Bolsas Fundação “la Caixa”: apoiar a investigação para um futuro inovador

Em 2020, a Fundação “la Caixa” concedeu 230 bolsas, num valor total de 30 milhões de euros. O objectivo é a promoção de investigação de qualidade com vista à inovação. Estes são alguns dos projectos apoiados.

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Muito vasto, abrangente e organizado com vista a garantir que não só os melhores são apoiados como também todo o processo é gerido com total transparência, o Programa de Bolsas da Fundação “la Caixa” caracteriza-se por incluir bolsas de pós-graduação, doutoramento e pós-doutoramento. No ano passado, foram atribuídas 230 bolsas, das quais 120 destinaram-se a apoiar pós-graduações no estrangeiro, o que faz deste um dos programas mais significativos da Europa. Outra das vertentes daquele programa com grande expressão passa por apoiar quem pretende desenvolver doutoramentos e pós-doutoramentos em Portugal e Espanha em diversas áreas. Fomos conhecer alguns dos projectos que estão em investigação com o apoio das bolsas da Fundação “la Caixa” atribuídas em 2020

Mecânica quântica para comunicar melhor

“Usar os fenómenos particulares da mecânica quântica para criar maneiras de representar, processar e transmitir informação” é o objectivo da investigação que Sagar Pratapsi está a desenvolver no Instituto de Telecomunicações com uma bolsa de doutoramento INPhINIT Retaining. Quanto às aplicações da sua área de estudo, salienta que “há a esperança de encontrar novas ferramentas para resolver problemas que são computacionalmente difíceis, como o desenho de novos fármacos e materiais, ou novos protocolos de comunicação que sejam mais seguros e robustos”. Entre as muitas vantagens que encontra no programa de bolsas “la Caixa”, aponta o “sentimento de apoio” ao seu projecto, bem como o facto de os bolseiros serem incentivados a “planear activamente a carreira” e de beneficiarem de um contrato de trabalho com “direito a protecções sociais”, o que “não é ainda a norma dos trabalhadores científicos em Portugal”, reconhece.

Prevenir metástases do cancro da próstata

Criar um biomarcador capaz de prever o desenvolvimento de metástases em doentes com cancro da próstata e, assim, optimizar o tratamento é o alvo da investigação de Vera Constâncio. A realizar o doutoramento em Ciências Biomédicas no Centro de Investigação do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, realça a oportunidade oferecida pela Fundação “la Caixa” para desenvolver o seu projecto e “adquirir novos conhecimentos e soft skills”. Vera Constâncio sublinha ainda a possibilidade de “colaborar com outros investigadores não só da área da Oncologia - este projeto específico é uma colaboração entre o IPO do Porto, a Fundação Champalimaud e o CRUK Beatson Institute de Glasgow, Reino Unido - mas também com investigadores de áreas muito diversas, com diferentes backgrounds e perspectivas”.

Monitorizar o movimento das raias

O projecto de doutoramento de Sebastian Kraft baseia-se no estudo do movimento das raias no Parque Marinho Prof. Luiz Saldanha, na península de Setúbal. Recorrendo a telemetria acústica, avalia a informação recolhida por pequenos aparelhos implantados nestes animais, com vista a perceber o grau de protecção de que beneficiam. Desta forma, será possível apoiar decisões de gestão e manutenção. Ligado ao Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, o investigador beneficia de uma bolsa INPhINIT Incoming e reconhece à Fundação “la Caixa” um “importante contributo para o desenvolvimento da ciência”.

Como localizar robôs autónomos móveis?

João Braun decidiu deixar de dar aulas no curso superior de Engenharia Mecânica na UNIVEL, um centro universitário no Brasil, quando soube que tinha sido um dos seleccionados pelo programa de bolsas da Fundação “la Caixa”. De imediato rumou a Portugal, mais propriamente ao Centro de Investigação em Digitalização e Robótica Inteligente, onde procura “desenvolver um sistema de localização indoor para robôs autónomos móveis”, os quais podem ter inúmeras aplicações, nomeadamente na logística para armazéns, hospitais e outros ambientes similares.

