Quem pára os ingleses no Euro 2020?

A selecção britânica apurou-se neste sábado para a meia-final do Europeu. Bateu a Ucrânia e terá pela frente a Dinamarca.

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Reuters/ALESSANDRO GAROFALO

Ontem, escreveu-se que ninguém pára a Itália. Hoje, escreve-se que ninguém para a Inglaterra. A selecção britânica apurou-se neste sábado para as meias-finais do Euro 2020, com uma goleada (4-0) frente à Ucrânia. E os fervorosos ingleses já podem dizer, sem grande pudor, que este é o melhor Europeu de sempre da sua selecção no binómio resultados-exibições.

E quem pára esta Inglaterra? Até ver, ninguém. Além da qualidade e solidez demonstradas, tanto a meia-final (frente à luminosa Dinamarca, na próxima quarta-feira) como a final serão jogadas em Londres, no estádio de Wembley, numa espécie de final four em casa inglesa. Não há como fugir: esta Inglaterra, crónica precursora de redondos fracassos, está no caminho para a glória.

À entrada para o Euro 2020, nomes como Pickford, Walker, Stones, Maguire ou Shaw não eram garantia de solidez defensiva. Não eram, por extensão, o destaque da equipa – esse estava no ataque, com artistas como Kane, Sterling, Sancho, Mount, Grealish, Saka ou Rashford.

Mas o futebol não é matemática. Esta Inglaterra tem nada mais, nada menos do que zero golos sofridos em cinco jogos de Euro 2020. Com registo defensivo imaculado e criatividade ofensiva nem sempre de encher o olho, os ingleses chegaram neste sábado à meia-final pela via que os caracterizou durante muitas décadas: futebol simples.

Não se tratou do famoso kick and rush, longe disso, mas a via para o golo foi clara e directa: três dos quatro marcados foram com cruzamento e finalização. Sem mais.

Kane desbloqueou

Em Roma, a Inglaterra enfrentou uma Ucrânia em 3x5x2, sistema pouco habitual na selecção eslava (que o utilizou apenas frente à Suécia). A aposta do treinador ucraniano, Andriy Shevchenko, saiu ao lado. Yarmolenko, responsável por transformar o 3x5x2 ofensivo num 3x6x1 defensivo, falhou na missão e a equipa esteve permanentemente desequilibrada – os médios saíam de posição para compensar as rápidas variações de flanco inglesas. Além disto, a linha de três pareceu mal trabalhada e algo descoordenada. Neste cenário, não há quem sobreviva. E não sobreviveu a pobre Ucrânia.

Logo aos 4’, Raheem Sterling inventou a jogada na direita e conseguiu isolar Harry Kane, perante os perdidos centrais adversários. O avançado não falhou.

Aos 22’ houve jogada de Sancho, aos 29’ cabeceamento de Kane, aos 33’ remate de Rice e aos 40’ remate de Sterling. Serve esta cronologia para mostrar que, sem ser mandona, a selecção inglesa conseguia controlar tranquilamente a partida, sobretudo pela forma como abria muito os alas, obrigando a Ucrânia, com os alas algo subidos, a esticar demasiado a linha de três centrais. E a aposta em Sancho não terá sido em vão. A ideia de esticar a equipa à largura precisava de alas puros, mesmo que de pés trocados, e isso foi feito na perfeição.

Foi por volta dos 40 minutos que Shevchenko mudou do 3x5x2 para um 4x3x3 e a equipa ucraniana melhorou claramente durante cerca de oito minutos até ao intervalo. Mais bola, mais presença na área, mais criatividade e, essencialmente, melhor ocupação dos espaços. O intervalo veio na pior altura.

A abrir a segunda parte, Shaw bateu um livre para o cabeceamento glorioso de Maguire. Aos 50’, Shaw cruzou para o cabeceamento glorioso de Kane. Aos 63’, Mount cruzou para o cabeceamento glorioso de Henderson. Pela primeira vez, uma equipa marcou três golos de cabeça num jogo do Europeu.

Quem disse que o futebol tinha de ser complexo? Mais: quem disse que Shaw não poderia ser decisivo? A campanha anti-Shaw em alguma opinião pública britânica terá, por estes dias, de ficar na gaveta.

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