Um livro é sempre um livro: dez sugestões para presentes de Natal
Na dúvida, ofereça um livro ao pai, à irmã, ao melhor amigo. Nesta lista há um para todos os gostos: para os que adoram viajar, os que não passam sem bolachas, os que querem saber tudo sobre os melhores vinhos e até os que desejam conhecer melhor Portugal.
100 Experiências Inesquecíveis em Portugal
E de repente, em 2020, o mundo tornou-se mais pequeno. Impedidos de viajar além-fronteiras, Joke Longens e Dirk Timmerman decidiram olhar para dentro. Joke, uma guia-intérprete belga que vive em Portugal desde 2013, elencou 100 experiências imperdíveis para fazer no território nacional. Dirk juntou-se à festa e ambos criaram a colecção The Road Less Travelled, com a chancela Casa das Letras.
100 Experiências Inesquecíveis em Portugal é o primeiro título da colecção e apresenta uma centena de propostas para conhecer o país de ponta a ponta. Não pretende ser um guia de viagens, antes um elenco de “estórias e histórias, pessoas e outros seres vivos, em cheiros e sons”. “A geografia assume o papel principal, desde o Norte montanhoso até ao Sul inundado de sol. Interior e litoral. Cidade e campo.”
Entre as experiências sugeridas por Joke estão atravessar a Ponte 516 Arouca, visitar a plantação Chá Camélia, em Vila do Conde, presenciar o Hanukkah em Belmonte, descobrir os cavalos semisselvagens de Alpiarça ou provar o vinho da talha alentejano. Os guias destinam-se não apenas a quem vem de fora conhecer o país e quer ter “experiências diferentes das proporcionadas pelo turismo de massas”, mas também aos portugueses “que já palmilharam inúmeros quilómetros em terras lusas”. Porque “o país que nos viu nascer e crescer ainda tem inúmeros segredos por revelar”. S.S.C.
Carlos Bleck – O Herói Esquecido da Aviação Portuguesa
É um livro sobretudo destinado a quem tem a paixão dos céus. Escrito por José Correia Guedes, que passou mais de metade da sua vida ao serviço da TAP, primeiro como comissário de bordo, depois como piloto, evoca a vida de Carlos Bleck, “o primeiro português a ter um brevet de piloto civil”, que em 1934 conseguiu um feito histórico: pela primeira vez, um aviador concluía a ligação entre Portugal e a Índia.
“O grande desafio tinha sido vencido com honra e glória. Carlos Eduardo Bleck acabava de ligar pela primeira vez Lisboa a Goa por via aérea, realizando um feito sem precedentes na história da aviação – e garantindo assim a sua própria imortalidade”, lê-se no prólogo do livro.
Tendo constatado que a história da aviação portuguesa não concedeu a Carlos Bleck mais do que “uma nota de rodapé”, José Correia Guedes pôs mão aos arquivos, às fotografias e às memórias de família e reconstruiu “o mosaico possível”. Carlos Bleck – O Herói Esquecido da Aviação Portuguesa tem prefácio de Jaime Nogueira Pinto, também ele um entusiasta da aeronáutica. S.S.C.
Breve História da Massa Italiana
Luca Cesari, o autor desta Breve História da Massa Italiana, nasceu em Bolonha, a cidade que em Itália é conhecida como A Gorda. Ora bem, isto já diz muito sobre o autor e o que se pode esperar deste livro com chancela da Bertrand. É claro que isto é sempre discutível, mas Bolonha é muitas vezes apontada como a cidade onde melhor se come em Itália – vale o que vale, até porque o meu conhecimento do país é muitíssimo limitado, mas confirmo que foi, de facto, em Bolonha que melhor comi. São os queijos, as mortadelas, as pastas frescas, o prosciutto crudo… Uma autêntica perdição.
Mas, ainda assim, Luca Cesari, lê-se nesta Breve História da Massa Italiana, foi “uma criança esquisitinha, alimentada carinhosamente a tagliatelle e tortellini por uma avó cozinheira”. Talvez por isso se tenha tornado historiador e jornalista gastronómico, tendo dedicado muito do seu tempo a investigar a história e a origem dos pratos mais representativos da tradição italiana.
