Moda almeja a recuperação em 2022, mas tem pela frente a crise na cadeia de abastecimento

O sector da moda espera regressar aos ganhos em 2022. Mas tem dois enormes obstáculos para ultrapassar: a crise na cadeia de abastecimento e cumprir as metas para atingir a ambicionada sustentabilidade.

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“O desempenho na primeira metade de 2021 aponta para um possível regresso aos lucros até 2022”, lê-se nas conclusões divulgadas Priscilla du Preez/Unsplash

Os últimos dois anos não pouparam praticamente nenhum tipo de indústria. Mas houve algumas que foram mais sacrificadas, entre as quais está a da moda que, não só viu fábricas e lojas a fechar por causa dos confinamentos, como assistiu a uma quebra na procura, uma vez que os clientes estiveram longos períodos sem sair de casa. Agora, o futuro é olhado com esperança, como indica o relatório O Estado da Moda 2022, elaborado pela reputada revista The Business of Fashion (BoF) com a consultora de gestão McKinsey & Company, fruto de entrevistas exclusivas a executivos de topo da indústria e dos resultados de um inquérito realizado a mais de 220 executivos e peritos internacionais de moda.

“O desempenho na primeira metade de 2021 aponta para um possível regresso aos lucros até 2022”, lê-se nas conclusões divulgadas, depois de a indústria ter registado um saldo negativo em 2020, “pela primeira vez desde a última década”.

No entanto, a velocidade de recuperação variará consoante a geografia: EUA e China deverão crescer mais depressa que a Europa. Aliás, na China “a indústria da moda já está de volta aos níveis de vendas pré-pandemia em todos os segmentos”, atestam. E, muito importante, o nicho de luxo que deverá crescer até ao fim do ano 70 a 90% em relação às vendas de 2019.

No Velho Continente, o ritmo de crescimento é mais lento, mas 67% dos executivos de moda neste mercado “esperam melhores condições comerciais em 2022 face ao ano anterior”.

Mas, nem tudo são rosas e, embora se espere que 2022 seja um ano de crescimento, muitos dos potenciais ganhos poderão ser abalados por desafios relacionados com a pandemia e a economia global. O mais preocupante é o estrangulamento da cadeia de abastecimento, abalada pela escassez de materiais e pelo aumento do custo do transportea viagem marítima de um contentor entre Xangai e um porto europeu, em Junho de 2020, custava menos de mil dólares (884€); no fim de 2020, já ia nos quatro mil dólares (3536€) e, no fim de Julho deste ano, era de 7395 dólares (6537€).

Os responsáveis pela indústria temem que este cenário inflacione os custos de produção e provoque desequilíbrios entre a oferta e a procura, obrigando a um aumento dos preços de venda ao público: 67% dos executivos inquiridos acreditam num aumento em torno dos 3%, mas 15% dos empresários temem que a subida seja mais acentuada, de 10% ou mais.

Outro desafio é o da sustentabilidade, particularmente a questão da economia circular e da reciclagem em circuito fechado na indústria global de moda. Actualmente, informa o relatório, menos de 10% do mercado têxtil global é composto por materiais reciclados, de acordo com o Textile Exchange. Desta forma, será necessário um investimento de toda a indústria para que as empresas consigam reduzir o seu impacto no ambiente.

Aposta no digital

O digital “oferece oportunidades de crescimento da audiência e gera rendimentos para marcas de moda que podem rentabilizar os seus produtos online”, continua o relatório O Estado da Moda 2022. Ou seja, à medida que se torna mais sofisticado e oferece “mundos virtuais cada vez mais multidimensionais a milhares de milhões de pessoas”, torna-se um canal privilegiado para as marcas de moda que procuram explorar os mais jovens e lucrativos grupos de consumidores.

Uma opção passa por criar e vender non-fungible tokens (NFT), que são elementos digitais únicos, permitindo assim comprar, manter e comercializar produtos de moda virtual.

“Com a indústria dos jogos preparada para um rápido crescimento, e no bom caminho para valer 219 mil milhões de dólares (cerca de 193 mil milhões de euros) até 2024, de acordo com a Newzoo, é evidente que o metaverso é uma área de potencial crescimento para as empresas de moda”, conclui o relatório.

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