Mouriscas, a terrinha da avó
O leitor Nuno Oliveira apresenta-nos a aldeia onde vive a oliveira mais antiga de Portugal.
Poucos a conhecerão, mas muitos já ouviram falar dela. Mouriscas, a freguesia onde está a oliveira mais antiga de Portugal, com 3350 anos, fica no distrito de Santarém. Na A23, depois de passar por Abrantes, há uma saída. Vai-se por uma estrada em linha recta, com cerca de 200 metros e, se virarmos à esquerda, enfrentamos uma subida. Chegados ao topo, vemos uma rotunda com canteiro, a bandeira dos escuteiros e uma faixa de boas-vindas, havendo quatro saídas. A primeira irá dar ao campo de futebol, pelado, com tão pouco uso que já aí crescem papoilas, margaridas, dicotiledóneas. A segunda saída dá acesso ao centro de saúde, que nunca vi aberto porque só costumo ir a Mouriscas aos fins-de-semana. A terceira vai dar à igreja; continuando em frente e seguindo uma grande descida, desembocamos no centro da aldeia, muito vivo, com pessoas de setenta ou oitenta anos sentadas às portas dos cafés, a falarem sobre a vida e a olharem para os carros que lhes passam à frente, para ver quem lá se encontra. A última saída da rotunda irá levar-nos de volta à auto-estrada. Mas essa é uma opção que se arrependerão de escolher.
Terá cerca de 1500 habitantes, mas parece vazia porque as pessoas estão espalhadas por uma grande área. Se formos para o centro, vemos prédios de dois andares ou vivendas grandes e velhas. Muitos cafés, uma papelaria, uma loja chinesa, duas mercearias, uma farmácia e um cabeleireiro. Por volta do meio-dia vemos esta zona bastante preenchida, com pessoas a conviver nos cafés, a fazerem as suas compras, a irem para o trabalho. Todos se conhecem. Vemos sempre um sorriso, para onde quer que olhemos, causado pelo conforto de duas pessoas se voltarem a ver, mesmo que se tenham visto ainda no dia anterior. Além dos sorrisos, maioritariamente de pessoas de cabelo branco, bem-dispostas, humildes e alegres, vemos gente a fofocar sobre tudo, tal como nas páginas cor-de-rosa que se encontram no final de tablóides. À medida que nos afastamos do centro, os prédios desaparecem, começam a aparecer vivendas grandes, velhas e com enormes terrenos à volta. Vêem-se poucos carros. Ver-se-ão mais tractores, uma vez que os mourisquenses são trabalhadores. E há jovens, adultos e idosos a trabalhar no campo por gosto próprio.
Quando era mais novo, passava lá muito tempo. Aos fins-de-semana, ia ver a minha avó. Com o tempo, deixei de ir tantas vezes e agora, com a pandemia, já é muito tempo sem lá ir e as saudades já batem. É lá que costumo passar tempo com os meus primos, tios e parentes mais afastados, principalmente nas férias de Verão, quando há as festas da aldeia, no campo de futebol. São noites com muita comida e conversas, jogos de cartas, música, diversão. E uma boa febra ou migas com bacalhau.
Por estas bandas o Verão é muito quente e, portanto, costumamos ir às praias fluviais à volta da aldeia. É uma terra com muitos altos e baixos, para um verdadeiro ciclista é o sítio ideal. Nos Invernos, rigorosos, podemos descansar porque a chuva faz o trabalho por nós, e desfrutamos do som da natureza, do vento a passar pelas árvores e da chuva a bater na terra, enquanto estamos juntos à lareira.
O melhor é estar com a minha família. Os longos almoços nas casas uns dos outros, o jantar de Natal e de Ano Novo, são o que melhor alguém pode ter. São já muitas as saudades de estar com eles, saudades de Mouriscas.
Nuno Oliveira