica entrevista à BBC, o pai das princesas Beatrice e Eugenie afirmou não se lembrar de alguma vez ter conhecido Virginia Giuffre. Mesmo quando lhe foi apresentada uma fotografia ─ onde aparece abraçado à jovem e com Ghislaine Maxwell ─ o duque de Iorque disse simplesmente que não se lembrava de a ter tirado.