Palácio de Buckingham já reagiu: alegações de racismo serão tomadas muito a sério
Harry e Meghan continuam a ser membros da família “muito amados”, avança a BBC citando um comunicado do Palácio.
Depois da entrevista polémica dada pelo príncipe Harry e a mulher, Meghan Markle, no último domingo a Oprah Winfrey, em que foram feitas algumas revelações, o Palácio de Buckingham reagiu, nesta terça-feira, declarando que as alegações de racismo feitas pela ex-actriz norte-americana serão levadas muito a sério e que o casal continua a pertencer à família e são membros “muito amados”, diz a BBC.
As acusações de racismo levantadas pela duquesa de Sussex são “preocupantes” e vão ser tratadas pela família real em privado, garante o Palácio em nome da rainha, em comunicado divulgado pela BBC. Foi dito ainda que que o problema é “levado muito a sério”. Na entrevista dada a Oprah, os duques de Sussex revelaram uma conversa sobre a cor de pele de Archie, que esteve a base da decisão de o filho de ambos não ter o título de príncipe. Porém, Harry disse que nunca vai partilhar essa conversa. Segundo Oprah, essa conversa não foi nem com a rainha nem com o príncipe Filipe.
“Na altura, foi embaraçoso, fiquei um pouco chocado”, recorda Harry, acrescentando que essa conversa aconteceu “logo no início” da relação com Meghan. O Palácio aponta que a forma como cada um guarda ou interpreta as coisas “pode variar” mas que essas acusações são levadas “muito a sério”. É dito ainda que a família real está “triste” ao saber como os últimos anos foram um desafio para o casal. “Harry, Meghan e Archie sempre serão membros da família muito queridos”, cita a BBC.
Segundo os duques de Sussex as regras quanto ao título de príncipe mudaram exactamente quando Meghan Markle estava grávida. Ter ou não o título de príncipe prende-se sobretudo com uma questão de protecção e foi isso que magoou a duquesa. “O título mais importante que alguma vez terei é ‘mãe’. Mas a ideia de o nosso filho não estar seguro e também a ideia de o primeiro membro de cor desta família não ser titulado da mesma forma que os outros netos...”, confessou a uma Oprah chocada com as revelações.
Rainha terá pedido tempo para se pronunciar
Na entrevista, Harry disse que ainda que “estava encurralado dentro do sistema”, como de resto estão os príncipes Carlos e William. “O meu pai e o meu irmão estão encurralados. Não podem sair, e eu tenho uma enorme compaixão por isso.” Esta manhã, Carlos numa visita oficial a um centro de vacinação em Londres, limitou-se a sorrir quando questionado sobre a entrevista, não fazendo qualquer comentário ao assunto. Para já, o comunicado ainda não foi partilhado nas redes sociais da Família Real Britânica, onde, aliás, tudo aparenta a normalidade.
Segundo a Reuters, citando uma fonte da família real, o Palácio defende que este é um assunto de família e que esta deve ter a oportunidade de discutir essas questões em privado, como acontece com as outras famílias. A mesma fonte acrescentou ainda que a resposta emitida foi vista com todo o cuidado e só depois de as pessoas terem assistido à entrevista — foi transmitida primeiro nos EUA, no domingo; e na segunda, no Reino Unido.
O príncipe Harry e a mulher Meghan deram a sua primeira grande entrevista na televisão norte-americana, desde que pediram para se afastar da família real britânica há um ano. A entrevista caiu como uma bomba, já que acusa a monarquia de racismo, insensibilidade e relações familiares tensas. Desde então, avançava a BBC nesta manhã, terão sido marcadas várias reuniões de gestão de crise com membros seniores da família real. A Rainha Isabel II terá recusado assinar um comunicado e esteve reunida com o príncipe Carlos e o filho William, na segunda-feira, alega o Daily Mail. O The Times revela também que a monarca pediu mais tempo para reflectir sobre o assunto, antes de emitir qualquer declaração.
Racismo, saúde mental e relações com a imprensa foram alguns dos temas da entrevista dada pelos duques de Sussex em horário nobre a Oprah. A imprensa britânica foi a primeira reagir com alguns colunistas a serem muito críticos às declarações feitas.
