As aventuras das Doce num país amargo
Bem Bom resulta num filme competente, possuidor de alguma nada despicienda energia, mas que se satisfaz demasiado, e demasiado depressa, com a condição de “revival” semi-nostálgico dos primeiros anos de 1980.
Bem Bom é, resumidamente, a história das Doce, o primeiro grupo do seu género a existir neste país, e das pinceladas de cor (real e metafórica) que trouxeram ao Portugal cinzento da viragem dos anos 1970 para os 1980. Também era o tempo do princípio da televisão a cores em Portugal, e o filme de Patrícia Sequeira, numa das suas sequências mais interessantes, evoca o modo como a participação do grupo no Festival da Canção de 1980, uma das primeiras emissões coloridas no período experimental, foi pensada ao pormenor para tirar proveito disso – para depois começar a levar com o ricochete dos “sectores conservadores”, escandalizados com quantidade de pele à mostra, ainda por cima a cores (hoje, como o sugere a vaga polémica das últimas semanas sobre uma assistente do Preço Certo, seriam provavelmente os “sectores progressistas” os indignados, o que também indica que em 40 anos o país mudou muito sem deixar de estar mais ou menos no mesmo sítio).
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