Histórico, sofrido e com dedicatória: o andebol português vai aos Jogos Olímpicos

Selecção portuguesa venceu a França com um golo nos últimos segundos e vai estar em Tóquio no próximo Verão.

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A festa dos jogadores portugueses em Montpellier IHF
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António Areia diante de Gerrard IHF
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Belone Moreira em suspensão IHF
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Rui Silva no momento do remate que valeu a vitória a Portugal IHF
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Manuel Gaspar na baliza portuguesa IHF

Só por duas vezes a selecção portuguesa esteve no comando frente à França, em Montpellier: aos 39 minutos (18-17, uma vantagem que durou poucos segundos) e aos 59 minutos e 58 segundos, quando Rui Silva, depois de atravessar o campo quase todo em drible, encarou Vincent Gerrard na baliza dos “bleus” e deixou o marcador em 29-28. Desta vez, a diferença não durou poucos segundos, mas vai viver para sempre na história do andebol português, como aquela que qualificou Portugal para os Jogos Olímpicos de Tóquio, no Verão.

Tudo o que se possa dizer sobre a dimensão histórica deste feito justifica-se. Não é nada fácil entrar no torneio olímpico de andebol (apuram-se 12 selecções), como não é fácil entrar na disputa de medalhas olímpicas em qualquer outra das modalidades colectivas. Até à data, apenas a selecção portuguesa de futebol o tinha conseguido, mas agora também o andebol faz parte do clube olímpico, depois de fechar um intenso fim-de-semana de qualificação em Montpellier, em que as emoções andaram por todo o lado.

Portugal não era um dos dois favoritos neste torneio de qualificação olímpica. Pela sua história no andebol, com múltiplos títulos conquistados, França e Croácia estavam no topo da cadeia alimentar num agrupamento de quatro que qualificava dois, enquanto Portugal seria um “outsider” talentoso e a Tunísia bem menos que isso. Mas, tal como aconteceu no último Europeu ou no último Mundial, a selecção de Paulo Jorge Pereira mostrou que já está num patamar superior. Perdeu por um contra a Croácia quando comandou quase todo o jogo, ganhou por um à França depois de ter estado quase sempre atrás.

A jogar em casa e com a qualificação segura (mas não garantida), a França entrou disposta a resolver cedo o jogo, chegando rapidamente a cinco golos de diferença (2-7) e obrigando o seleccionador português a pedir um desconto de tempo antes dos 10 minutos. Portugal não conseguia sequer uma situação de remate, enquanto a França acertava tudo o que atirava à baliza.

Aos 15’, a diferença já era de seis golos para os franceses (5-11) e o jogo parecia estar fora do alcance de Portugal. Não por ser uma diferença irrecuperável ou por haver pouco tempo para jogar, mas porque todos pareciam nervosos, dos mais novos aos mais experientes. Porém, era proibido desistir no jogo mais importante da história do andebol português. E, com alguns ajustes na defesa (a França apenas marcou dois golos nos 15m finais da primeira parte) e menos ansiedade no ataque (Luís Frade e André Gomes foram importantes para manter o marcador a funcionar), a diferença foi descendo até ficar apenas em um golo ao intervalo (12-13).

Nos primeiros segundos da segunda parte, Portugal conseguiu nivelar o marcador pela primeira vez desde o início (13-13) e foi neste equilíbrio que o jogo viveu até aos 39’, quando André Gomes colocou a selecção nacional pela primeira vez em vantagem (18-17). A vantagem durou pouco e o equilíbrio manteve-se, mas a França, com toda a sua experiência e “star power”, conseguiu cavar uma vantagem de três golos à entrada para os últimos quatro minutos (25-28).

A história estava longe de terminar, porém. Dois golos de Victor Iturriza e um de António Areia deixaram o jogo empatado a 42 segundos do fim, com posse de bola para a França, que imediatamente pediu um desconto de tempo. Só precisava de fazer a gestão dos últimos segundos, mas não tinha o investimento emocional que Portugal aplicou neste jogo. Melvin Richardson deixou a bola fugir e Rui Silva apanhou-a no ar. Quatro dribles, três passos, suspensão e remate com o braço direito. A bola só parou no fundo da baliza de Gerrard.

A bola ainda viajou rapidamente até à zona defensiva de Portugal e até entrou na baliza, mas o jogo tinha acabado no segundo anterior. Estava garantida a vitória (a terceira sobre a França nos últimos cinco jogos com os “bleus”) que valia a qualificação portuguesa para os Jogos, mas que também não afastava a França de Tóquio — foi a Croácia, que tinha derrotado a Tunísia na ronda final, a ficar de fora pela diferença de golos.

No final, a dedicatória só podia ser uma, para alguém presente nos braços e nos corações de todos os que estiveram em Montpellier. Paulo Jorge Pereira, um dos grandes responsáveis por esta conquista, lembrou um homem acima de todos, Alfredo Quintana, o guarda-redes que nasceu em Havana e que morreu em Fevereiro passado depois de ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória: “Não conseguimos isto sozinhos. Quero agradecer também ao Quintana. Estes jogadores são realmente guerreiros. Houve ali um momento em que foi difícil gerir a situação. Tivemos de ter alguma sorte.”

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