Alcançar o universo através de simetria espelho

Nasceu em Londres, mas é em Lisboa que Robert Hanson tenta compreender o universo, mais propriamente através da investigação que desenvolve no Centro de Análise Matemática, Geometria e Sistemas Dinâmicos. Combinando ideias da física teórica com geometria, procura entender como é o universo nas menores escalas possíveis, recorrendo à teoria da simetria de espelho. Em relação à bolsa da Fundação “la Caixa” de que beneficia, refere que esta instituição “disponibiliza uma rede de apoio maior do que qualquer universidade pode oferecer”.

De uma semente a uma nova geração de plantas

Aos 25 anos de idade, Jessy Silva está empenhada em “compreender os processos que levam à formação duma semente que culminará numa nova geração de plantas”. No doutoramento que está a realizar em Biologia Vegetal, no Laboratório Associado para a Química Verde da Rede de Química e Tecnologia, pretende perceber a relação entre as proteínas arabinogalactânicas e o cálcio durante a reprodução numa planta modelo denominada Arabidopsis thaliana.  A beneficiar de uma bolsa de doutoramento INPhINIT Retaining, considera que esta é “uma oportunidade única” para desenvolver a sua investigação em Portugal, “em colaboração com uma equipa multidisciplinar internacional”.

Perceber a coerção nos serviços de saúde mental

Qual é a influência das políticas de saúde mental, da legislação e da organização dos serviços de saúde mental no recurso a tratamentos compulsivos e outras medidas coercivas? Avaliar este impacto é o objectivo da pesquisa levada a cabo por Deborah Aluh no Centro de Investigação Integrada em Saúde – Investigação, Educação e Inovação em Investigação Clínica, em colaboração com a FOSTREN - Fostering and Strengthening Approaches to Reducing Coercion in European Mental Health Services, uma acção financiada pela União Europeia. Quanto ao programa de bolsas “la Caixa”, encara-o como uma “oportunidade incrível” de os investigadores “maximizarem o seu potencial”.

Genes que ajudam a tratar melhor o cancro

Há já algum tempo a estudar como é que a competição celular se processa, Miguel Pinto beneficia de uma bolsa atribuída pela Fundação “la Caixa” para investigar se o crescimento de determinadas células tumorais pode ser travado através da manipulação de determinados genes. Em caso afirmativo, “pode abrir-se uma nova janela de oportunidade para a criação de novas terapias com o intuito de combater o cancro, usando estes genes como alvo”, explica o investigador que desenvolve a sua pesquisa na Fundação Champalimaud, em Lisboa.

Tratar melhor o cancro da mama

Compreender as causas do cancro da mama, descobrir biomarcadores para a sua detecção precoce e desenvolver terapias para o combater em estadio avançado. Estes são os principais objectivos da investigação que Esha Madan está a desenvolver na Fundação Champalimaud, com o apoio de uma bolsa de pós-doutoramento Junior Leader. Acima de tudo, pretende “construir uma ponte desde o laboratório até à clínica, conseguindo um impacto significativo na gestão da doença e na vida das pessoas com cancro da mama”, explica. Em relação à bolsa da Fundação “la Caixa”, destaca que lhe conferiu a “possibilidade de desfrutar da independência de pensamento e exercitar esta liberdade” para levar a cabo a sua investigação.

“Tubo de ensaio” para o futuro pós-5G

Com a crescente utilização da Internet, as necessidades de largura de banda vão ser cada vez maiores e há que trabalhar no desenvolvimento de novas técnicas de comunicação óptica, capazes de suportar taxas de transmissão extremas pós-5G. Foi isto mesmo que Fernando Guiomar se propôs fazer no seu pós-doutoramento, projecto para o qual lhe foi atribuída uma bolsa “la Caixa”. Para tal, está a trabalhar numa “rede de comunicações implementada no campus da Universidade de Aveiro, que sirva de tubo de ensaio para a definição das próximas tecnologias de comunicação 6G”. Nas suas palavras, “o programa de bolsas da Fundação “la Caixa” proporciona uma oportunidade única para investigadores ainda em fase inicial da carreira, permitindo-lhes financiar os seus projectos de investigação durante um período de três anos, em que além de serem comparticipados os custos de contratação do investigador, são também concedidos fundos adicionais para apoio à investigação”.

