Para Gini, tudo começou numa zona de prostituição

Em criança, Georginio Wijnaldum sobreviveu ao pecado do bairro de Schiemond, em Roterdão, e foi forçado pela mãe a esquivar-se ao interesse pela ginástica. Hoje, com 30 anos, está a encaminhar, com golos, os Países Baixos para um registo 100% vitorioso no Euro 2020.

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Wijnaldum celebra no Euro 2020 LUSA/Kenzo Tribouillard / POOL

Histórias do Euro:

“Eles jogavam debaixo das casas, nas caves em que era fácil entrar. Aí, havia prostitutas e os seus clientes e chulos, mas também dealers. Havia seringas e preservativos por todo o lado e, por vezes, uma arma. Diziam às crianças para ficarem longe das seringas, porque poderiam ficar doentes. Por vezes, um puto passava com uma ferida de bala, porque tinha estado a brincar com uma. Ouvia-se frequentemente disparos, fossem numa rixa entre traficantes de droga ou numa discussão doméstica que passava o limite”.

Esta é a descrição do local onde Georginio Wijnaldum, médio dos Países Baixos em grande destaque neste Euro 2020, jogava à bola na infância. Pela boca do irmão, os detalhes do ambiente que rodeava “Gini” mostram um contexto tudo menos propício ao sucesso. Ou talvez não. “Se sobrevives ali, sobrevives em qualquer sítio”, disparou Giliano Wijnaldum, ao Guardian, em 2019.

“Gini” Wijnaldum sobreviveu ao bairro de Schiemond, em Roterdão, “galardoado” em 2008 como o “mais desapropriado para crianças” em toda o país, com base na delinquência juvenil, desemprego jovem, mães adolescentes, abuso de crianças e pobreza.

Lá, em Schiemond, os manos Wijnaldum eram conhecidos como os “mooiboys” [os rapazes giros], pelo sorriso e pela personalidade afável, e não tanto pelo talento futebolístico – que era claro, ainda assim.

Wijnaldum, que este Verão se vai juntar ao PSG, depois de ganhar tudo pelo Liverpool, tinha tudo contra si: um ambiente longe de ser amigável, um contexto social duro e até mesmo a falta de paixão… pelo futebol. O então jovem Gini queria ser ginasta, impressionado pelos movimentos tremendos de uma colega de escola, mas a mãe torcia o nariz.

“A minha mãe achava que fazer mortais era demasiado perigoso e poderia magoar as costas a fazer isso. O futebol era mais seguro. E ela na verdade nem pensava em que eu me tornasse profissional, queria mesmo é manter-me longe das coisas loucas das ruas de Schiemond”, explicou Gini Wijnaldum.

O facto é que a insistência da mãe para que Gini fosse para o futebol acabou por levar o jovem para o Sparta de Roterdão – os 45 minutos de caminho para os treinos eram feitos a pé, sempre com a mãe ao lado – e foi lá que o Feyenoord lhe descobriu o talento.

O resto já é bem conhecido. Formou-se no Feyenoord, chegou aos seniores, transferiu-se para o PSV, foi campeão, mostrou o que valia no Newcastle, convenceu o Liverpool a comprá-lo e, em Anfield, ganhou tudo.

Agora, era suposto ir o Barcelona, com tudo praticamente certo, mas o PSG foi mais rápido a fechar o negócio – e Wijnaldum queria ter o futuro definido antes de um Euro 2020 em que já leva três golos (divide a liderança com Ronaldo, Lukaku e Schick) por uns Países Baixos 100% vitoriosos.

Em França, Wijnaldum jogará perante um povo gaulês que, um dia, idolatrou Zinedine Zidane. Também Wijnaldum idolatrou o calvo francês, motivo pelo qual, ainda hoje, gosta de jogar com a camisola 5.

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