Gonçalo Cadilhe está sem GPS, mas nunca perdido: busca a viagem “muito mais” lenta, ponderada, com tempo
São 57 textos, que atravessam três décadas de viagens, quase todos publicados em crónicas na imprensa entre 2013 e 2019, reunidos em “Sinal de GPS Perdido - Viagens Fora dos Lugares Comuns”. O subtítulo tem duplo sentido, mas que não haja equívocos: Gonçalo Cadilhe propõe escapar aos estereótipos da literatura de viagens, sem necessariamente fugir das mecas do turismo mundial. E, nesse processo, talvez fazer a transição do grande viajante para o escritor viajante.
Pode uma cidade tão massificada pelo turismo, que impôs barreiras à sua entrada e vai começar a cobrar uma taxa pelo acesso, atrair um viajante e escritor de literatura de viagens? Pode. “Nos últimos anos, a viagem que mais me deixou feliz, a palavra é mesmo essa, foi ter ido passar três dias a Veneza neste Outono”, confessa Gonçalo Cadilhe. Depois de, recorda, “ter tido tanta felicidade em lugares tão exóticos como o canyon da Namíbia [Fish River Canyon - Desfiladeiro do rio Fish] ou a Indonésia”, foi em Veneza, onde até chegou a viver - “no Inverno de 1998-99, parece-me” – que reencontrou a felicidade. Voltou a uma cidade com “pouquíssimo turismo” (e o que havia “era um turismo europeu, educado, não era um turismo de massas de maneira nenhuma”), voltou a uma Veneza ligada à sua juventude. “Apenas para passear, sem me preocupar em ir a lado nenhum, só mesmo estar em Veneza. Deixou-me tão feliz, tão preenchido só fotografar a forma como o sol iluminava uma fachada e essas coisas.” Este é o seu (novo) caminho, aponta, depois de 30 anos de viagens, 15 de livros, o último dos quais lançado em Novembro passado, “Sinal de GPS Perdido - Viagens Fora dos Lugares Comuns” (Clube do Autor).
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