É o que temos em mãos neste livro: dez receitas “intocáveis” que escolheu para mostrar que “estas especialidades tradicionais são sempre mais recentes do que se pensa e que a sua existência é tudo menos estável”. Vamos assim do fettucine Alfredo ao pesto à genovesa – e pelo caminho ficamos a saber se a cebola refogada destrói a amatriciana ou se a carbonara leva natas ou não. S.S.C.
À Dentada – O Livro das Bolachas
Rita Nascimento soma e segue. Depois de, em 2019, ter lançado Um bolo por semana, La Dolce Rita, nome com o qual se identifica nas redes sociais, apresenta agora À Dentada – O Livro das Bolachas, onde partilha receitas e técnicas para termos sempre em casa “uma lata cheia de alegria”.
São 75 receitas, que vão das clássicas areias ou fidalguinhos até às mais cosmopolitas, como sejam as cookies americanas ou os sablés. Também há línguas de gato, almendrados ou mesmo biscoitos para cães.
No início do livro, mais um da autora publicado pela Arteplural, há dicas a considerar – por exemplo, a diferença entre vários tipos de açúcar – e utensílios fundamentais para levar a bolacha a bom forno. S.S.C.
Outras Paragens. Uma Pequena Antologia
O Egipto – Notas de Viagem será a obra de Eça de Queirós que mais se encaixa na categoria de livros de viagens, mas uma grande parte dos seus escritos leva-nos de um lugar para o outro. Tanto assim é que a Quetzal, em mais um título para juntar à sua colecção Terra Incógnita, publicou em Outubro Outras Paragens. Uma Pequena Antologia, que reúne “num só volume alguns dos melhores escritos de viagem e sobre viagem do maior romancista português”.
Com prefácio de Francisco José Viegas, o livro oferece notáveis relatos de paragens mais ou menos longínquas, presentes nas obras de ficção de Eça ou na extensa correspondência que foi trocando em vida. Começamos com Fradique Mendes algures no Egipto, vamos de Paris a Tormes à boleia de A cidade e as serras ou experimentamos o Inverno de Londres através das Cartas de Inglaterra.
“Sério e cosmopolita, romântico e cínico, jornalístico ou erudito, este é um Eça disperso e sempre atento ao mundo, às suas transfigurações – e que nunca perdeu o gosto pela viagem.” Um livro que vai ficar mesmo bem no sapatinho dos que gostam de viajar. S.S.C.
Dakar a Bissau de Bicicleta
Afinal, Rui Daniel Silva não mergulhou num mundo sombrio — como vaticinavam muitos dos seus amigos. E, contra todos os prognósticos, este explorador voltou a casa e ainda teve forças para escrever Dakar a Bissau de Bicicleta, onde revela parte de um continente percorrido por duas bicicletas, “tudo ao molho e fé em Alá!”
“África era o equivalente ao inferno na terra. Um mundo de trevas, revezado por diversos demónios levianos e com sede de sangue. Estava visto que iria sofrer horrores num continente povoado por animais famintos e espíritos malignos”, escreve o autor, que fez ouvidos de mercador e partiu numa aventura que o levou, na companhia do amigo Manuel Lemos (ambos professores de Música em Leiria), através do Senegal, da Gâmbia e da Guiné-Bissau, uma “odisseia” que começou em Abril de 2014 e demorou duas semanas a cumprir.
Rui Daniel Silva despediu-se da viagem com “uma derradeira lágrima, embrulhada num pacote de saudades”, tendo regressado a casa “mais rico e sobretudo com um baú cheio de boas recordações”. Fica um pequeno spoiler: a última palavra do livro é... “hospitalidade”. L.O.C.
Os Banquetes de Astérix
O cozinheiro francês Thibaud Villanova já criou receitas para as séries Guerra das Estrelas, Ficheiros Secretos, Lost, Stranger Things e várias outras. Neste livro, inspira-se nos irredutíveis gauleses e tanto nos propõe um menir de chocolate como umas ostras gratinadas à Burdigalesa, um rancho do legionário, uma zarzuela do Caldoverdon y Chouriçon ou um guisado com os louros de César.
São 40 receitas muito variadas, divididas em quatro capítulos: Os Banquetes Gauleses, Os Banquetes dos Povos Vizinhos, Os Banquetes Romanos, e Os Banquetes das Terras Longínquas. As receitas, acompanhadas por óptimas fotos, vêm claramente explicadas, passo a passo, com indicação dos ingredientes, do número de pessoas, dos tempos de preparação e cozedura, do grau de dificuldade, e ainda, se necessário, do material específico que exigem.
