Cerdeira, a renascida: “Há qualquer coisa de mágico” nesta aldeia da Lousã
A leitora Manuela Santos também se sentiu renascer nesta aldeia da serra da Lousã. “Tenho uma grande vontade de viver. Sei que a felicidade é este momento.”
Há qualquer coisa de mágico nesta aldeia. Escorregando por uma das encostas da serra da Lousã sobre tapetes verdes que se vão lavar nas águas murmurantes dos vários riachos, a aldeia de Cerdeira tem um enorme orgulho nas suas pequenas casinhas de xisto em tons de castanho-acinzentado e recebe-nos de braços abertos como se fossem o nosso lar.
Talvez estas casas tenham ainda memórias dos habitantes de outrora, embora a sua recuperação tenha trazido muito mais conforto para o turista que a visita. Sempre ouvi a expressão “se as paredes falassem teriam muito que contar”. Acredito que sim, tal como estas encostas, que sentiram as mãos gretadas nelas cravadas para arrancar da terra o sustento para toda a família. Certamente escutaram suspiros e viram lágrimas quando a vida parecia ser tão difícil. Mas também assistiram a muitos momentos de felicidade e alegria quando nascia mais um filho da terra ou os campos trabalhados e regados com tanto suor retribuíam com uma boa colheita.
Quando o último habitante partiu para sempre, já só restavam pedras abandonadas e os campos mal amanhados ficariam anos ao abandono. Mas a Cerdeira voltou. Renasceu para outras vidas, outros tempos. Deu lugar a um turismo que procura o sossego e o diálogo com a natureza.
Olho da varanda de uma das casas, a casa da árvore, e pouso os meus olhos naquelas encostas verdes que se elevam até ao céu. Estão tão perto que quase as consigo agarrar. Cercam-me e aprisionam-me de forma inexplicável. O horizonte é ínfimo. Vai do sopé até ao cume da serra. No entanto, sinto uma tranquilidade enorme, uma vontade de procurar o meu eu, de dialogar comigo mesma.
Tal como a Cerdeira, também eu me sinto renascer. Tenho uma grande vontade de viver. Sei que a felicidade é este momento.
Manuela Santos