Compreender o comportamento de um peixe

“Um paradoxo moderno é que, embora possamos programar robôs para se moverem, cada vez mais, de maneiras naturais, temos pouco conhecimento sobre o algoritmo usado pelo cérebro para controlar seu comportamento”. É desta maneira que Adrien Jouary começa por explicar a pesquisa que leva a cabo na Fundação Champalimaud na área das neurociências. Ali, estuda o peixe-zebra para compreender a relação entre os seus 80 mil neurónios e o comportamento. Além das vantagens conhecidas do programa de bolsas da Fundação “la Caixa”, frisa o facto de este ser desenhado com vista a ajudá-lo a “crescer como investigador independente”, uma vez que é “responsável por todo o projecto”.

Detectar a doença de Alzheimer quanto antes

Tendo em conta que podem começar a verificar-se alterações microscópicas no cérebro de doentes de Alzheimer anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas, Andrada Ianus dedica-se a desenvolver um método de ressonância magnética que possa ser usado nesse âmbito, com vista a melhor compreender a doença e contribuir para tratamentos mais eficazes. A trabalhar na Fundação Champalimaud, recebeu uma bolsa de pós-doutoramento Junior Leader em 2020 e chama a atenção para as vantagens do programa de bolsas que, no seu caso, vai permitir a translação para a clínica da técnica desenvolvida.

Encontrar bosões de Higgs

A investigação de Inês Ochoa centra-se naquilo que a própria designa como “uma das peças fundamentais do universo” referindo-se ao bosão de Higgs, descoberto em 2012. “Desenvolver novas técnicas de análise de dados para encontrar os bosões de Higgs que são criados às mais altas energias e, com eles, procurar sinais de partículas ou fenómenos nunca antes detectados” é o objectivo da investigadora que está, desde 2020, associada ao Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, em Lisboa. Depois de ter realizado um doutoramento e um pós-doutoramento no estrangeiro, sentiu que era “importante voltar a estar associada a uma instituição portuguesa”, o que é agora possível através de uma bolsa Junior Leader da Fundação “la Caixa”. Nas suas palavras, tal “representa uma rara oportunidade para investigadores que queiram estabelecer-se em Portugal com o seu próprio financiamento e plano de trabalhos”.

Compreender as bactérias e a resistência a antibióticos

“Encontrar formas de eliminar as bactérias que entram para dentro das nossas células, utilizando fármacos que as eliminam neste ambiente ou que potenciam os mecanismos utlizados pelas nossas células para o fazer.” É assim que Pedro Matos Pereira revela o objectivo do trabalho que desenvolve no Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa, acreditando que a sua pesquisa “terá amplas implicações na compreensão dos mecanismos de infecção bacteriana e de reconhecimento bacteriano por parte das nossas células, e de como estes processos influenciam o sucesso do tratamento de pacientes”. Pedro Matos Pereira afirma que se candidatou duas vezes ao programa Junior Leader Incoming da Fundação “la Caixa”, mas só à segunda foi seleccionado para financiamento e conta a história, porque entende que pode ser útil a todos os que pensam candidatar-se: “Creio que esta informação é importante, uma vez que, na vida real, as coisas não correm sempre bem e é importante não desistir. A primeira candidatura foi essencial para melhorar a proposta que no final foi financiada. Este processo interactivo só foi possível porque o programa está muitíssimo bem organizado e permite obter feedback construtivo independentemente de a candidatura ser ou não financiada, e o processo é claro e transparente.”

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