O espanto dos encontros: Laurie Anderson, James Salter, Julião Sarmento

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Paulo Pimenta

Laurie Anderson pega no violino e, poucas notas depois, silencia o instrumento mas mantendo-o apoiado no ombro. É só o princípio de alguma coisa. Numa voz meio sussurrada, passa às palavras. “Os dias e as noite passadas com ele eram inesquecíveis.” Voltam a ouvir-se notas soltas. Não do violino. Um sintetizador? Parecem cristais. Anderson está diante de uma audiência, o tronco curva-se sobre uma partitura onde há uma história e notas de música. É outra vez a voz dela: “Ela percorria o luxuoso quarto vestida com um robe branco, enquanto ele tomava banho. Ela gostaria de ter ficado com o robe e de levá-lo para casa.” Mais sons cristalinos, dispersos, numa pontuação meio narcótica, hipnótica. A voz prossegue: “Da janela, quase entre ambos, via-se o grande arco, sombrio e brilhante. Tinham trazido o pequeno-almoço. Não havia mais nenhum outro pão como o pão francês fresco — o cheiro que tinha, e então a manteiga! Não havia mais nenhuma luz como a de Paris, embora as previsões dessem chuva. Não havia mais nenhuma vida como esta.”

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