Culpa e expiação
Uma narrativa árdua sobre a culpa, a escrita e uma certa ideia de Europa.
Numa entrevista publicada no jornal francês Libération em 1997, Peter Handke dizia, apocalipticamente, que a Europa havia morrido com a Jugoslávia. Passando por alto a dificuldade de comprovar (mais uma vez) o óbito de uma entidade geográfica e política — a Europa — que ninguém sabe muito bem o que seja (e o que tenha sido ou possa vir a ser), a afirmação epitomiza uma década de polémico combate ideológico do autor austríaco, veiculado por livros e artigos de jornais, contra o desmembramento da antiga federação balcânica e a favor dos interesses sérvios na região. Ou a favor da ideia ou “fantasia”, como se diz neste livro, “de um grande país coeso nos Balcãs”. Peter Handke nasceu em 1942, em Griffen, na Áustria. O pai biológico era um soldado alemão que o escritor só viria a conhecer em adulto. A mãe, que se suicidou em 1971, era originária da Eslovénia, integrando portanto a minoria eslava da Caríntia, herança identitária que Handke passou a determinada altura a reivindicar como sua e sobre a qual viria a fundar o seu desacordo com o desmantelamento, a partir de 1991, da federação jugoslava.
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