O livro oferece ainda as Dicas de Cozinheiro, com muita informação útil (como preparar caldo de aves ou de legumes, ou fumet de peixe, por exemplo) e, no final, O Herbário de Panoramix, para conhecermos ervas aromáticas, cogumelos e outros temperos. A brincar, a brincar se faz, com qualidade, um original livro de receitas. A.P.C.
Martinho da Arcada – um café de todos nós
Incansável no apoio e divulgação do histórico café de Lisboa Martinho da Arcada, Luís Machado coloca agora em livro toda a história da casa fundada em 1782 e que assistiu e foi protagonista de alguns dos grandes acontecimentos da vida da capital e do país. Do seu lugar privilegiado debaixo das arcadas do Terreiro do Paço, começou por ser um armazém de bebidas onde se vendia gelo, tendo depois sido oficialmente inaugurado como Casa da Neve. No início do século XIX era “ponto de encontro da sociedade elegante e sofisticada” e em 1848, “com a iluminação pública a gás”, torna-se “o paraíso da boémia”.
Diz-se que os regicidas de 1908 terão almoçado no Martinho dois dias antes de matarem D. Carlos; nos anos de 1920, o café viu as mulheres cortarem os cabelos e passarem a usar vestidos acima do joelho, nos anos 40, durante a guerra, por estar próximo da estação central dos Correios do Terreiro do Paço, torna-se “lugar de encontro, mas também sala de espera nostálgica” para os judeus fugidos dos nazis; a 25 de Abril de 74 assiste aos primeiros momentos da revolução, com a chegada de Salgueiro Maia a Lisboa.
Mas, mais do que isso tudo, é recordado pela ligação a um cliente muito especial: o poeta Fernando Pessoa, que tem neste livro direito a um espaço próprio. São muitas e fascinantes as histórias do Martinho da Arcada aqui reunidas por Luís Machado, num álbum com muitas imagens e com texto em português, francês e inglês. A.P.C.
Cadernos do Dominguizo
Ana Marques Pereira, investigadora e detentora de um riquíssimo arquivo de livros e peças ligados à culinária e à gastronomia, explora nesta obra dois livros de receitas manuscritos que comprou há mais de meio século num alfarrabista, e com uma data que os permite situar no tempo: 1823.
Ao contrário do que acontece com muitos manuscritos deste tipo, estes estavam identificados como pertencendo à família Leal Castello Branco e às casas desta nas localidades de Dominguizo e Telhado, na Beira Baixa. Isso permitiu à autora lançar-se num verdadeiro trabalho de detective para nos dar a conhecer tudo o que é possível sobre esta família, a forma como vivia, as suas cozinhas e o que aí se cozinhava.
As receitas, e são muitas as que fazem este livro, não são de pratos do dia-a-dia, mas de pratos especiais, e revelam muito não só sobre os ingredientes e técnicas utilizados, como sobre os gostos da época e as influências de outras obras de referência. Destaque ainda para a análise que Ana Marques Pereira faz de uma pequena folha que descreve um jantar com serviço à francesa. Este é um trabalho fundamental para o enriquecimento da história da culinária em Portugal, numa muito cuidada edição da Ficta. A.P.C.
100 Grandes Vinhos de Portugal
Escolher 100 marcas que fizeram e ainda fazem a história da viticultura recente de Portugal só porque 100 é aquele número sonante e funcional em termos de marketing editorial foi algo que fez Maria João de Almeida viver “entre a espada e parede” quando teve de “optar por este ou por aquele vinho”. “Mas a vida é mesmo assim, feita de escolhas. E sei que o leque de vinhos escolhidos é motivo de grande orgulho para Portugal.”
Para cada vinho há uma página de enquadramento histórico e outra com uma produção fotográfica de luxo, que deve ter dado – não é difícil de imaginar – muita dor de cabeça ao editor Nuno Seabra (Zest) e à equipa da M&A Creative. Imagine o leitor o trabalho que é arranjar lapas da Madeira, basalto dos Açores, carrosséis, lacraus embalsamados ou até um pinto fofinho para ficar quieto na fotografia.
Num país pouco dado ao livro-objecto, esta é uma iniciativa editorial interessante. E que cai muito bem por estes dias na categoria de presente. E.P.