Os bons exemplos inspiram bons exemplos

Agora quando tiro os óculos imagino-me a mudar de roupa e quando me chateiam imagino-me a faiscar raios dos olhos.

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@designer.sandraf

Querida mãe,

Mudei. Sou uma Ana diferente. Se tinha algumas dúvidas sobre se as pessoas podem realmente mudar, dissiparam-se. Passei a adorar super-heróis. Os da Marvel! O Super-Homem, o Capitão América, a Wonder Women. Eu que desprezava todo esse mundo e exasperava-me quando as salas de cinema se enchiam de cartazes a anunciar novos filmes deste género, agora rio-me de mim própria ao ver-me vibrar com os novos episódios da Kara Zor, a prima do Super-Homem e que tem também superpoderes.

Pode parecer ridículo mas entusiasmou-me esta consciência de que temos ainda tanto para descobrir em nós mesmos e que nada nos impede de mudar de gostos, de hobbies, de trabalho e de interesses. Vivemos numa sociedade que nos vendeu a especialização, a carreira que começa em A e acaba em B, com o percurso marcado. Numa cultura que pede coerência acima de tudo. Padrões. Standards. Que se componham músicas no mesmo género. Que um pintor não pode trabalhar num banco. Que não calcem Vans se queremos passar por uma pessoa séria, ou que não se vista um vestido decotado e justo se é só para “ficar em casa com os miúdos”. Estou diferente mãe. E amanhã posso mudar outra vez! E mais, agora quando tiro os óculos imagino-me a mudar de roupa e quando me chateiam imagino-me a faiscar raios dos olhos. Sinto-me mais forte e mais determinada e mais capaz de defender alguém, se for caso disso. Espero não precisar de o provar tão cedo.

E a mãe já mudou hoje?


Querida Super-Heroína,

Nunca tive a menor dúvida dos teus poderes, nem da capacidade de fulminares alguém só com um olhar, mas fico muito contente que os tenhas descoberto e estejas pronta a usá-los. Desconfio que foi o mini E. que te permitiu esta paixão, porque é muito mais fácil fazer esse caminho com um convicto super-herói de 3 anos ao lado. Vou fazer uma capa para ti e para ele, é um bom presente de anos.

Mas, sabes, não tenho a mais pequena dúvida de que os bons exemplos inspiram bons exemplos, e que o contrário também é verdade. Quando vejo um filme em que o protagonista é bondoso e dá tudo por tudo para mudar o mundo, saio de lá decidida a ser melhor pessoa, a exigir mais de mim mesma. Já os filmes em que os “maus” ganham, minam a minha fé na humanidade, e servem de pretexto para não sair do sofá, porque não vale a pena.

Obrigada pela epifania de que nos podemos redescobrir e saltitar de interesses e vidas quando nos apetecer, mas confesso que numa verdadeira ressaca da segunda dose da vacina ambiciono apenas um sofá, uma manta, e um filme de super-heróis — o que recomendas a uma principiante que já tem um certificado verde de vacinação e já pode voar para qualquer lado?


No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook Instagram.

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