Ómicron: Estará a Europa Dançando no escuro/Dancing in the Dark?

A nova variante do SARS-CoV-2 poderá estar claramente por baixo do nosso radar. Portugal está a sequenciar apenas 532 amostras por semana, quando o recomendado seriam 1435. Mas a vigilância também deve ser feita pelos laboratórios através dos testes PCR-RT, rastreando os casos de falha de deteção do gene S.

A nova variante Ómicron foi relatada pela primeira vez no Botswana em 11 de novembro de 2021 e em 14 de novembro de 2021 na África do Sul. Neste momento, já foi detectada na Europa em dez países (Reino Unido, Bélgica, Itália, Alemanha, Holanda, Dinamarca, Áustria, Noruega, Espanha), incluindo Portugal, principalmente em casos relacionados com viagens à África Austral.

E, no meio desta quinta onda pandémica de covid-19, o que poderá estar impulsionando este grande aumento de casos “a varrer” toda a Europa? Já existirá transmissão comunitária da Ómicron espalhada na Europa? Talvez só saibamos a resposta definitiva em uma a duas semanas. Mas a baixa taxa de sequenciação genómica do vírus SARS-CoV-2 na Europa pode sugerir que a Ómicron talvez seja a causa!

De acordo com as recomendações do organismo europeu de vigilância das doenças infecciosas-ECDC, no caso de um país (como Portugal, neste momento) com cerca de 20.000 casos de covid-19 por semana, se quisermos detectar uma nova variante com uma prevalência inferior (1%), é necessário sequenciar 1435 amostras por semana. O que está a acontecer é que o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) encontra-se apenas a sequenciar 532 amostras por semana (e esta taxa de amostragem é a 17.ª nos países europeus) desde Junho de 2021. Por isso a Ómicron poderá estar claramente por baixo do nosso radar.

Se for esse o caso, estas medidas que todos os países da Europa estão a tomar, de apertar o rastreio nas fronteiras e suspender os voos de e para países da África Austral, pode já não ter o efeito desejado! Esta ação poderá fazer apenas ganhar uma ou duas semanas, pois, com a disseminação provável desta variante mais transmissível pela Europa, os números irão, inevitavelmente, disparar ainda mais.

Para tornar mais rápida a deteção da propagação desta variante Ómicron (que, tal como a variante Alpha, tem uma falha na deteção do gene S nalgumas marcas de ensaios de PCR-RT), os laboratórios europeus deveriam começar a rastrear casos de falha de deteção do gene S nos testes de PCR-RT pois, certamente, constituirão um substituto, muito útil, da deteção genómica! Este procedimento permitirá acompanhar (quase em tempo real) a disseminação, abreviando a morosidade habitual dos testes de identificação genómica.

Portanto, enquanto a história se desenrola, algumas medidas urgentes e mais fortes deveriam ser implementadas, tais como reduzir a transmissão, incrementar a vacinação com as doses de reforço e, com a adequada comunicação, persuadir ainda mais pessoas a serem vacinadas.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Comentar