Candidatura próxima da extrema-direita provoca críticas à CDU na Alemanha
Antigo chefe dos serviços de espionagem interna é candidato do partido democrata-cristão num círculo da Turíngia às legislativas de Setembro.
Uma pequena tempestade política está a afectar a União Democrata-Cristã (CDU), o partido da chanceler, Angela Merkel, depois da escolha de um círculo eleitoral da Turíngia ter o antigo chefe dos serviços de espionagem interna, Hans-Georg Maassen, como candidato directo do partido.
Maassen foi alvo de várias suspeitas de colaboração com o partido de direita radical AfD (Alternativa para a Alemanha), e foi ouvido mesmo a propósito de uma alegação de uma antiga activista do partido de que o responsável pela agência de informação interna da Alemanha (BfV) teria aconselhado a AfD sobre os limites a não ser ultrapassados para evitar a vigilância pela sua organização.
Este ano, a AfD foi considerada pelos serviços internos alemães um caso de radicalismo e perigo contra a Constituição, e assim a merecer vigilância dos seus elementos, a AfD desafiou a decisão em tribunal alegando que esta prejudica o partido na corrida às eleições legislativas de Setembro; a vigilância foi entretanto suspensa (excepto para organizações regionais, que se mantém).
Maassen teve ainda actuações e declarações polémicas, como foi o caso de Chemnitz, em que disse que não via provas de perseguições a estrangeiros numa manifestação da extrema-direita (estas foram gravadas em vídeo). Depois de ser afastado do cargo na BfV, em 2018, por causa de suspeitas da sua simpatia pela extrema-direita e de partilhar ideias contra imigrantes, Maassen foi contratado por uma firma de advogados que representou a AfD.
Em 2019, deu uma entrevista sugerindo que uma coligação com a AfD seria uma opção para a CDU no futuro, lembra a Deutsche Welle. A ideia de participar em qualquer executivo com a AfD é tabu para os outros partidos políticos alemães, que invocam a falta de respeito, pelo partido, de valores democráticos básicos.
Na sexta-feira passada, Maassen recebeu 86% dos votos dos membros da CDU na pequena região do Sul da Turíngia (Leste, e estado federado onde vive a figura mais extremista da AfD, Björn Höcke) para ser candidato directo ao Parlamento. Isto quer dizer que tem hipótese de entrar no Bundestag, sublinha a emissora alemã Deutsche Welle.
Esta não é, no entanto, a primeira vez que a CDU sofre com uma acusação de proximidade à AfD, e no mesmo estado federado: no início de 2020, depois das eleições estaduais na Turíngia, a anterior líder do partido, Annegret Kramp-Karrenbauer, ordenou à CDU local para não votar a favor do candidato dos liberais, Thomas Kemmerich, porque se o fizesse, estaria a votar em conjunto com a AfD, e a CDU exclui qualquer entendimento com o partido, rejeitando participar em qualquer maioria que conte com o apoio da AfD.
Os elementos da CDU ignoraram Kramp-Karrenbauer e votaram mesmo em Kemmerich, para evitar um novo executivo do partido de esquerda radical Die Linke, no que foi visto como o quebrar do “cordão sanitário” à volta da AfD. Kemmerich demitiu-se passado um mês, Kramp-Karrenbauer anunciou também que saía da liderança da CDU (o novo chefe do partido, Armin Laschet, só foi escolhido quase um ano depois).
As críticas dentro do partido foram imediatas: “Hans-Georg Maassen é uma figura marginal no espectro democrático, com quem a maioria dos democratas-cristãos tem pouco em comum”, declarou Karin Prien, do conselho nacional da CDU, aos jornais do grupo de media Funke.
Isto acontece ainda quando algumas sondagens têm dado a CDU em queda e os Verdes a conseguir mesmo ultrapassar o partido democrata-cristão. A mais recente sondagem do instituto Kantar dá 27% das intenções de voto aos Verdes, que têm pela primeira vez candidatura própria à chanceleria, 24% à CDU/CSU, 15% ao Partido Social-Democrata (SPD), 11% ao Partido Liberal Democrata (FDP), 10% à AfD, e 7% à Esquerda.