Parecer de pediatras destaca “incerteza” sobre impacto da vacinação de crianças na transmissibilidade na população em geral

Documento do grupo de trabalho constituiu apenas uma das peças em que a comissão técnica que aconselha a directora-geral da Saúde se baseou para formular a sua recomendação final, favorável à vacinação universal.

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Paulo Pimenta

Com apenas duas páginas, o parecer sobre a vacinação das crianças entre os cinco e os 11 anos pedido pela Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 ao grupo de especialistas em pediatria e saúde infantil - e que desencadeou grande polémica por ser confidencial - não diz que as crianças entre os cinco e os 11 anos não devem ser vacinadas. O que os 12 especialistas defendem é que a vacinação das crianças com factores de risco e dos adultos deve ser prioritária e que será “prudente” esperar por mais evidência científica para tomar uma decisão sobre a inoculação de crianças saudáveis. Basicamente, os autores querem mais tempo, colocam questões e dúvidas que gostariam de ver esclarecidas antes de uma decisão final. O parecer foi publicado esta sexta-feira em anexo ao da Comissão Técnica de Vacinação, que tem mais de três dezenas de páginas e muitos dados nacionais e internacionais.

No documento do grupo de trabalho - que constituiu apenas uma das peças em que a comissão técnica que aconselha a directora-geral da Saúde se baseou para formular a sua recomendação final, favorável à vacinação universal – os peritos destacam a “incerteza” quanto ao impacto da vacinação das crianças entre os cinco e os 11 anos na transmissibilidade do novo coronavírus em toda a população e defendem que seria “importante” conhecer, primeiro, a “seroprevalência da infecção neste grupo etário em Portugal pois níveis elevados de imunidade natural reduziriam o impacto da vacinação”.

Por isso, como já tinha sido revelado na nota técnica que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) divulgou esta quinta-feira, os especialistas (pediatras, cardiologistas pediátricos, infecciologistas) consideram que “poderá ser prudente aguardar por mais evidência científica antes de ser tomada uma decisão final” sobre a vacinação das crianças saudáveis.

Argumentando ainda que é importante nesta fase “seguir atentamente a experiência dos países onde a vacina já começou a ser utilizada”, os especialistas defendem que, apesar de no ensaio clínico com a vacina da Pfizer efectuado neste grupo etário não terem sido “detectados efeitos adversos graves”, será “fundamental continuar esta vigilância apertada com a utilização em larga escala da vacina”.

Quantos às consequências directas na saúde das crianças, notam que “o risco de covid-19 grave (hospitalização e morte) é muito baixo e que se verifica “maioritariamente em crianças com factores de risco”, e que a síndrome inflamatória multissistémica associada ao SARS-CoV-2 é “rara mas habitualmente com boa evolução”, enquanto a prevalência da “covid longa” é “difícil de quantificar”.

Relativamente a considerações de outra ordem, nomeadamente sobre os “impactos educacionais, sociais e económicos mais amplos” da vacinação, recomendam que sejam procuradas “junto de outros peritos”. Seja qual for a decisão, enfatizam, “será importante transmitir informações transparentes e claras sobre os factos e as razões que determinaram essa opção”.

Em anexo figura igualmente o parecer bioético elaborado por Helena Pereira de Melo, professora de Direito de Saúde e de Bioética na Universidade Nova de Lisboa, que é favorável à vacinação universal.

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