Incómodos da movida revoltam moradores. Câmara do Porto vai rever regulamento

Ruído em excesso, incumprimento nos horários por parte de bares, consumo de álcool na rua. Moradores da zona da Cordoaria, Leões e Galerias foram à autarquia reclamar direito ao descanso. Novo regulamento da movida está para breve

Foto
A Cedofeita é uma das zonas da movida PAULO PIMENTA

Foi há já uma década que Paula Amorim foi pela primeira vez à Câmara do Porto para relatar como a movida virava do avesso a vida dos moradores. Do abaixo-assinado subscrito por vários moradores e entregue a Rui Rio em 2011 diz não ter colhido nenhum fruto. De tal maneira que esta segunda-feira repetiu a visita aos Paços do Concelho para, durante a reunião camarária, exigir uma solução. Desta vez a Rui Moreira. “Aqui há Porto, mas também há moradores”, contestou, fazendo um trocadilho com o slogan da campanha autárquica do movimento independente e deixando um aviso: “Da próxima não venho para reuniões, venho acampar para a porta da câmara.”

O problema havia sido levantado umas horas antes, também durante a reunião, pela vereadora Ilda Figueiredo, que neste sábado visitou a zona dos Leões, Cordoaria e Galerias para ouvir os moradores e comerciantes. “Temos de olhar melhor para esta zona, no sentido de proteger os nossos moradores, para não sentirem que estão a mais na cidade”, pediu ao executivo, falando de problemas relacionados com o excesso de ruído, horários de bares e discotecas ou esplanadas na rua.

A vereadora comunista viu Rui Moreira admitir a existência de um problema de difícil resolução, que foi agravado por causa da pandemia e dos seus constrangimentos. “Aquilo que anteriormente se passava dentro de espaços que trabalhavam connosco em grande colaboração, a maioria desenvolvendo a sua actividade sem causar perturbação, passou-se para o exterior. Passamos a ter o botellón”, declarou.

A Câmara do Porto está neste momento a rever o regulamento da movida e promete apresentá-lo “muito brevemente”, garantiu o vereador Ricardo Valente, admitindo que os problemas existem, embora sejam “pontuais”. “Não é generalizado”, afirmou.

Desde que as restrições impostas pela pandemia, que levaram ao encerramento de estabelecimentos nocturnos, foram suspensas, o “gabinete da movida” da Câmara do Porto tem feito reuniões com associações representativas do sector, contou Ricardo Valente. A autarquia está a ponderar um “conjunto de medidas que compaginem aquilo que é a vivência da cidade com o usufruto da cidade do ponto de vista da noite”, adiantou.

Ainda este domingo, Rui Moreira juntou-se à Polícia Municipal para revelar, numa conferência de imprensa, a apreensão, nos últimos cinco fins-de-semana, de 35 colunas de som portáteis, por violarem a lei do ruído. Os incómodos relatados por moradores são vários e o autarca garante já ter alertado a PSP para a necessidade de um “controlo mais apertado”.

Garantindo que o regulamento será revisto – “parece-nos que ele é demasiado estático e precisa de ser mais variável” -, Rui Moreira disse ter em mãos um “problema muito grande”: o consumo de bebidas alcoólicas acontece nas ruas, alimentado por vendas ao postigo e em lojas de conveniência. E mesmo os menores, impedidos de comprar em bares, consomem ao ar livre depois de comprarem bebidas em supermercados ou outros locais.

Sublinhando que o problema da movida “já existia antes da pandemia”, o vereador Sérgio Aires quis discutir as “causas” que levam a essas compras e ao consumo na rua. “Restrições e proibições” não chegam, alertou, defendendo que o modelo de cidade e a forma como ela é gerida, nomeadamente na política para o turismo, deve ser chamado a esta equação.

Moradora na Cordoaria há 62 anos, Sara Gonçalves ouve ruído há 12 e está em ponto de desespero. “Sinto-me muito triste”, relatou aos vereadores durante a reunião. Mesmo depois de ter colocado vidros duplos em casa, a moradora diz ser impossível descansar e relatou a sua luta para ver o problema resolvido. Contactos com a Polícia Municipal e a PSP, vídeos feitos como prova, contacto directo com os infractores: nada tem atenuado a situação. No coreto em frente à sua casa, há todas as noites colunas a tocar música bem alto, gente a falar, sexo ao vivo, venda de droga. E diversos bares da zona funcionam de forma ilegal, para lá das duas da manhã.

“Quero o meu descanso em casa e tenho o meu direito a ele”, reivindicou a moradora Paula Amorim, pedindo “fiscalização permanente” e uma mudança de horários dos estabelecimentos daquela zona. “Estas casas teriam de ser fechadas às 21h, pediu. “A cidade não pode ser isto.”

Sugerir correcção
Ler 28 comentários