Apelo público ao Governo para acelerar vacinação contra a covid-19

Mais de quatro dezenas de pessoas lançam um apelo público ao Governo para que este tome as medidas necessárias para uma vacinação mais rápida, de forma a se atinja a imunidade de grupo e se evitem vagas futuras da pandemia.

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Rui Gaudencio

Começou com um grupo de colegas da área da saúde e estendeu-se a outros sectores da sociedade portuguesa. Mais de quatro dezenas de pessoas lançam um apelo público ao Governo para que este tome as medidas necessárias para que o processo de vacinação contra a covid-19 seja mais rápido, de forma a que se atinja a imunidade de grupo e se evitem vagas futuras da pandemia.

No apelo, a que o PÚBLICO teve acesso, os subscritores lembram que para que se atingir a meta de sete milhões de pessoas vacinadas até ao final de Setembro, é preciso que Portugal “receba mensalmente, e sem atrasos, 2,2 milhões de doses das vacinas das marcas que até agora lhe foram disponibilizadas pelas empresas produtoras, e assegure a administração de 75 mil doses por dia, em média, condições que estão longe de ser cumpridas”.

Na lista de assinantes estão vários médicos, entre os quais o ex-presidente da secção sul da Ordem dos Médicos Jaime Teixeira Mendes, biólogos, professores universitários, mas também pessoas ligadas às artes e Forças Armadas, entre outros. Jorge Campos, médico e professor jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa, que é um dos primeiros subscritores juntamente com o engenheiro hospitalar João Durão Carvalho, explica que “este é mais um apelo, uma chamada de atenção ao Governo, de que só conseguimos fazer uma vacinação em massa se tivermos vacinas”.

Foi esta a grande preocupação que os levou a criar e assinar este documento que agora tornam público. Nele salientam que “a vacina contra o vírus responsável pela epidemia Covid-19 é um bem público e o seu bom uso um imperativo de saúde pública e humanitário, incompatível com quaisquer limitações à sua produção, distribuição ou administração”.

O especialista em neurorradiologia lamenta “os altos e baixos” que o processo tem conhecido, provocado pelos problemas de fornecimento que Portugal e outros países europeus têm enfrentado. E que tem deixado a Europa “com níveis inferiores de vacinação quando comparado com os Estado Unidos, Reino Unido, Israel ou Canadá”. As questões relacionadas da Astrazeneca, agora limitada a determinadas idades por causa de eventos raros tromboembólicos, “veio agravar a situação”, refere Jorge Campos, admitindo que a mesma decisão seja tomada em relação à vacina da Johnson & Johnson, ainda que “sem dados concretos dessa ligação”.

É por isso que apelam ao Governo para que tudo faça para acelerar um processo de vacinação. “Os abaixo-assinados exortam o Governo português a tomar com emergência medidas excepcionais para que a vacina seja administrada em tempo útil, designadamente, se necessário, iniciando de imediato diligências para ultrapassar os obstáculos que estejam a impedir a sua produção em território português ou a compra de vacinas a outras entidades produtoras aprovadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”, lê-se no documento.

“É ponto assente que a vacinação é fundamental para controlar a situação”, diz, dando o exemplo dos lares, onde nas últimas semanas não se registaram mortes por covid-19 e com muito menos surtos activos. “A vacinação está a ser lenta e isso significa que está longe de ser satisfatória. Basicamente estamos limitados a duas vacinas que não são suficientes para a demanda. Temos de ver rapidamente outras”, afirma, dando o exemplo da vacina russa que já está a ser usada por alguns países e que está actualmente em avaliação por parte da Agência Europeia dos Medicamentos.

O apelo não é tanto no sentido de quebra de patentes, “que seria complicado e demorado”, mas para que “as agências europeias dos medicamentos sejam mais rápidas nas avaliações de outras vacinas”. O médico deixa ainda o pedido para que “haja um discurso mais similar entre os países, de acordo com bases cientificas”.

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