Covid-19: ECDC sugere duas doses da vacina para pessoas de risco mesmo previamente infectadas

Portugal, Áustria, Croácia, Estónia, França, Alemanha, Irlanda, Holanda, Eslovénia e Espanha administram apenas uma dose de vacina a pessoas anteriormente infectadas.

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Portugal é um dos países que administra apenas uma dose da vacina a pessoas que já forma infectadas Rui Gaudencio

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) recomenda a administração de duas doses de vacina contra a covid-19 a pessoas de risco, mesmo que tenham estado anteriormente infectadas com o coronavírus SARS-CoV-2.

“Na ausência de provas sobre a eficácia de uma dose de vacina em indivíduos previamente infectados contra o previsto domínio da variante de preocupação Delta, [...] o ECDC aconselha a administração de um curso completo de vacinação a todos os indivíduos com risco acrescido de covid-19 grave, independentemente da infecção anterior”, indica o organismo em resposta escrita hoje enviada à agência Lusa.

A posição surge numa altura em que países como Portugal, Áustria, Croácia, Estónia, França, Alemanha, Irlanda, Holanda, Eslovénia e Espanha administram apenas uma dose de vacina a pessoas anteriormente infectadas, e em que a variante Delta do SARS-CoV-2, inicialmente detectada na Índia e mais transmissível que qualquer outra, se propaga rapidamente na União Europeia (UE).

No caso de Portugal, apenas uma dose de vacina é recomendada a estas pessoas - para as vacinas com calendário de duas doses -, sendo administrada seis meses após a infecção.

Questionado sobre esta opção dos países, incluindo Portugal, o ECDC indica à Lusa que “as estratégias nacionais de vacinação devem ter em conta o contexto epidemiológico local, entre outras coisas”.

Também questionada pela Lusa, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) informa em resposta escrita que “as decisões sobre a forma como as vacinas devem ser administradas continuam a ser uma responsabilidade dos organismos especializados que orientam a campanha de vacinação em cada Estado-membro”.

“Estes organismos estão em melhor posição para ter em conta as condições locais, incluindo a propagação do vírus - especialmente quaisquer variantes preocupantes -, a disponibilidade de vacinas e as capacidades do sistema nacional de saúde”, refere a EMA à Lusa.

O regulador europeu adianta que as vacinas por si autorizadas “protegem contra todas as estirpes que são dominantes na UE”, incluindo a Delta, embora admita necessidade de “vigilância”.

Na maioria dos países europeus, são administradas duas doses mesmo a quem esteve anteriormente infectado com o vírus, como Bélgica, República Checa, Dinamarca, Finlândia, Hungria, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polónia, Roménia, Eslováquia e Suécia, segundo dados do ECDC.

Estão aprovadas quatro vacinas anticovid-19 na UE: a Comirnaty (Pfizer/BioNTech), Spikevax (Moderna), Vaxzevria (AstraZeneca) e Janssen (grupo Johnson & Johnson).

Destas, apenas a Janssen é de dose única, sendo todas as outras administradas em duas doses e com intervalos recomendados pela EMA que variam entre 21 dias (Comirnaty), 28 dias (Moderna) e quatro a 12 semanas (Vaxzevria).

Num relatório divulgado na semana passada, o ECDC estimou que a variante Delta do SARS-CoV-2 seja responsável por 90% das novas infecções na Europa até final de Agosto e por um aumento nos internamentos e mortes, pedindo avanços rápidos na vacinação na UE.

Nesse documento, o centro europeu explicou que “aqueles que receberam apenas a primeira dose - de um processo de vacinação de duas - estão menos protegidos” contra a variante Delta.

“No entanto, a vacinação completa proporciona protecção”, acrescentou a agência europeia.

Nesse relatório, o ECDC indicou também que “aproximadamente metade dos países da União Europeia e do Espaço Económico Europeu recomendam uma dose única de vacina covid-19 aos anteriormente infectados com SARS-CoV-2”.

“Entre os indivíduos anteriormente infectados, estudos demonstraram que a vacinação com uma dose proporciona uma imunidade comparável aos indivíduos totalmente vacinados”, mas “ainda não é claro se isto se traduzirá numa protecção e duração de protecção comparáveis, em particular à luz das variantes”, alertou o organismo.