Kamala Harris avisa migrantes sem documentos: “Não venham para os EUA”
De visita à Guatemala, a vice-presidente dos EUA reafirmou o compromisso do seu país com os planos de desenvolvimento económico na região e anunciou o envio de 500 mil vacinas contra a covid-19.
Numa visita oficial à Guatemala e ao México que tem como pano de fundo os desafios da imigração, a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, anunciou uma série de apoios ao desenvolvimento na região e deixou um aviso claro a quem esteja a pensar em fazer a travessia em direcção ao território norte-americano: “Não venham. Os Estados Unidos vão continuar a impor as nossas leis e a garantir a segurança nas fronteiras. Se vierem, vão ser enviados de volta.”
A primeira visita de Harris ao estrangeiro como vice-presidente dos EUA acontece após meses de um aumento significativo do número de migrantes que tentam entrar no país. Em Abril, mais de 178 mil pessoas chegaram à fronteira entre o México e os EUA, a maioria vinda das Honduras, da Nicarágua e de El Salvador – o maior número num único mês em mais de 20 anos.
Pressionado a enfrentar aquilo a que os seus adversários políticos no Partido Republicano chamam uma “crise na fronteira”, o Presidente Joe Biden atribuiu a Kamala Harris a responsabilidade de encontrar soluções rápidas e respostas a longo prazo com vista à redução do número de migrantes na fronteira com o México – uma situação que não agrada a nenhum eleitorado, nem à direita nem à esquerda, e que pode prejudicar a eleição de candidatos do Partido Democrata a caminho das eleições de Novembro de 2022.
Combate à corrupção
Numa conferência de imprensa ao lado do Presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, Harris disse que é preciso dar “uma palavra de esperança” a quem tenta escapar às consequências da corrupção, dos desastres naturais e das alterações climáticas.
“Vamos tentar eliminar a corrupção onde quer que ela exista. Essa tem sido uma das nossas prioridades para enfrentarmos o problema nesta região”, disse Harris, ao lado de um Presidente guatemalteco acusado pelos seus adversários políticos de sabotar o trabalho do Ministério Público do país.
Entre as promessas de combate aos problemas na sua origem, a vice-presidente dos EUA anunciou planos que já foram postos em prática por outras Administrações norte-americanas, incluindo a do ex-Presidente Donald Trump: treino e operações em conjunto com a polícia e os militares da região no combate ao tráfico de pessoas e ao tráfico de droga; e a promessa de centenas de milhões de dólares destinados ao desenvolvimento económico e ao apoio das comunidades locais.
De acordo com as organizações de defesa dos migrantes, a ajuda financeira que é enviada de Washington raramente chega às populações dos países em causa devido aos elevados índices de corrupção; e o verdadeiro objectivo dos EUA tem sido, ao longo dos anos, reforçar a capacidade dos militares e da polícia de países como a Guatemala para impedirem a saída de pessoas.
Mas a vice-presidente dos EUA fez uma promessa concreta destinada ao combate à pandemia de covid-19, cujas consequências económicas têm contribuído para o aumento do desemprego – o que leva milhares de pessoas a tentarem encontrar melhores condições de vida noutros países, com destaque para os EUA.
Nas próximas semanas e meses, a Casa Branca vai enviar 500 mil doses de vacinas contra a covid-19 e 26 milhões de dólares (21 milhões de euros) em ajuda financeira para a Guatemala.
Desastres naturais
A complexa questão das rotas de migração para os EUA é reduzida, no debate político em Washington, a acusações de maior ou menor aceitação de estrangeiros em território norte-americano.
O Partido Republicano responsabiliza o Partido Democrata pelo aumento do número de migrantes na fronteira com o México, acusando-o de ter transmitido a mensagem, durante a campanha eleitoral de 2020, de que as portas dos EUA estariam abertas se Biden vencesse a eleição.
Do outro lado, o Partido Democrata acusa o ex-Presidente Trump de ter provocado a actual situação, ao criminalizar a entrada em território norte-americano e ao não adequar as instalações ao número de pessoas que se vêem forçadas a aguardar na fronteira.
No terreno, a realidade é muito mais complexa. Para além da covid-19, a América Central – de onde parte a maioria dos migrantes em direcção aos EUA – foi atingida, no último ano e num espaço de duas semanas, por dois furacões que devastaram a região e deixaram centenas de milhares de pessoas deslocadas.
Grande parte da população de países como as Honduras, Guatemala, El Salvador ou Nicarágua – os mais afectados pelos furacões Eta e Iota, em Outubro e Novembro de 2020 – já se debatia, desde sempre, com elevados índices de desemprego e pobreza extrema.
Por seu lado, os governos dos países mais pobres da América Central e da América do Sul acusam os EUA de contribuírem de forma significativa para as alterações climáticas, o que também afecta as economias locais, principalmente os sectores da agricultura e das pescas, e leva ainda mais pessoas a terem de escapar à pobreza.