RTP deve ser dotada dos meios necessários para cumprir responsabilidades acrescidas, defende Ferro Rodrigues

O Presidente da AR lembrou que são obrigações da RTP, do seu ponto de vista, garantir “a imparcialidade e independência da informação e do comentário” e combater a “desinformação”.

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Ferro Rodrigues, presidente da AR Rui Gaudencio

O presidente da Assembleia da República afirmou nesta sexta-feira que se a RTP, enquanto concessionária de serviço público, “está sujeita a responsabilidades acrescidas” com o novo contrato, “deve também ser dotada dos meios necessários para as cumprir”.

Eduardo Ferro Rodrigues falava no início da conferência parlamentar “RTP - O Futuro do Serviço Público de Rádio e Televisão”, que hoje decorre em Lisboa.

“Se a RTP, enquanto concessionária do serviço público de rádio e televisão, está sujeita a responsabilidades acrescidas, deve também ser dotada dos meios necessários para as cumprir”, afirmou Ferro Rodrigues, salientando que “um contrato deve ser um encontro de vontades, do qual deve resultar um equilíbrio dos deveres” para as partes envolvidas.

O presidente da Assembleia da República disse estar convicto de que “a nova administração, como a cessante, a par da boa gestão dos recursos, humanos e financeiros, disponíveis, saberá encontrar os meios necessários para garantir a sustentabilidade da RTP”.

“Como estou certo de que o Governo tudo fará para que a RTP possa cumprir cabal e integralmente os compromissos assumidos. Todos estamos interessados em assegurar não só a subsistência da RTP como o futuro do serviço público de rádio e televisão”, acrescentou.

A consulta pública do novo contrato de concessão da RTP — que inclui obrigações acrescidas — contou com mais de 2500 contributos, o que levou Ferro Rodrigues a considerar “que é bem demonstrativo do interesse que este assunto suscita na sociedade em geral”.

A revisão do contrato de concessão visa adequar a RTP às mudanças que se têm registado no sector, diversificando a oferta através dos conteúdos, dos serviços de programas ou das plataformas.

“Não posso, contudo, deixar de salientar duas obrigações a que sou particularmente sensível e que entendo como pilares de qualquer Estado de direito democrático”, a primeira, “a imparcialidade e independência da informação e do comentário” e a segunda, “o combate à desinformação”, destacou, sendo estas “duas vertentes da mesma realidade”.

Ferro Rodrigues salientou que se vivem “tempos em que, devido ao desenvolvimento tecnológico, a informação e, inevitavelmente, a desinformação circulam a uma velocidade sem precedentes”.

E, embora as fontes das notícias sejam agora inúmeras, “tal não equivale necessariamente a melhor informação”, uma vez que “a notícia sem contextualização e sem interpretação é, invariavelmente, fonte de desinformação, pela percepção imprecisa ou equívoca que origina”.

Actualmente, “qualquer um pode arrogar-se propagador de informação, atendendo aos meios tecnológicos ao seu dispor”, prosseguiu o presidente da Assembleia da República, apontando que “o combate à desinformação faz-se, precisamente, através da informação rigorosa, imparcial e independente, pautada pelos mais elevados padrões jornalísticos”.

Os factos “devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis, e devem ser interpretados e relatados com seriedade, rigor e exactidão, como impõe o Código Deontológico dos Jornalistas”, referiu.

“O critério nos programas de informação no âmbito do serviço público deve ser, assim, tão-só o da relevância da notícia, indiferentemente a pulsões de popularidade ou sensacionalismo”, defendeu.

A opinião, disse Ferro Rodrigues, “deve ser claramente percebida pelo público como uma realidade distinta da notícia, e o comentário deve, por sua parte, ser distinto do entretenimento”, uma vez que “o serviço público não se compadece com opinião travestida de notícia”.

Estas opções “têm, naturalmente, implicações financeiras, que terão de ser respondidas e que o contrato de concessão deve acautelar, atento o propósito de se eliminar progressivamente a publicidade do serviço público de televisão em todos os serviços de programas, com excepção da RTP 1”, sublinhou.

Ferro Rodrigues destacou ainda o papel da Assembleia da República no acompanhamento da execução deste contrato.

“A Assembleia da República deve ser mantida informada sobre o cumprimento do serviço público, designadamente através do envio anual dos Planos de Actividades e Orçamento e dos relatórios de actividades e contas, podendo convocar os membros do Conselho de Administração e do Conselho Geral Independente, bem como os provedores do serviço público, para a prestação de esclarecimentos respeitantes ao funcionamento do serviço público que considere necessários”, referiu.

A Assembleia da República, nomeadamente através da Comissão de Cultura e Comunicação, “fará, como sempre, integral e cabal uso dos poderes de acompanhamento que lhe são estipulados”.