Paralímpicos sem pressão para igualarem medalhas de 2016

O Comité Paralímpico de Portugal aponta às quatro medalhas - mas sem as exigir -, enquanto António Costa pensa nas nove. Excesso de confiança de Costa ou demasiada prudência do CPP? É difícil definir, mas o certo é que os efeitos da pandemia e o menor número de atletas relativamente a 2016 obrigam à cautela.

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Cerimónia de despedida da Missão Paralímpica de Portugal LUSA/MIGUEL A. LOPES

O contrato para os Jogos Paralímpicos de Tóquio prevê quatro medalhas e 22 diplomas, mas os 33 atletas podem encarar as provas sem pressão: o que interessa é que sintam que se superaram. É esta a mensagem principal para a comitiva portuguesa que começa nesta terça-feira a participação nos Jogos Paralímpicos.

Depois da melhor participação de sempre nos Jogos Olímpicos, a comitiva de Portugal para a competição paralímpica não exige tanto: igualar o Rio 2016 – quatro medalhas conquistadas – já será uma vitória e a melhor participação de sempre (15 medalhas) é, em tese, uma meta irreal para estes Jogos. Leila Marques, chefe da missão portuguesa em Tóquio, lembrou até que as quatro medalhas tinham sido delineadas num contexto pré-pandemia.

Porquê tanta prudência? A pandemia, sempre ela…

“Estudos mostram que existem impactos muito significativos no desporto, nomeadamente no desporto para pessoas com deficiência. Sabemos que esta população está mais vulnerável ao vírus, portanto, é natural que existam muitas pessoas que não pretendam iniciar a actividade desportiva”, apontou José Manuel Lourenço, presidente do Comité Paralímpico de Portugal (CPP).

E acrescentou: “Não podemos estar a fazer qualquer tipo de prognósticos ou exigências aos atletas devido a todo o contexto pandémico que viveram e sem muitas competições (…) é óbvio que queremos ter uma boa prestação, mas que isso não seja uma pressão para os nossos atletas. Queremos e sabemos que todos se vão superar”.

Costa aponta às… oito medalhas

Ideia diferente tem António Costa. Na recepção de despedida aos atletas paralímpicos, em Oeiras, na semana passada, o primeiro-ministro não poupou na confiança: “É seguramente nestes Jogos Paralímpicos que iremos ultrapassar a barreira das 100 medalhas”.

Se a previsão de Costa estiver certa, Portugal sairá do Japão com, pelo menos, nove medalhas – tem 92 no total. Excesso de confiança de Costa ou demasiada prudência do CPP? É difícil definir, mas o certo é que os efeitos da pandemia e o menor número de atletas relativamente a 2016 (37 para 33) obrigam à prudência.

Há, por outro lado, um aumento do investimento paralímpico de 2016 para 2021, algo que ajuda a prever resultados de destaque. E há modalidades “na calha” para saírem do Japão com um pedaço de metal ao pescoço.

O atletismo é, historicamente, uma modalidade profícua nas missões paralímpicas nacionais, mas também o boccia, que entrou mais tarde nos Jogos, tem sido uma fonte de medalhas frequentes.

No caso particular do boccia, segunda modalidade com mais medalhas conquistadas em Jogos Paralímpicos (26), apenas atrás do atletismo (53), Luís Ferreira, coordenador da modalidade, apontou que a pandemia traz um factor de desconhecimento dos adversários, pela falta de competições internacionais. Crê, ainda assim, em resultados de bom nível. “Toda a gente espera muito de nós, e nós somos os primeiros a querer, mas é impossível fazer previsões”, apontou à Lusa, sobre uma das modalidades mais fortes no desporto paralímpico português.

Atleta de 15 anos

Vamos a nomes. Atletas como Miguel Monteiro e Manuel Mendes, no atletismo, e José Macedo, no boccia, são alguns dos portugueses favoritos ao sucesso, até pelo passado de conquistas: os dois primeiros saíram do Rio de Janeiro com bronze, enquanto Monteiro foi quinto classificado no lançamento do peso, em 2016, e é o actual campeão da Europa e recordista do mundo.

Para José Macedo esta será a sexta presença em Jogos. Já tem em casa seis medalhas, entre as quais três ouros. Tal equivale a dizer que pode tornar-se, no Japão, o atleta português com mais ouros de sempre, igualando os quatro de Paulo Coelho e Carlos Lopes – não esse, mas o homónimo na vertente paralímpica.

Também Norberto Mourão (vice-campeão mundial e campeão europeu), na canoagem, ou Susana Veiga (campeã da Europa), na natação, têm resultados individuais que permitem prever luta pelas medalhas ou, no mínimo, pelos diplomas olímpicos.

Aos 34 anos, também David Grachat quererá um resultado de destaque, tendo assumido que decidiu ir a Tóquio para vingar o mau resultado no Rio de Janeiro. Apontou ao Record, em Maio, que deverá terminar a carreira nestes Jogos.

Nota ainda para a presença de Beatriz Monteiro, no badmínton. Não que a atleta seja necessariamente uma esperança de medalhas, mas porque vai a estes Jogos com apenas 15 anos.

Não nota algo em falta? Provavelmente, sim. O nome de Lenine Cunha, o paralímpico português mais renomado, não faz parte da comitiva portuguesa para Tóquio. Não há Lenine, mas há muito talento de nível internacional. Entre campeões europeus, recordistas do mundo e medalhados olímpicos, Portugal tem muito por onde ser feliz.

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