Qual é o problema do populismo? Não é ser popular com certeza, até porque isso é bom. As democracias querem-se populares, no sentido em que as populações se revejam nos seus representantes, mas também que os cidadãos participem na vida política activa. Então porque deve a democracia temer o populismo?
O problema dos populismos para a democracia é o que lhes está subjacente. Os ideólogos da democracia imaginaram que no futuro, quando existisse liberdade, um estado de direito e igualdade de oportunidades a democracia jamais iria soçobrar. A democracia seria solidamente implementada pois os cidadãos, conscientes e informados, seguramente tomariam as melhores decisões para as suas comunidades. O problema é que os populismos dos nossos tempos estão a conseguir simplificar a complexidade da realidade. Na ânsia do imediato e do fácil desinformam e manipulam, exploram os nossos impulsos mais básicos, os preconceitos e o ataque aos bodes expiatórios do costume. Então como lidar com este problema? Como pacificar as sociedades, gerar um estado de colaboração, mútuo entendimento e capacidade para resolver problemas complexos associados à vivência comum em espaços partilhados?
Uma solução possível é jogar. Sim, transformar as actividades de aprendizagem e de tomada de decisão colectiva em jogos. Seguir pela via dos jogos permite abordar o problema da participação cívica e política dos cidadãos. Vivemos em sociedades de consumo onde um sem fim de actividades concorrem pelo nosso tempo e atenção. Por isso, conscientes ou não disso, dificilmente iremos perder tempo em coisas desagradáveis. Só o faremos se tiver mesmo de ser. Quando a participação e mobilização social é aborrecida podem ter a certeza de que poucas pessoas irão aparecer. Mobilizamo-nos quando gostamos de algo, quando sentimos que fazemos a diferença, ganhamos alguma coisa ou estamos a combater uma injustiça.
Os populismos servem-se da aversão à perda e da justiça primária, do tudo ou nada feito rapidamente. Tentam mobilizar as pessoas para a restituição de uma idade de ouro passada fictícia ou combater uma injustiça chocante, quase sempre fabricada. O problema é que fazem isso simplificando a realidade ao ponto das soluções propostas serem ainda mais injustas que o problema original. Isso serve apenas os interesses dos dirigentes desses movimentos. O resultado é crescer ainda mais descontentamento com o sistema democrático.
Podemos aprender com os jogos para gerar outro tipo de motivação, em que os processos de participação cívica e política são interessantes, práticos e divertidos. Se esses processos servirem para que os participantes aprendam pela sua própria experiência sobre a complexidade da realidade e a dificuldade da tomada de decisão temos então a nossa solução. Com isto não estou a dizer que temos de transformar tudo em jogos. As eleições, os processos de debate e decisão pública não têm forçosamente de ser jogos, mas podem incorporam elementos jogáveis para serem mais cativantes e eficazes.
Mas também podemos usar jogos directamente. Imaginem que podiam tomar decisões colectivamente sobre o futuro da vossa cidade, sobre os projcetos do vosso bairro enquanto, num ambiente agradável, conheciam quem vive perto de vocês. Através destas iniciativas jogáveis iríamos conhecer os nossos vizinhos, toda a diversidade humana de proximidade. Através destes espaços jogáveis poderíamos fortalecer os laços comunitários, debater e negociar novas soluções, que pudessem gerar empatia, entreajuda e mútua compreensão. Poderíamos compreender melhor a complexidade da realidade e influenciar a tomada de decisão política. Sendo nós os jogadores desta democracia os populismos ficariam sem massa crítica, esvaziados de sentido.
Um exemplo disto está a decorrer em Leiria, através do projecto Urbsecurity (Urbact). Aqui as comunidades locais estão a interagir em ambientes lúdicos, trabalhando e colaborando para melhorar a sua cidade. Estão a jogar para chegar a propostas e resultados sérios. E vocês, também querem jogar?