Deputada australiana diz ter sido assediada por colega de partido
Julia Banks era deputada do Partido Liberal. Ao sair do partido, em 2018, terá sofrido represálias por parte do primeiro-ministro Scott Morrison.
Na Austrália, os holofotes estão virados para o executivo, depois de sérias acusações de assédio. Em Março de 2021, o Governo australiano anunciou a abertura de um inquérito sobre a cultura de trabalho no parlamento, na sequência da violação de uma funcionária da instituição, Brittany Higgins, por um colega sénior. Agora, a deputada Julia Banks junta-se à onda do movimento #Metoo e revela que foi assediada por um colega do partido, num acto “chocantemente descarado”.
A revelação de Julia Banks é feita no seu novo livro de memórias, Power Play: Navigating Bias and Barriers Leadership (ed. Hardie Grant Books), que é lançado esta quarta-feira, onde além de contar o episódio de assédio que terá sofrido, lança farpas ao primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, descrevendo-o como “ameaçador” e “controlador”. A deputada, que é uma acérrima apoiante do ex-primeiro-ministro Malcom Turnbull, que liderou o executivo entre 2015 e 2018, diz ainda que sofreu represálias e que foi vítima de bullying quando deixou o Partido Liberal, em 2018.
Tudo terá piorado quando, depois de Turnbull ter abandonado a liderança do executivo, Julia Banks votou em Julie Bishop para assumir o Partido Liberal, em detrimento de Morrison. “Eu fui uma das 11 pessoas que votou em Julie Bishop, e a única mulher que votou. Ele não ficou muito feliz com isso”, disse a deputada, em entrevista ao programa de televisão Today.
A partir dessa altura, a deputada diz que a sua imagem começou a ser denegrida nos meios de comunicação social e descobriu que teria sido o seu antigo partido a dizer aos jornais que sofreu “um colapso emocional” e que estava “um caco”. Julia Banks terá confrontado o primeiro-ministro Scott Morrison com tudo isto, o que o deixou “numa posição complicada”, já que queria angariar o “voto” da deputada.
Quando Banks recusou uma posição de ministra e uma “viagem com todas as despesas pagas a Nova Iorque”, começaram as “represálias e retaliações”. “Estava sob fogo”, conta, confessando que queria “dizer-lhe a ele e aos intimidadores para recuarem”.
Confrontado com as acusações de Julia Banks, o gabinete do primeiro-ministro confirma, ao 9 News, ter ficado “desapontado” quando a deputada saiu do partido e teve “várias conversas” para perceber como poderia oferecer “apoio”, antes de esta abandonar o parlamento, mas nega quaisquer alegações de bullying e discriminação de género.
“Não sou a única mulher que não confia no processo”
No novo livro, Julia Banks fala, pela primeira vez, sobre um episódio de assédio vivido na primeira pessoa no parlamento. Um colega do antigo partido (que não identifica), enquanto esperavam pelo resultado de uma votação, no gabinete do primeiro-ministro, terá tocado inapropriadamente na deputada, pondo a sua mão “acima do joelho” da colega e movendo-a “lentamente e deliberadamente” pelo “interior da sua perna”, de forma “chocantemente descarada”, descreve Banks.
“Sei que já aconteceram coisas bem piores com outras mulheres no local de trabalho, certamente já me aconteceram até a mim ─ mas o que me incomodou é que esta jogada foi feita a mim, uma advogada com 50 e tal anos, membro do parlamento”, relatou a deputada, esta segunda-feira, no canal de televisão ABC Austrália.
Independentemente das alegações feitas, Julia Banks garante que não vai submeter a sua queixa ao inquérito em curso sobre a cultura de trabalho no parlamento, porque não confia no sigilo. “Não sou a única mulher que não confia no processo”, lamenta. Isto porque, segundo a advogada, quando o inquérito for submetido ao Governo, “é submetido a Morrison”. “Com base na minha experiência de fugas de informação e confidencialidade, acho que devo dizer tudo o que preciso dizer só no livro”, defende.
O gabinete do primeiro-ministro negou ter conhecimento das acusações de assédio feitas por Julia Banks, mas condenou “tal comportamento”, que é “completamente inapropriado”.