Entrevista alavanca audiências
No domingo, nos EUA, a entrevista foi vista por 17,3 milhões de espectadores. Nesta segunda-feira, no Reino Unido, mais de 12 milhões de pessoas assistiram à transmissão na emissora ITV. No pico do programa estiveram 12,3 milhões de pessoas, enquanto o programa inteiro teve uma média de 11 milhões de espectadores. A entrevista atraiu 54% do público televisivo naquele horário.
O primeiro-ministro britânico foi um dos espectadores, na segunda-feira, confirmou o seu porta-voz nesta terça-feira, acrescentando que não haveria novos comentários ao que o líder britânico já dissera. No início da semana, Boris Johnson salvaguardou que não costuma comentar “assuntos relacionados com a família real”. “Sempre tive a maior admiração pela rainha e pelo papel unificador que desempenha no nosso país e em toda a Commonwealth”, disse em conferência de imprensa, quando questionado sobre a entrevista. “Quanto ao resto, todos os outros assuntos relacionados com a família real, passei muito tempo sem comentar sobre os assuntos da família real e não pretendo afastar-me disso hoje.”
Já do outro lado do AtlÂntico, o presidente dos EUA, Joe Biden, enalteceu a coragem do casal: “Alguém que se apresente e fale sobre o seu combate pela saúde mental e conta a sua história pessoal — isso requer coragem, e isso certamente é algo em que o Presidente acredita”, declarou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, na segunda-feira. “Permitam-me reiterar que temos um relacionamento forte e duradouro com o povo britânico e uma parceria especial com o Governo do Reino Unido numa série de questões, o que continuará”, acrescentou.
Uma baixa de peso
O apresentador Piers Morgan deixou o programa matinal da ITV Good Morning Britain, avança a Reuters. Depois de ter declarado que não acreditava nas declarações de Meghan, o profissional começou por ser advertido pela direcção do canal e, entretanto, a entidade reguladora para os media britânicos abriu um inquérito por causa das suas afirmações, após ter recebido milhares de queixas — contavam-se mais de 41 mil queixas, às 14h desta terça-feira. Ao final da tarde, apresentou a sua demissão.
Morgan, um ex-apresentador da CNN, há muito que critica os duques de Sussex. Desta vez, após a entrevista, declarou que as acções de Harry e Meghan prejudicam a família real e que aqueles procuram beneficiar financeiramente com as suas atitudes sem se quererem submeter ao escrutínio que o trabalho das figuras reais exige. O apresentador pôs em causa as declarações feitas por Meghan durante a entrevista a Oprah. Quando o co-apresentador do programa observou que Meghan dissera que esteve à beira de acabar com a sua própria vida, Morgan respondeu: “Sim, isso é o que ela diz.”
Mais tarde, já esta terça-feira, Piers Morgan retractou-se: “Ainda tenho sérias reservas sobre a veracidade de muito do que ela disse, mas deixe-me apenas registar a minha posição sobre doença mental e suicídio (...) Se alguém está a sentir-se assim, deve receber tratamento e a ajuda de que precisa. E se eles pertencerem a uma instituição como a família real e pedirem essa ajuda, devem recebê-la, absolutamente.” Segundo disse Meghan na entrevista, foi-lhe recusada essa ajuda.
Na manhã desta terça-feira, a directora-executiva da ITV, Carolyn McCall , informava que Morgan era um apresentador freelancer e a ITV não tinha controlo sobre a sua conta no Twitter, que tem 7,7 milhões de seguidores. A responsável declarou que, pessoalmente, acreditava nas palavras de Meghan e que o seu canal está comprometido no apoio à saúde mental. “A ITV tem muitas vozes e tentamos representá-las todos os dias.” Ao final da tarde, a ITV informava que tinha aceitado o pedido de demissão de Morgan.
A ITV terá pago um milhão de libras para transmitir a entrevista e tenciona reutilizar o conteúdo noutros programas, disse ainda Carolyn McCall, de forma a maximizar o valor pago. Nos EUA, a CBS pagou à produtora de Oprah sete milhões de dólares, ou 5,9 milhões de euros, e, segundo a produtora, os duques de Sussex deram a entrevista gratuitamente.