UE analisa casos de síndrome nervosa rara após aviso dos EUA sobre vacina da Johnson & Johnson

Foram reportados cerca de 100 casos suspeitos da síndrome Guillain–Barré após a inoculação com a vacina da Janssen nos EUA, mas a FDA garante que os benefícios continuam a superar os riscos.

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A vacina de dose única pode levar a um risco acrescido de desenvolver uma condição neurológica rara Dado Ruvic/Reuters

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) revelou esta terça-feira que está a analisar dados sobre casos de uma síndrome nervosa rara registados em pacientes que tomaram a vacina contra a covid-19 da Johnson & Johnson, um dia depois de os Estados Unidos terem incluído uma advertência no folheto informativo da vacina para a possibilidade de desenvolver esta condição conhecida como síndrome Guillain–Barré.

“O comité de segurança da EMA (PRAC) está a analisar dados fornecidos pela Johnson & Johnson sobre casos da síndrome Guillain–Barré reportados após a vacinação”, disse a EMA num comunicado enviado à Reuters. “O PRAC requisitou (à farmacêutica) mais dados detalhados”, acrescentou.

O anúncio da EMA surge depois de o regulador norte-americano, a Food and Drug Administration (FDA), ter incluído na segunda-feira uma advertência no folheto informativo da vacina da Johnson & Johnson que alerta para a possibilidade de a vacina de dose única pode levar a um risco acrescido de desenvolver a condição neurológica rara nas seis semanas após a inoculação.

Numa carta enviada à farmacêutica, a FDA disse que a probabilidade de contrair a síndrome de Guillian-Barré após a vacinação é “muito baixa”. Porém, alertou que os vacinados devem procurar assistência médica se apresentarem sintomas como fraqueza ou formigueiro, dificuldade em caminhar ou nos movimentos faciais.

Cerca de 12,8 milhões de pessoas já receberam a vacina contra a covid-19 da Johnson & Johnson nos Estados Unidos. A farmacêutica distribuiu também já 18,6 milhões de doses pelos países da União Europeia, de acordo com o Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças.

No anúncio sobre a sua decisão, a FDA disse que foram identificados cerca de 100 casos suspeitos da síndrome Guillain–Barré entre pessoas que receberam a vacina de dose única, entre os quais 95 casos graves que exigiram tratamento hospitalar, tendo sido também reportada uma morte. Segundo o jornal The New York Times, um homem de 57 anos de Delaware, que sofreu um ataque cardíaco e um derrame nos últimos quatro anos, morreu no início de Abril depois de ser vacinado e ter desenvolvido a síndrome de Guillain-Barré.

“Não é surpreendente encontrar este tipo de eventos adversos associados à vacinação”, disse ao jornal Luciana Boria, ex-cientista-chefe interina da FDA durante o regime do presidente Barack Obama. Os dados recolhidos até agora pela FDA sugerem que os benefícios da vacina “continuam a superar muito os riscos”, acrescentou.

De acordo com um comunicado do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a maioria dos casos foram registados em homens, muitos dos quais tinham 50 anos ou mais. Não foi encontrada nenhuma ligação entre a síndrome e as vacinas desenvolvidas pela Pfizer/BioNTech ou Moderna, os outros dois fabricantes autorizados federalmente.

A EMA disse ainda que a análise destes casos faz parte do processo de revisão das condições de segurança das vacinas e não forneceu detalhes sobre potenciais casos da síndrome Guillain–Barré na Europa.

O regulador dos medicamentos britânico (MHRA) revelou esta terça-feira que também está a analisar casos desta síndrome nervosa rara em pessoas vacinadas, mas destacou que, até ao momento, “a análise não estabeleceu que essas vacinas aumentem o risco” de desenvolver a condição.

A síndrome de Guillian-Barré é uma síndrome nervosa rara que ocorre quando o sistema imunológico danifica as células nervosas, causando fraqueza muscular e paralisia ocasional. A maioria das pessoas recupera até mesmo dos sintomas mais graves, mas em casos raros podem sofrer paralisia quase total.

A síndrome também já foi associada a outras vacinas. O CDC disse que as vacinas contra a gripe, incluindo a vacina da gripe suína de 1976, aumentaram um pouco o risco de contrair a síndrome, embora alguns estudos sugiram que há maior probabilidade de a desenvolver com a própria gripe.