Camisola Poveira vai ter centro de formação para alavancar internacionalização
Autarca Aires Pereira promete que o preço das camisolas não vai aumentar, apesar de, segundo as artesãs contactadas pelo PÚBLICO, o valor destas peças não lhes garantir um rendimento decente, para o trabalho que dão a fazer.
A Câmara da Póvoa de Varzim vai estabelecer um centro de formação para a produção da típica Camisola Poveira, de forma a promover a comercialização e internacionalização deste produto, anunciou o autarca Aires Pereira. “A ideia é dar alguma profissionalização à produção da camisola, embora não perdendo a sua matriz artesanal. Queremos montar esta valência no Centro Empresarial do Concelho e com isso promover a comercialização e internacionalização deste símbolo cultural do concelho”, disse Aires Pereira.
A autarquia quer dar uma “maior abrangência” às iniciativas de formação e produção que costumam ser desenvolvidas no Museu Municipal e na Junta de Freguesia, atraindo “novas gerações para esta arte”. Isto porque com a recente polémica envolvendo a estilista norte-americana Tory Burch, que copiou a Camisola Poveira e anunciou-o como criação própria, colocando à venda nas suas lojas físicas e na internet, a procura por este artigo disparou na última semana. Artesãs contactadas pelo PÚBLICO, já no sábado, temiam não ser capazes de dar resposta aos pedidos.
“Estamos a preparar uma resposta integrada a esses pedidos, que têm sido muitos. Pretendemos usar as plataformas digitais para criar uma centralidade nas encomendas, mas não abdicamos do cariz artesanal e do padrão de qualidade e história, que será certificado”, explicou o autarca. Aires Pereira lembrou que cada camisola “demora cerca de 50 horas a ser confeccionada” e que o facto de ser um produto artesanal “não pode ser alterado”.
Preço mantém-se
O autarca deixou também a garantia de que o aumento da procura não vai influenciar o preço de venda. Contudo, ao PÚBLICO, uma das artesãs que produz estas camisolas. Desidéria Sousa, explicou que o rendimento de uma peça destas, que não ultrapassa, no caso das camisolas maiores, um euro por hora de trabalho (o que inclui tricotar e bordar), não lhe permite viver delas. Profissional do ramo, apesar dos 75 anos que já leva de vida, Desidéria faz essencialmente peças pequenas, inspiradas na camisola, que lhe rendem um pouco mais de dinheiro.
Habituados a poderem comprar camisolas por valores a rondar os 80 euros - que é muito, para o rendimento médio português, mas que inclui o custo da lã, que pode chegar a 30 euros, e paga mal o trabalho de quem as faz – muitos poveiros já se manifestavam contra a possibilidade de o preço desta peça poder vir a aumentar por causa do episódio com Tory Burch, que as vendia, feitas à máquina, a quase 700 euros, antes de as retirar. Produzir camisolas pode ser mais ou menos dispendiosos dependendo do tipo de fio que é usado – já existem exemplares em algodão, ou em fios de fibras sintéticas, por exemplo – e do seu tamanho.
O município não mostra, contudo, intenção de aumentar o preço de venda do produto nem explica, para já, de que forma conseguirá melhorar o rendimento das artesãs, factor que quem trabalha na área considera essencial para atrair novas pessoas para esta actividade. “Não queremos responder aos pedidos fazendo camisolas em série. Iremos dar resposta dentro da capacidade de produção das pessoas certificadas e que sempre fizeram este trabalho. E os preços vão ser os mesmos que eram cobrados até aqui. Não queremos tirar qualquer vantagem comercial de tudo isto”, vincou o autarca à Lusa.
Acção judicial não está esquecida
O presidente da Câmara da Póvoa de Varzim deu ainda conta de que o processo judicial que o Estado Português está a preparar para interpor na justiça norte-americana contra a estilista Tory Burch, está em andamento. “Estamos em contacto com os juristas do Governo para que a acção seja colocada, tal como foi o compromisso do Ministério da Cultura. Estamos a fornecer toda documentação necessária para tal. Não é algo que será esquecido”, garantiu Aires Pereira.