Plano de desconfinamento devia ter “deixado de fora” datas de abertura, alertam médicos de Saúde Pública

O presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública saúda o facto de o plano de desconfinamento ser faseado. Contudo, acredita que as datas de abertura dos diferentes sectores deveriam ser avaliadas em função da progressão da pandemia.

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Ricardo Mexia, Presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública Daniel Rocha

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, defendeu esta sexta-feira que o plano de desconfinamento devia ter “deixado de fora” as datas em que os sectores vão abrir e indexar essa progressão à evolução da pandemia.

O Governo anunciou nesta quinta-feira as medidas de desconfinamento que vão vigorar entre 15 de Março e 3 de Maio, um processo gradual e que será sujeito a apreciação quinzenal em função da avaliação do risco da pandemia de covid-19.

“O facto de ser faseado é algo que já tínhamos antecipado e que é importante”, bem como “fazer depender essa evolução da evolução epidemiológica”, disse Ricardo Mexia, num comentário à agência Lusa a propósito do plano apresentado.

Mas, sustentou, “talvez não fosse pior ter deixado as datas de fora e indexar essa progressão, que seria quinzenal como de resto parece estar programada, à evolução ou à manutenção dos indicadores em terreno positivo”.

Ricardo Mexia realçou o facto de o plano também identificar “uma forma simplificada de fazer a avaliação de risco”. Contudo, avisou, “não sabemos se vamos conseguir progredir de forma tão célere, ou seja, daquela forma quinzenal em função daquilo que vai ser a evolução dos números”.

O especialista em saúde pública apontou também outro aspecto que poderá ser útil, nomeadamente “ponderar se estas abordagens são exclusivamente nacionais ou se podem ter uma componente, por exemplo regional”, uma vez que “a pandemia em Portugal tem tido velocidades diferentes nas diferentes regiões”.

Ricardo Mexia considerou ainda ser importante reforçar que todo o plano é dependente de uma estratégia de resposta que inclui “uma maior capacidade de testagem” e o alargamento dessa capacidade.

“Nada muda em relação ao uso da máscara ou distanciamento a etiqueta respiratória a higiene das mãos”, salientou o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública.

Adicionalmente, também tem de ser realçado “o papel da vacina”, porque é através do aumento da cobertura vacinal que provavelmente o país vai conseguindo reduzir os riscos para as pessoas que adoecem e a própria disseminação da doença, vincou.

Ricardo Mexia lembrou que “a imunidade de grupo depende de dois factores”, dos que vão sendo vacinados, mas também da do número de pessoas que já desenvolveu a doença.

As medidas da reabertura anunciadas serão revistas sempre que Portugal ultrapassar os “120 novos casos [de infecção] por dia por 100 mil habitantes a 14 dias” ou sempre que o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 ultrapasse o 1.

O plano de desconfinamento, foi apresentado no dia em que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decretou, pela 13.ª vez, a renovação do estado de emergência por mais 15 dias, até 31 de Março, para permitir medidas de contenção da covid-19.

A pandemia de covid-19 já matou 16.650 pessoas em Portugal dos 813.152 casos de infecção confirmados, segundo a Direcção-Geral da Saúde.