Depois de se ter assumido como transgénero, Elliot Page confessa a Oprah: “Sou realmente capaz de existir”
Na entrevista à apresentadora, que será exibida esta sexta-feira na Apple TV+, o actor recorda a infância, o processo de transição e revela o seu próximo projecto: ser uma voz activa contra a homofobia e transfobia.
Page sempre teve a certeza de que era “100% rapaz”. O que era por dentro e o que queria ser por fora estava claro como água, mas quando lhe diziam que as coisas não eram assim e que não poderia ser assim quando fosse mais velho não compreendia. Afinal, qual era o problema de escrever cartas de amor falsas e assinar como Jason? Nenhuma. Ainda assim, decidiu fechar esse rapaz dentro de si.
Pelo caminho enfrentou episódios de ansiedade, pânico e depressão que o perseguiriam até à transição. Hoje pode enrolar a toalha à cintura quando sai do banho, tocar no peito liso e olhar um corpo que sente finalmente como seu.
Quando, em Dezembro de 2020 revelou que era transgénero, o actor tornou-se na figura masculina trans mais conhecida no mundo. Cinco meses depois e com o objectivo de combater a “desinformação e as mentiras” presentes na legislação norte-americana anti-trans, a estrela do filme Juno resolveu utilizar a comunicação social e tornar-se numa voz activa contra o movimento a homofobia e transfobia. “Esta é a primeira vez que me sinto realmente presente com as pessoas, que posso estar realmente relaxado e não ter uma ansiedade que está sempre a puxar [para baixo]”, afirma numa entrevista à Vanity Fair conduzida pelo jornalista transgénero Thomas Page McBee.
Durante essa conversa, Page revela que foi a “alegria e a excitação” que sente e que em tudo contrasta com o clima de tensão dos movimentos anti-LGBTQ que despertaram em si a necessidade de lutar pelos direitos daquela comunidade. Desde a revelação tornou-se também no primeiro transgénero a aparecer na capa da revista Time e, recentemente, deu uma entrevista a Oprah Winfrey que vai para o ar nesta sexta-feira, dia 30 de Abril, no canal Apple Tv+. “Não quero que soe como: ‘Olhem para mim.’ Não é, de todo isso. Na verdade, eu estava muito nervoso”, começa por contar à apresentadora. “O Partido Republicano quer basicamente destruir as vidas das crianças trans e terminar com a Lei da Igualdade”, denuncia.
É uma luta desigual. Desde que tornou pública a sua história, foram mais 115 os projectos-lei destinados a enfraquecer a comunidade transgénero, limitando os direitos e cuidados de saúde, principalmente às crianças. Destes, oito já foram assinados e uns quantos esperam pelo veredicto dos governadores. Por isso, Elliot Page luta pela criança que escrevia cartas com um nome falso, mas também por todas as outras “100% reais”, diz.
No cinema, enquanto não assumiu que era transgénero e usava o nome Ellie Page, desempenhou papéis femininos, masculinos e também foi mutante. Confessa que nunca conseguiu ver o seu trabalho e foram vários os momentos em que pensou desistir de representar. A transição trouxe-lhe uma “explosão massiva de criatividade” que aproveita a cada segundo. Fez músicas e escreveu, em conjunto com o melhor amigo, o primeiro argumento. Ser uma voz de autoridade no meio de uma guerra cultural é o próximo papel, anuncia.
Texto editado por Bárbara Wong