A nova vaga Ómicron: o que fazer para atrasar a sua transmissão, em Portugal?
A ventilação dos espaços fechados continua a estar esquecida pelo Governo. O uso de máscaras FFP2 deve ser preferido às máscaras cirúrgicas.
Detetada pela primeira vez no Botswana e África do Sul, a variante Ómicron da covid-19 está, neste momento, a espalhar-se pelo mundo, tendo agora sido detetada em pelo menos 48 países, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em Portugal, segundo o relatório de monitorização das linhas vermelhas para a covid-19 de 10/12/2021, foram identificados, apenas, 49 casos de Ómicron. Acredita-se que este número estará, certamente, sub-avaliado, dado que a Dinamarca (um dos países da Europa com mais elevada sequênciação genómica do virus) reportou, nos últimos dias, um aumento de três vezes de casos de Ómicron.
Em Janeiro de 2021, aquando da entrada da variante Alpha, Portugal foi dos primeiros (a seguir ao Reino Unido) a monitorizar em tempo real, (através dos laboratórios com a tecnologia PCR-RT TaqPath da ThermoFisher) a sua disseminação, permitindo, nomeadamente, perceber em que regiões havia “clusters”.
Ora a variante Ómicron, tal como a variante Alpha, tem uma falha na deteção do gene S nalgumas marcas de ensaios de PCR-RT, o que permite analisar de forma mais rápida os casos suspeitos de Ómicron.
Aliás, a empresa Unilabs, criou o Intelli4COVID uma plataforma (co-financiado pelo Compete 2020, Portugal 2020 e UE) que, com o recurso à inteligência artificial, poderia constituir uma ferramenta para analisar a evolução da pandemia.
Dado que a sequênciação genómica é morosa e limitada em Portugal, será que o Instituto Ricardo Jorge com a parceria da Unilabs está a ser capaz de monitorizar a Ómicron com o recurso ao PCR?
Recentemente um dado novo veio complicar mais esta forma de despistagem da Ómicron com o PCR. Assim, foram detetadas já duas linhagens diferentes da variante Ómicron, classificadas como BA.1 e BA.2, e a segunda (também chamada Ómicron “furtiva”) pode não ser despistada pelos testes PCR (pois não apresenta a deleção do gene S que permite que algumas plataformas de PCR a detetem).
Com todas estas dúvidas acerca da dificuldade na sua deteção, importa atuar mais intensamente nas medidas de contenção da sua transmissão.
Seria ideal detectar os locais onde a Ómicron está a circular mais e implementar medidas mais cirúrgicas: fazer mapas com os “hotspots”, investigar profundamente os surtos, evitar/adiar eventos e veicular mensagens para as pessoas os evitarem.
O controle de fronteiras só se justifica enquanto não houver confirmação da transmissão comunitária; quando esta ultrapassa o número de introduções, então já não vai fazer diferença… Nesse caso toda a logística das fronteiras poderia ser encaminhada para outros sectores, como por exemplo, os quiosques de testagem que deveriam ser disseminados pelos centros das cidades, para que o seu acesso seja facilitado, uma vez que está claro que as farmácias não têm capacidade de resposta, neste momento, com o aumento da demanda.
A ventilação dos espaços fechados continua a estar esquecida pelo Governo, apesar da sugestão (pouco valorizada pelos media) na última reunião de peritos de 19/11/2021, no Infarmed, da monitorização do CO2 como marcador de renovação do ar.
Dada a potencial maior transmissibilidade da variante Ómicron, incrementar a qualidade da proteção individual com uso de máscaras mais eficazes deveria ser reforçada (deve explicar-se que as máscaras FFP2 têm mais capacidade protetora do que as máscaras cirúrgicas ou as têxteis). De facto, um estudo recente sugere que o uso de máscaras FFP2 deve ser preferido às máscaras cirúrgicas, pois mesmo máscaras FFP2 pouco ajustadas podem reduzir o risco de infecção por um fator de 2,5 em comparação com máscaras cirúrgicas bem ajustadas.
Dado que os casos de covid-19 com a variante Delta (e presumivelmente mais com a Ómicron) acontecem, predominantemente, no grupo etário dos 5-9 anos, enquanto não houver uma vacinação deste grupo, deveriam promover-se outras medidas como a maior adesão ao uso de máscara nas escolas e a utilização de purificadores do ar quando não seja possivel uma boa ventilação medida pelos monitores de CO2. Aliás a obrigatoriedade das máscaras a partir dos 6 anos já foi implementado na Bélgica e no Reino Unido, onde começaram a ser distribuídos monitores de CO2 e purificadores do ar nas escolas.
Para manter a escola sem interrupções, é essencial garantir que as crianças entre os 5 e 11 anos sejam vacinadas. A recomendação, no dia 7-12-2021, da vacinação nesta faixa etária pela Direção Geral de Saúde e o início para breve do programa de vacinação são ótimas notícias!
Se com estas medidas conseguirmos atrasar a transmissão local da Ómicron em, algumas semanas, nessa altura, as verdadeiras características clínicas e imunológicas da Ómicron serão mais conhecidas e a intensidade da resposta nacional poderá ser mais corretamente ajustada.
Conseguiremos vencer a Ómicron, para isso teremos apenas que usar todas as ferramentas de que já dispomos!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico