Ministério quer desporto escolar mais ligado às federações desportivas
No próximo ano lectivo, as equipas de alunos mais avançadas só poderão ter tempo para treinos se estiverem federadas.
Depois de quase dois anos de paralisia devido à covid-19, o Desporto Escolar (DE) vai apostar, a partir de agora, no reforço da articulação com as federações desportivas e clubes locais. Para além dos professores das escolas, algumas das equipas escolares poderão também ser acompanhados por treinadores desses mesmos clubes.
Esta é uma das orientações de base do Programa Estratégico do Desporto Escolar 2021-2025, divulgado recentemente pelo Ministério da Educação e que, entre outras medidas, será concretizada no próximo ano lectivo por via desta nova imposição: as escolas só terão tempos atribuídos para o treino das equipas de alunos mais avançadas (nível III) se estas estiverem inscritas em federações desportivas.
No conjunto, o ME atribuiu às escolas 22.600 tempos lectivos para as actividades do Desporto Escolar a serem desenvolvidas no próximo ano lectivo. Em 2018/2019 tinham sido distribuídos 22.400. Os tempos lectivos têm geralmente uma duração de 45 minutos.
Em respostas ao PÚBLICO, o ministério revelou que “em média, nos últimos anos lectivos, estiveram inscritos no Desporto Escolar cerca de 175 mil praticantes em contexto competitivo através dos grupos-equipa”.
No seu novo programa para o Desporto Escolar, o ME assume como objectivo ter, em 2022/2023, 500 mil alunos envolvidos em competições de nível I e II. Existe mais um nível, o III, onde estão enquadradas “as modalidades e os grupos-equipa de elevado potencial desportivo”. A rota para este nível passa pelo seu “aprofundamento progressivo, assumindo o objectivo de aproximar o Desporto Escolar do Desporto Federado, enquanto verdadeira base da pirâmide desportiva”.
Esta função foi realçada, por várias vezes, durante os Jogos Olímpicos de Tóquio. Patrícia Mamona lembrou que o seu percurso começou no Desporto Escolar e apelou a um maior investimento neste programa. Também o ex-presidente do Comité Olímpico de Portugal, Vicente Moura, exortou o ministro da Educação a apostar no desporto escolar, frisando que apenas 20% dos jovens pratica desporto na escola, o que é “claramente insuficiente” e torna “difícil conseguir encontrar atletas de alta competição com qualidade”.
No programa agora divulgado, o ME assegura que, no presente quadriénio, se vai proceder “ao aumento da oferta de modalidades desportivas, com foco nas olímpicas e nos desportos de praia”. E que pelo menos oito modalidades terão planos estratégicos elaborados com as respectivas federações desportivas. Não são indicadas quais. Actualmente o DE abrange cerca de 40 modalidades desportivas. As mais procuradas são o futsal, voleibol, badminton e ténis de mesa. No pólo oposto estão o hóquei em campo, luta e taekwondo.
Professores levantam dúvidas
Num comentário enviado ao PÚBLICO, o presidente do Conselho Nacional de Associações de Profissionais de Educação Física e Desporto (CNAPEF), Avelino Azevedo, considera que participação de equipas do Desporto Escolar em quadros competitivos federados “é, sem dúvida uma boa política”. “No entanto e apesar das boas intenções, é necessário enquadrá-la convenientemente e perceber que algo que aparentemente é uma medida positiva, pode transformar-se em algo inócuo ou até mesmo nocivo”, alerta.
Avelino Azevedo frisa que “o aumento do número de competições está sobretudo condicionado pelo financiamento”: “Não se percebe muito bem, como será possível criar condições de participação de um grupo-equipa de uma escola num quadro competitivo federado sem um financiamento que garanta verbas, por exemplo, para transportes”. Afirma também que a aposta na competição federada pode suscitar dúvidas sobre “qual é efectivamente o grande objectivo do Desporto Escolar: criar bases para o sistema federado aproveitar ou ser seu concorrente?”.
Sobre esta e outras questões suscitadas pelo novo programa estratégico, o presidente do CNAPEF sublinha que este “é um referencial que carece naturalmente de ser devidamente regulamentado”. Só que para o início das aulas falta pouco mais de um mês e sem aquela regulamentação, avisa, “é impossível perceber a forma prática e os meios de operacionalização das medidas contempladas”: